São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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Candidato a FMI defende o controle de capitais

Mexicano ortodoxo afina discurso para conseguir o apoio do Brasil

Carstens diz que é um pragmático e defende a participação brasileira e latina em cargos no alto escalão da instituição


JULIANA ROCHA
DE SÃO PAULO

Na tentativa de conquistar o apoio do Brasil, o candidato mexicano à direção-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Agustín Carstens, afinou seu discurso econômico com a heterodoxia do governo brasileiro.
Em entrevista à Folha, ele disse que concorda com controle de capitais quando necessário -algo condenado pela antiga cartilha do FMI, mas defendido por alguns para evitar flutuação excessiva da moeda.
Durante a última crise econômica, o Brasil aumentou impostos para desestimular a entrada de dólares.
Depois de se reunir com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ele acredita que o Brasil ainda não decidiu quem vai apoiar na disputa.
A francesa Christine Lagarde é apontada como favorita.
Veja trechos da entrevista

 

Folha - O senhor acha que conseguiu atrair o Brasil, que tende a apoiar Lagarde?
Agustín Carstens -
Minha candidatura é uma tentativa de quebrar uma tradição de 65 anos [de ter um europeu na direção do FMI]. É um grande desafio. Eu não tive essa impressão [de apoio a Lagarde] durante minha conversa com Mantega e Tombini. Nós concordamos com os pontos-chave que definem os desafios do Fundo. Eles estão interessados em um processo aberto, competitivo e baseado no mérito. Pelo que eu entendo, o Brasil ainda não se decidiu.

Quais são esses pontos em comum?
Nós da América Latina precisamos ter uma presença maior na direção do FMI. Segundo, tem que haver uma continuidade nas ações do Fundo [de aumentar o poder de voto dos emergentes]. Terceiro, o Fundo deve preservar uma mente aberta e dar aos países flexibilidade para adotar medidas de controle de capital quando precisarem. Por último, o Fundo deve continuar a trabalhar nos instrumentos para ajudar países a lidar com redução de liquidez no sistema financeiro internacional.

A China também briga por uma posição mais alta no FMI. Nesta disputa, a América Latina ganhará mais espaço?
A América Latina tem todos os méritos para conquistar uma posição mais alta. Eu não quero dizer quem deveria levar o quê. O Brasil é o décimo maior acionista do Fundo e não tem uma só posição nos três primeiros escalões. Até no terceiro escalão existem 24 posições e o Brasil não ocupa nenhuma delas.

Na sua opinião, a Grécia deveria reestruturar sua dívida?
Eu não quero comentar sobre a dívida grega por ser um assunto sensível. Eu diria pela minha experiência em administração de crises que as autoridades gregas devem tomar as decisões difíceis e chegar a uma posição onde os mercados não terão dúvida sobre a sustentabilidade das suas finanças públicas.
Se eles não conseguirem isso, uma reestruturação também não vai resolver o problema. O papel do FMI é apenas ajudar os países a tomar as decisões difíceis.

O senhor, partidário do Consenso de Washington, estaria disposto a aliviar as exigências de austeridade dos países que recorrem ao FMI?
Eu não sei por que as pessoas acham que eu sou ortodoxo. Eu tive sucesso como formulador de políticas e nesse cargo você tem que ser pragmático. O principal desafio é desenhar as melhores políticas para o momento em que restrições políticas que são impostas.

Mais medidas de austeridade são necessárias?
Não é preciso nem dizer que algumas decisões nessa linha precisam ser tomadas. Também acho apropriado um programa bem agressivo de privatizações.

Um latino-americano poderá solucionar a crise europeia?
Certamente eu teria um olhar novo e tenho experiência. Dou o contraexemplo da crise latino-americana, quando o FMI liderado por um europeu conseguiu lidar com a nossa crise. Então, o oposto também funciona.


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