São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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"Alternativas no Peru são inaceitáveis"

Pintor Fernando de Szyszlo, um dos maiores intelectuais peruanos, diz que não vai votar na eleição de domingo

Segundo turno será disputado entre Ollanta Humala, de esquerda, e Keiko Fujimori, filha de um ex-ditador do país


PATRÍCIA CAMPOS MELLO
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

Os peruanos que vão às urnas no domingo são os verdadeiros perdedores desta eleição concorrida.
Eles vão votar "em um despreparado que será manipulado por seus assessores de extrema esquerda [Ollanta Humala], ou em uma mulher que nunca fez nada e trará de volta a corrupção e o autoritarismo de seu pai [Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, presidente nos anos 90 e hoje preso por corrupção]".
É assim que Fernando de Szyszlo, 85, o pintor mais reconhecido do Peru e um dos principais intelectuais do país, define o segundo turno da eleição. Abaixo, trechos da entrevista que Szyszlo concedeu à Folha, em sua casa, em Lima.

 

Folha - O sr. diz que não vai votar, pela primeira vez...
Fernando de Szyszlo -
As alternativas são inaceitáveis. Como é obrigatório votar apenas até os 70 anos, não vou votar. No Peru, nós tínhamos três opções de liberais [o ex -presidente Alejandro Toledo, o ex-prefeito de Lima Luis Castañeda e o ex-ministro da Economia Pedro Pablo Kuczynski] que se anularam de tanto se insultar. E nos sobrou uma candidata de extrema direita e um de extrema esquerda.
Há alguns anos, [o Nobel de Literatura] Mario Vargas Llosa disse que decidir entre Keiko e Humala seria como escolher entre câncer terminal e Aids. Mario, que é meu melhor amigo, está agora com a ilusão de que Humala mudou e tem uma posição que não ameaça o livre mercado. É uma ilusão.

E Keiko?
Keiko trará todos os corruptos de volta ao poder. Ela diz que não é igual a seu pai, mas está se beneficiando de seu nome, mantém todas as pessoas que estavam com seu pai no momento mais sinistro de nossa história.

O que representaria a eleição de Keiko?
Voltar a toda a corrupção, ao autoritarismo, à compra dos meios de comunicação. Voltar a imagens de diretores de jornais, de TVs, recebendo montanhas de dólares de integrantes do governo.

E Humala, o que representa?
Eu não acredito em Humala. Quando começou sua carreira política, a única convicção que tinha era um sentimento anti-Chile. Depois, deu-se conta da importância da esquerda para trazer votos. Na primeira vez em que se candidatou, contra Alan García, não tinha apoio da esquerda local, só do dinheiro de Hugo Chávez.
Desta vez, ele tem o apoio dos comunistas peruanos e por mais que ele diga que vai ter força para contê-los, eu não acredito. Temos que decidir entre eleger um despreparado, que vai ser manipulado por seus assessores de esquerda, estatizantes, e uma mulher que não tem história, é filha de Fujimori e vai trazer de volta a corrupção e autoritarismo. E no meio disso, todo o ódio se voltou contra Vargas Llosa.
Ele voltou a Madri, onde vive parte do ano, depois do primeiro turno. Até então, entrávamos nos restaurantes, as pessoas o aplaudiam. Agora, dizem que é um traidor [pelo apoio a Humala].


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