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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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Israelenses expressam ceticismo e cautela em relação ao cessar-fogo

GREG MYRE
DO "NEW YORK TIMES, EM JERUSALÉM

Se você caminha pela rua Jaffa, a deteriorada artéria comercial que corta o centro de Jerusalém Ocidental, raramente encontra um quarteirão que não tenha sofrido um atentado a bomba palestino.
Caso pergunte aos israelenses que trabalham, fazem compras e tomam ônibus na rua se eles têm fé na declaração de trégua dos palestinos, quase todos expressam um pessimismo que, às vezes, parece contradizer os vislumbres de esperança dos últimos dias.
"Todo mundo está falando sobre uma trégua, mas isso não passa de besteira", disse Yona Assaf, professora. Apesar de pensar que os ataques palestinos persistirão, Assaf se recusa a alterar sua rotina. Ela estava saindo de um almoço na pizzaria Sbarro, onde, há dois anos, um suicida matou 15 pessoas, incluindo um brasileiro.
"Entendo que as pessoas que vivem muito longe daqui acreditem que israelenses e palestinos devam conversar e fazer as pazes. Mas, se vive aqui, você não pode fugir da verdade. E creio que a verdade seja que não haverá paz."
Líderes israelenses e palestinos endossaram a iniciativa de paz, e tudo indica que a maioria dos cidadãos de ambos os lados deseje que o novo acordo funcione. Mas o apoio parece se basear mais na eterna esperança e na total exaustão diante do atual conflito do que numa convicção genuína de que os dois lados encontraram a fórmula mágica para a paz.
Uma pesquisa de opinião divulgada nesta semana mostra que 61% dos israelenses e 56% dos palestinos apóiam o novo plano de paz. Mas só 40%, de ambos os lados, crêem que o cessar-fogo venha a conduzir a uma solução política. E só 18% dos palestinos e 6% dos israelenses pensam que a violência cessará totalmente.
O trecho mais ativo da rua Jaffa passou por maior número de ataques sérios do que qualquer outra porção de Israel nos 33 meses de revolta palestina. Os terroristas palestinos executaram nove atentados suicidas a bomba e um atentado suicida a tiros -e explodiram diversos carros-bomba- na rua Jaffa e em ruas vizinhas.
O mais recente atentado suicida na rua matou 17 civis em um ônibus lotado, em 11 de junho. Pétalas de rosa esmaecidas e velas derretidas compõem um memorial informal na calçada, espremido entre dois pontos de ônibus que voltaram a estar lotados.
Os ônibus lotados e o tráfego incessante de pedestres fazem da rua um alvo óbvio, bem como sua proximidade dos bairros árabes de Jerusalém Oriental. Se a trégua acabar com os ataques, Jaffa será uma das áreas mais beneficiadas, mas todos aqui estão céticos.


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