São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China não pode parar de crescer, diz ministro

EM PEQUIM

Em conversa com um grupo de jornalistas da América do Sul e do Caribe, o ministro Cai Wu, do Escritório de Informações do Conselho de Estado, disse que o subdesenvolvimento é um empecilho a eleições diretas em todos os níveis na China e que o país precisa continuar crescendo para superar suas contradições. Abaixo, trechos da entrevista. (CA)

 

CRESCIMENTO
"O desenvolvimento continua sendo nosso grande desafio. Nos últimos dez anos, crescemos a uma taxa anual de 9,7%, algo sem precedentes, mas foi um crescimento sobre uma base deprimida e por isso mais fácil. Queremos chegar a um PIB per capita de US$ 4.000 no ano 2020. Para isso, precisamos manter taxa de crescimento acima de 7%. Esperamos que nenhum grande conflito armado aconteça nesse período para que tenhamos um bom ambiente internacional."

PRESSÃO
"Temos que criar, só nas cidades, 10 milhões de empregos por ano para atender à pressão dos recém-formados. Há 100 milhões de trabalhadores rurais de mão-de-obra excedente. Como convertê-los em trabalhadores urbanos? Nosso sistema de seguridade social está longe de ser perfeito. O serviço de saúde é um problema, especialmente para os agricultores. Com o aumento do preço dos imóveis, temos um grande problema na habitação. Como garantir que todos tenham onde morar? Temos que montar um sistema de segurança social que garanta, por exemplo, o seguro-desemprego."

NEOLIBERALISMO
"Uma sociedade harmoniosa, segundo nossos critérios, é justa, democrática, dinâmica, vive sob o império da lei e em harmonia com a natureza. Ainda não somos uma sociedade harmoniosa, é um objetivo. Nosso objetivo é que todos os chineses possam gozar de uma vida mais próspera. Essa é a diferença entre a China e o neoliberalismo praticado pelos países latino-americanos, que alcançaram algum progresso econômico e abriram suas economias, mas sofreram polarização social, má distribuição da renda e sacrifício da soberania econômica."

CHÁVEZ E FIDEL
"Amigos latino-americanos, de direita e esquerda, acham que mercado e socialismo são incompatíveis, mas podemos afirmar que uma coisa funciona quando a testamos na prática. Hugo Chávez disse que Fidel Castro deveria prestar atenção na experiência chinesa. E ele está prestando atenção na economia socialista de mercado."

MODELO CHINÊS
"O elemento fundamental do sucesso da China foi a adoção de um caminho de desenvolvimento sob as condições chinesas. Esse é o segredo. Não aceitamos imposições nem imitamos outros países. Os países latino-americanos podem seguir esse caminho."

REGIME POLÍTICO
"Temos que desenvolver e melhorar a democracia e o sistema legal. Já criamos o quadro institucional fundamental. O regime não é nem de partido único nem pluripartidário segundo o modelo ocidental, mas de multipartidarismo sob a liderança do Partido Comunista. O PC é o partido governante, mas outros participam da política como seus parceiros. Queremos construir uma democracia de base. Nas aldeias, agricultores têm autonomia para eleger dirigentes. Nas cidades, isso acontece nos bairros e distritos. Não temos condições ainda de realizar eleições diretas em todos os níveis e em todas as regiões do país. Faltam condições de desenvolvimento, cultura e educação."

CULTURA
"Temos que combinar o mercado com a preservação da cultura tradicional. Enquanto nos abrimos para o mundo, temos que nos proteger das más influências e zelar pela cultura chinesa. Deng Xiaoping dizia que, se você abrir uma janela, terá ar fresco, mas também entrarão insetos. Temos que usar uma rede para filtrar isso. Os jovens gostam mais de rock do que de música chinesa, mais de Natal do que da Festa da Primavera, mais do McDonald's do que da comida chinesa."


Texto Anterior: Passado alimenta ideologia nacionalista
Próximo Texto: Censura tenta competir com tecnologia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.