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Conselho de Direitos Humanos da ONU cria missão de apuração
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O Conselho de Direitos Humanos da ONU decidiu ontem enviar uma missão independente a Israel para investigar as circunstâncias da
morte de nove ativistas internacionais por soldados de Israel a bordo do navio turco
Mari Marmara.
O relatório deve ser entregue ao conselho em setembro, quando haverá um debate a respeito e poderão ser
tomadas novas medidas, como a remissão ao Conselho
de Segurança da ONU.
A criação da missão, cujos
integrantes serão nomeados
pelo conselho em Genebra, é
o ponto mais forte de uma resolução aprovada ontem no
conselho com apenas três votos contra (EUA, Itália e Holanda) e que condena Israel
pelo incidente.
Trinta e dois países, inclusive o Brasil, votaram a favor.
Houve nove abstenções.
A resolução usa terminologia dura. Abre afirmando que
"condena nos termos mais
fortes o ultrajante ataque" e
que "deplora profundamente" as mortes. Também chama explicitamente Israel a
suspender já seu bloqueio à
faixa de Gaza, que dura quase três anos.
EUA
Aliados incontestes, os
EUA criticaram o texto, chamando-o de parcial. "Esta resolução diante de nós se
apressa em julgar fatos que,
como nosso debate ontem
[anteontem] deixou claro, estão só começando a ser descobertos e entendidos", afirmou a embaixadora Eileen
Chamberlain Donahoe.
"Ela cria um mecanismo
internacional antes de dar ao
governo responsável a chance de investigar por si, e, assim, há risco de se politizar
uma situação delicada", disse a americana ao votar.
Apesar do voto negativo,
os americanos reafirmaram
que estão "profundamente
preocupados com a perda de
vidas" e que condenam as
ações que levaram a ela, sem
contudo citar Israel. Também
pediram que seja garantida a
distribuição de alimentos e
suprimentos em Gaza.
INVESTIGAÇÃO INTERNA
O efeito da resolução é
questionável, já que o Conselho de Direitos Humanos não
tem poder de impor sanções.
Mas é a instância mais alta da
ONU para o tema, e o seu
mais recente relatório investigativo sobre a ofensiva israelense contra Gaza, redigido pelo juiz Richard Goldstone, foi remetido ao Conselho
de Segurança após forte repercussão.
Goldstone acusou Israel e
o grupo islâmico Hamas, que
governa o território ocupado,
de crimes de guerra durante
o conflito na virada de 2009.
A lição do relatório Goldstone está gerando pressão
em Israel para que seja aberto um inquérito doméstico
que aponte o que deu errado
na operação. Muitos no país
julgam que os danos causados à imagem de Israel pela
investigação poderiam ter sido diluídos se o país tivesse
antecipado e aberto sua própria apuração.
"Desta vez não podemos
esperar, é preciso mostrar logo ao mundo que somos capazes de fazer uma investigação isenta", disse ontem o
deputado Nachman Shai, do
partido de oposição Kadima.
Sua ideia é que o juiz Aharon
Barak, ex-presidente do Supremo israelense, conduza a
investigação.
A pressão por um inquérito interno já havia surgido no
início da semana na voz de
alguns ministros.
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