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ANÁLISE
Terroristas apostam no fracasso da trégua
JAMES BENNET
DO "NEW YORK TIMES", EM GAZA
A aceitação da trégua pelos
terroristas palestinos se baseia na má-fé, e isso pode reduzir
suas chances de sucesso.
A trégua é fruto da renovada
pressão internacional, depois da
Guerra do Iraque. Mas suas raízes
são mais profundas e emanam do
complexo panorama político da
violência palestina, que alimentou o levante iniciado há 33 meses
e pode conduzi-lo agora, de modo
hesitante, a um final.
Mahmoud Abbas, o premiê palestino mais conhecido como Abu
Mazen, preparou uma armadilha
para o Hamas e os demais grupos
terroristas. Ele espera aproveitar
qualquer calmaria resultante do
cessar-fogo para extrair concessões de Israel, como as retiradas
de Gaza e de Belém, já ocorridas.
Depois, quer empregar o apoio
político que espera obter para
cumprir o novo plano internacional de paz recolhendo armas e punindo quem violar a trégua, dizem assessores. Mazen não esconde que seu objetivo é transformar o Hamas em partido político
e impedir que ele conduza uma
política externa própria.
Os líderes do Hamas vêem a armadilha claramente. É por isso
que pediram a renúncia de Mazen. Estão apostando que o cessar-fogo fracassará e levará com
ele o governo Mazen e o plano de
paz promovido pelos EUA, dizem
funcionários do governo palestino que negociaram com os terroristas. O Hamas espera que a armadilha de Mazen se volte contra
ele, que o conflito seja retomado e
que uma solução negociada pareça ainda mais improvável.
O Hamas, neste momento, tem
motivos externos e internos para
atender ao apelo de Mazen.
A Guerra do Iraque teve papel
central, já que os patrocinadores
do Hamas na Síria e no Irã sofreram renovada pressão dos EUA e
de governos árabes, entre os quais
o saudita, para acalmar a região.
"Depois do 11 de Setembro, a resistência palestina perdeu seu
apoio internacional", disse Samir
al Mashharawi, um dos principais
dirigentes do Fatah, a facção de
Mazen. "Depois da Guerra do Iraque, perdeu seu apoio árabe".
Internamente, na opinião de
aliados de Mazen, a liderança que
o Fatah exerceu inicialmente na
Intifada legitimou a violência do
Hamas. Depois que o levante irrompeu, em setembro de 2000,
dizem, demorou meses para que
o Hamas desempenhasse um papel de destaque. Agora, com o Fatah apoiando a trégua, restava
pouca escolha ao Hamas que não
acompanhar o grupo majoritário.
"O envolvimento do Fatah fez
do conflito algo nacional", disse
Qadoura Fares, legislador do Fatah que negociou, na Síria, a trégua com o Hamas e o Jihad Islâmico. "Se o Fatah está fora, há
dois grupos extremistas muçulmanos se opondo a Israel, ao processo de paz e ao Estado palestino.
Eles compreendem essas coisas."
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