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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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ANÁLISE

Terroristas apostam no fracasso da trégua

JAMES BENNET
DO "NEW YORK TIMES", EM GAZA

A aceitação da trégua pelos terroristas palestinos se baseia na má-fé, e isso pode reduzir suas chances de sucesso.
A trégua é fruto da renovada pressão internacional, depois da Guerra do Iraque. Mas suas raízes são mais profundas e emanam do complexo panorama político da violência palestina, que alimentou o levante iniciado há 33 meses e pode conduzi-lo agora, de modo hesitante, a um final.
Mahmoud Abbas, o premiê palestino mais conhecido como Abu Mazen, preparou uma armadilha para o Hamas e os demais grupos terroristas. Ele espera aproveitar qualquer calmaria resultante do cessar-fogo para extrair concessões de Israel, como as retiradas de Gaza e de Belém, já ocorridas.
Depois, quer empregar o apoio político que espera obter para cumprir o novo plano internacional de paz recolhendo armas e punindo quem violar a trégua, dizem assessores. Mazen não esconde que seu objetivo é transformar o Hamas em partido político e impedir que ele conduza uma política externa própria.
Os líderes do Hamas vêem a armadilha claramente. É por isso que pediram a renúncia de Mazen. Estão apostando que o cessar-fogo fracassará e levará com ele o governo Mazen e o plano de paz promovido pelos EUA, dizem funcionários do governo palestino que negociaram com os terroristas. O Hamas espera que a armadilha de Mazen se volte contra ele, que o conflito seja retomado e que uma solução negociada pareça ainda mais improvável.
O Hamas, neste momento, tem motivos externos e internos para atender ao apelo de Mazen.
A Guerra do Iraque teve papel central, já que os patrocinadores do Hamas na Síria e no Irã sofreram renovada pressão dos EUA e de governos árabes, entre os quais o saudita, para acalmar a região.
"Depois do 11 de Setembro, a resistência palestina perdeu seu apoio internacional", disse Samir al Mashharawi, um dos principais dirigentes do Fatah, a facção de Mazen. "Depois da Guerra do Iraque, perdeu seu apoio árabe".
Internamente, na opinião de aliados de Mazen, a liderança que o Fatah exerceu inicialmente na Intifada legitimou a violência do Hamas. Depois que o levante irrompeu, em setembro de 2000, dizem, demorou meses para que o Hamas desempenhasse um papel de destaque. Agora, com o Fatah apoiando a trégua, restava pouca escolha ao Hamas que não acompanhar o grupo majoritário.
"O envolvimento do Fatah fez do conflito algo nacional", disse Qadoura Fares, legislador do Fatah que negociou, na Síria, a trégua com o Hamas e o Jihad Islâmico. "Se o Fatah está fora, há dois grupos extremistas muçulmanos se opondo a Israel, ao processo de paz e ao Estado palestino. Eles compreendem essas coisas."


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