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Passado alimenta ideologia nacionalista
Explosão do turismo interno na China estimula a recuperação de monumentos que exaltam feitos de antigas dinastias
Ênfase na continuidade histórica combina com apelo à unidade nacional; budismo é tolerado, com imagens em ruas e lojas
EM PEQUIM
Os turistas chineses, em grupos familiares que reúnem dos
avós ao neto único paparicado,
lotam o teatro do Paraíso Tang,
parque recém-inaugurado em
um subúrbio de Xian, para assistir ao musical em cinco atos
"Sonho de Volta às Glórias da
Dinastia Tang". Como o nome
do parque, o espetáculo faz alusão a um dos períodos mais
prósperos da história chinesa,
de abertura comercial e trocas
culturais com o exterior.
O libreto do musical funciona como um resumo de tudo o
que o regime chinês gostaria de
ver associado ao país hoje: "força e prestígio militar", "visão
ampla e tolerância", "paz e
prosperidade". Talvez não seja
coincidência o fato de "A Maldição da Flor Dourada", último
filme do cineasta Zhang Yimou,
responsável pela abertura da
Olimpíada de 2008 em Pequim,
se passar também durante a dinastia Tang (séculos 7 a 10).
A China vive um boom do turismo interno e externo (é o
quarto destino do mundo) e os
chineses que viajam a Pequim
ainda fazem fila para posar sob
o retrato de Mao Tsé-tung que
encima os portões da Cidade
Proibida, antigo palácio imperial fechado à plebe. Mas relíquias de tempos mais antigos,
testemunhas da continuidade
histórica do país, são restauradas e atraem multidões, o que
combina com o apelo oficial à
harmonia e à unidade nacional.
Em Hangzhou, capital da
Província costeira de Zhejiang,
centro turístico e de produção
de seda, uma relíquia budista
encontrada nos escombros do
pagode Leifeng, reconstruído
há cinco anos, é venerada por
fiéis com direito a almofada. Há
altares em lojas e imagens de
budas em ruas comerciais.
O governo reprimiu com violência, em 1999, os adeptos do
culto Falun Gong, mas o filósofo Confúcio (551-459 AC) está
em processo de reabilitação.
Não há nisso, escreveu o acadêmico chinês Henry Zhao, motivo de estranhamento. Os ensinamentos confucianos, que enfatizam a ordem e o equilíbrio,
já haviam sido recriados como
ideologia oficial por várias dinastias imperiais.
Em Xangai, o Museu Histórico transmite um quadro surpreendentemente positivo da
trajetória da cidade, apesar das
concessões territoriais a britânicos, alemães e franceses no
século 19. Está registrado o aviso infame de acesso vedado a
"cães e chineses", mas a mostra
destaca o contato com o exterior como prova da tradição
cosmopolita da metrópole.
Na mansão de Hu Xueyan,
em Hangzhou, os quartos do
comerciante do século 19 e suas
concubinas abrigaram, durante
a Revolução Cultural (1966-1976), 30 famílias. Restaurada,
a casa foi aberta aos turistas.
Em Pequim, há um movimento para salvar o que resta
dos "hutongs", becos em que
moravam gerações de famílias.
A maior parte da velha cidade
plebéia abriu caminho para
avenidas, já nos anos 50, ou para o boom imobiliário recente.
Hoje, na capital como em Xangai, a hierarquia está na idade
dos edifícios. Os pobres e remediados moram em conjuntos de
cinco andares, sem elevador, da
época maoísta. A classe média,
em prédios dos anos 1980, com
o acabamento ainda grosseiro.
Os muito bem-sucedidos, nos
novos condomínios.
(CA)
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