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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Objetivos traçados pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante da ONU no país, não foram alcançados

ONU não cumpre metas após 1 mês no Iraque

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello completou ontem seu primeiro mês de trabalho no Iraque -um quarto do mandato-, mas ainda é grande a distância entre os objetivos que anunciara e a realidade.
Analistas apontam que a inesperada dificuldade da autoridade anglo-americana em cuidar da segurança atrapalha a atuação do representante da ONU.
Em 2 de junho, quando chegou a Bagdá, Vieira de Mello afirmou que se concentraria em acelerar a transferência de poder para uma autoridade local. "Como o problema de segurança tem sido tão difícil, isso ficou em segundo plano. Enquanto não houver segurança, o resto não pode ser feito", disse John Hulsman, pesquisador da Heritage Foundation.
"A insegurança tem consequências em todos os esforços para reavivar a sociedade iraquiana. Ele deve estar tão surpreso quanto todos nós com a situação", afirmou Arthur Helton, diretor do Council on Foreign Relations, centro de pesquisas dos EUA.
Em 1º de maio, o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou o fim das principais operações no país. Naquele mês, porém, mais 37 militares da coalizão anglo-americana morreram no Iraque. Junho foi parecido: 33 mortos, em combates e acidentes.

Direitos humanos
Enquanto isso, o brasileiro dedica-se a temas como a questão dos direitos humanos, a área em que trabalha na ONU. Nos últimos três dias, participou de um seminário sobre acerto de contas do passado e recebeu ativistas.
Chamado de "ditador benevolente" em Timor Leste quando chefiou a operação da ONU por lá, Vieira de Mello tem mantido perfil mais discreto no Iraque -só concedeu sua primeira entrevista coletiva na semana passada. Fez três viagens pelo interior. Encontrou-se com líderes políticos e religiosos. Declara ter boa relação com a maior autoridade dos EUA no país, Paul Bremer.
Mas ao menos dois pontos que haviam sido enfatizados na cerimônia de apresentação do brasileiro hoje estão em suspenso.
Vieira de Mello e o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, haviam deixado claro que queriam a volta dos inspetores de armas da entidade ao Iraque. Desde então, porém, os EUA vetaram tal possibilidade.
Outro ponto dizia respeito ao poder da ONU. Em 27 de maio, ao apresentar Vieira de Mello, Annan afirmou que a resolução do Conselho de Segurança não era clara. "Não podemos decidir antes de o senhor Vieira de Mello chegar." Em 22 de junho, porém, foi bem mais cauteloso: "Acho que a resolução indicou sim o papel que a ONU deveria cumprir".
Opina Helton, do Council on Foreign Relations: "Na melhor hipótese, ele [Vieira de Mello] tem sido um conselheiro independente da autoridade [americana]".


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