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ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
Plano de congressista republicano se concentra em três aspectos principais, diz pesquisador
Direita e Congresso dos EUA querem reforma abrangente da ONU
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O congressista Henry Hyde (republicano), presidente da Comissão de Relações Internacionais da
Câmara dos EUA, lançou, há três
semanas, um projeto de reforma
da ONU que, em seguida, foi
aprovado pela Casa. O texto concentra-se em três eixos principais,
segundo Brett Schaefer, da Fundação Heritage, um influente centro de pesquisas conservador.
"Os pontos mais importantes
do projeto Hyde são as reformas
ligadas ao orçamento regular da
ONU, ao sistema de verificação e
monitoramento dos fundos despendidos e à supressão da Comissão de Direitos Humanos. Ainda
há outros aspectos relevantes,
mas esses são centrais para o Congresso", disse Schaefer à Folha.
Uma das propostas mais controversas diz respeito à suspensão
do pagamento de 50% da contribuição americana para o orçamento regular da ONU se ao menos 32 das 39 reformas não forem
adotadas. Não seria a primeira vez
em que Washington agiria assim,
pois isso ocorreu na década de 90,
porém tal medida minaria seriamente os esforços da organização.
"A verdade é que o lugar mais
sensível numa negociação como
essa é o bolso. Assim, não se pode
descartar a possibilidade de punir
financeiramente a ONU se ela não
for capaz de realizar as reformas
necessárias", avaliou Schaefer.
Nos anos 90, os EUA deixaram
de pagar parte de sua contribuição para o orçamento da ONU
porque exigiam que ele fosse reduzido, o que acabou ocorrendo.
Washington voltou, então, a pagar o que devia, normalizando a
situação em alguns anos.
Atualmente, os EUA são responsáveis por 22% do orçamento
regular, e sua contribuição no ano
fiscal de 2006 será de US$ 439 milhões. Apenas os EUA, o Japão e a
Alemanha arcam com mais de
50% do total, enquanto os 128 países que menos contribuem pagam menos de 1%. Assim, para
Schaefer, é preciso introduzir um
"equilíbrio no sistema de votação
de questões orçamentárias".
"Como sugere Hyde, os Estados
que mais contribuem devem ter
maior peso na votação de temas
relacionados ao orçamento. Afinal, são eles que bancam o sistema", explicou o pesquisador.
O texto de Hyde também pede
que 18 programas da ONU deixem de ser financiados pelo orçamento regular e sigam o exemplo
do Fundo da ONU para a Infância
(Unicef) ou do Programa Mundial de Alimentação, cujo financiamento é específico, não geral.
Outro aspecto crucial do projeto Hyde, de acordo com Schaefer,
é o estabelecimento de um rigoroso sistema de verificação e monitoramento. "Chega de bancar as
aventuras de governos corruptos.
Só devem ter acesso aos fundos
países cujos dirigentes obedecem
a critérios de transparência."
Hyde quer, segundo o pesquisador, que a Comissão de Direitos
Humanos da ONU ("um clube de
debate para ditadores") seja substituída por um Conselho de Direitos Humanos, cujos poderes serão reduzidos. Ademais, seus
"membros deverão absolutamente respeitar os direitos humanos".
Nos últimos anos, com efeito, fizeram parte da Comissão de Direitos Humanos países como a Líbia, o Sudão, o Zimbábue, a China
e Cuba. Todos, segundo a Human
Rights Watch, apresentam um
histórico negativo no que se refere
ao respeito aos direitos humanos.
Além disso, o projeto Hyde defende, para Schaefer, várias outras
mudanças importantes. Entre
elas estão o fortalecimento da
Agência Internacional de Energia
Atômica, uma vasta auditoria no
Departamento de Operações de
Manutenção da Paz, uma definição para o termo "terrorismo" e o
fim da contratação de funcionários por tempo indeterminado.
O texto de Hyde ainda tem de
ser aprovado pelo Senado. Mas o
governo de George W. Bush já
disse opor-se ao plano porque os
EUA "não podem deixar de pagar
sua contribuição para a ONU".
É irrefutável que os EUA querem mudanças radicais no sistema da ONU. Vale lembrar, contudo, que seu futuro embaixador na
entidade ainda não foi definido
porque o indicado por Bush, John
Bolton, é visto como controverso
demais pela oposição democrata.
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