São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reação do Brasil traz surpresa a venezuelano

Em nota, Lula pediu que embaixador se explicasse

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Hugo Chávez, ficou surpreso com a reação da diplomacia brasileira a suas críticas ao Congresso, a propósito da não-renovação da licença da RCTV. Essa avaliação chegou, sem maiores detalhes, à delegação brasileira que partiu ontem de Londres para a Índia, chefiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nem o Itamaraty nem a Presidência escondiam a torcida para que a surpresa de Chávez não se transformasse em réplica à nota oficial divulgada pelo Itamaraty na sexta, expressando repúdio aos comentários do venezuelano -Chávez dissera que o Congresso brasileiro era "papagaio" do americano por emitir um requerimento sobre o fim da licença à RCTV.
No fim do dia, no entanto, o venezuelano voltaria a mirar o Legislativo brasileiro, embora não tenha citado a nota do Itamaraty. Antes do novo ataque, a avaliação da diplomacia brasileira era a de que uma réplica elevaria o tom de um confronto verbal, que, para o chanceler Celso Amorim, até então não existia. O que havia, disse Amorim, eram "arroubos verbais, que, como todos os arroubos verbais, podem refluir". Mas, acrescentou, é preciso "contenção de todos", o que mostra a torcida para que Chávez não levasse avante a troca de críticas.
Amorim contou também que o embaixador Rui Nogueira, chanceler interino, lhe telefonara para dizer que levara a mensagem do Itamaraty ao embaixador da Venezuela no Brasil, Julio García Montoya, com "a força que corresponde".
Amorim mostra extremo cuidado ao comentar o assunto. Tanto que repete, sempre, o termo "supostas declarações" ou "declarações atribuídas" a Chávez, como se elas não tivessem sido de fato feitas. O chanceler sabe que foram porque, para redigir a nota de repúdio, foram cotejadas diferentes notícias sobre o tema.
O governo brasileiro fez também saber a Chávez que não era da conveniência dele levar avante o tiroteio verbal com o Brasil, um dos poucos países latino-americanos de importância com o qual a relação não vinha enfrentando conflitos.
Chávez já se atritou com Alan García (Peru), Álvaro Uribe, (Colômbia), Vicente Fox (ex-presidente do México), José Miguel Insulza, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos e membro do Partido Socialista chileno, no poder. Causou ainda embaraços a Tabaré Vázquez (Uruguai) e Néstor Kirchner (Argentina).
A diplomacia brasileira esperava de Chávez a mesma contenção mostrada no caso do etanol, quando o venezuelano criticara os biocombustíveis mas, depois, anunciou a compra de álcool do Brasil.


Texto Anterior: Chávez volta a mirar Congresso brasileiro
Próximo Texto: Bolívia: Em impasse com Morales, juízes anunciam greve
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.