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IRAQUE OCUPADO
Objetivos traçados pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante da ONU no país, não foram alcançados
ONU não cumpre metas após 1 mês no Iraque
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O diplomata brasileiro Sérgio
Vieira de Mello completou ontem
seu primeiro mês de trabalho no
Iraque -um quarto do mandato-, mas ainda é grande a distância entre os objetivos que anunciara e a realidade.
Analistas apontam que a inesperada dificuldade da autoridade
anglo-americana em cuidar da segurança atrapalha a atuação do
representante da ONU.
Em 2 de junho, quando chegou
a Bagdá, Vieira de Mello afirmou
que se concentraria em acelerar a
transferência de poder para uma
autoridade local. "Como o problema de segurança tem sido tão
difícil, isso ficou em segundo plano. Enquanto não houver segurança, o resto não pode ser feito",
disse John Hulsman, pesquisador
da Heritage Foundation.
"A insegurança tem consequências em todos os esforços para
reavivar a sociedade iraquiana.
Ele deve estar tão surpreso quanto
todos nós com a situação", afirmou Arthur Helton, diretor do
Council on Foreign Relations,
centro de pesquisas dos EUA.
Em 1º de maio, o presidente dos
EUA, George W. Bush, anunciou
o fim das principais operações no
país. Naquele mês, porém, mais
37 militares da coalizão anglo-americana morreram no Iraque.
Junho foi parecido: 33 mortos, em
combates e acidentes.
Direitos humanos
Enquanto isso, o brasileiro dedica-se a temas como a questão dos
direitos humanos, a área em que
trabalha na ONU. Nos últimos
três dias, participou de um seminário sobre acerto de contas do
passado e recebeu ativistas.
Chamado de "ditador benevolente" em Timor Leste quando
chefiou a operação da ONU por
lá, Vieira de Mello tem mantido
perfil mais discreto no Iraque
-só concedeu sua primeira entrevista coletiva na semana passada. Fez três viagens pelo interior.
Encontrou-se com líderes políticos e religiosos. Declara ter boa
relação com a maior autoridade
dos EUA no país, Paul Bremer.
Mas ao menos dois pontos que
haviam sido enfatizados na cerimônia de apresentação do brasileiro hoje estão em suspenso.
Vieira de Mello e o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, haviam deixado claro que queriam a
volta dos inspetores de armas da
entidade ao Iraque. Desde então,
porém, os EUA vetaram tal possibilidade.
Outro ponto dizia respeito ao
poder da ONU. Em 27 de maio, ao
apresentar Vieira de Mello, Annan afirmou que a resolução do
Conselho de Segurança não era
clara. "Não podemos decidir antes de o senhor Vieira de Mello
chegar." Em 22 de junho, porém,
foi bem mais cauteloso: "Acho
que a resolução indicou sim o papel que a ONU deveria cumprir".
Opina Helton, do Council on
Foreign Relations: "Na melhor hipótese, ele [Vieira de Mello] tem
sido um conselheiro independente da autoridade [americana]".
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