São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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ANÁLISE

Menor crescimento mundial tem componentes salutares

MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O mês de abril foi pródigo em indicadores fracos para a produção industrial em diversos países, emergentes e avançados.
A atividade manufatureira apresentou desaceleração nos EUA, na China e no Brasil, entre outros, suscitando temores de que possa estar em curso uma atenuação da recuperação mundial.
Embora a desaceleração tenha vindo em um momento em que os cenários mais otimistas estejam sendo questionados, é cedo para afirmar que isso aponte para uma perda de sustentação da economia mundial.
Ao menos uma parte da reversão sincronizada dos indicadores tem relação direta com a desorganização das cadeias produtivas mundiais provocada pela tragédia do Japão ocorrida em março.
A paralisação de importantes produtores de partes e componentes, diretamente afetados pelo terremoto e pelo tsunami, repercutiu mundialmente em abril, resultando nas quedas observadas em diversos indicadores.
Diante das evidências de que a atividade no Japão começa a ser lentamente normalizada, é razoável esperar que os efeitos ainda apareçam nos indicadores de maio, embora com menos força do que abril.
Portanto, esta fonte de desaceleração da indústria é temporária, e tende a se dissipar nos próximos meses. Há, entretanto, duas outras fontes de desaceleração que ainda devem afetar os números da indústria nos países emergentes.
A primeira é a adoção de medidas restritivas -nas áreas fiscal e monetária- para conter problemas inflacionários que se alastram rapidamente nessas economias.
A segunda é a valorização das moedas emergentes, influenciada tanto pelo excesso de liquidez global, quanto pela melhoria relativa dessas economias em relação ao mundo avançado.
Essas, no entanto, são fontes de desaceleração salutares. São mecanismos de ajuste necessários para garantir que o quadro de sobreaquecimento que hoje acomete muitas economias, inclusive o Brasil, seja revertido.
Para isso, governos deveriam evitar a tentação de interferir demais nessas engrenagens de ajuste, sacrificando um pouco de crescimento no curto prazo para garantir a estabilidade macroeconômica no médio prazo.
Porém, parece que as virtudes da disciplina e da paciência ainda são mais asiáticas do que latinas.

MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE é economista, professora da PUC-RJ e diretora do IEPE/Casa das Garças


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