São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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Para analista, resgate é marco que pode deter internacionalização do conflito

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

O resgate de Ingrid Betancourt prova que a Colômbia pode resolver seus problemas sozinha, "sem a ingerência dos EUA, sem a intromissão do [presidente venezuelano] Hugo Chávez".
É isso que afirma o argentino Juan Gabriel Tokatlián, diretor de relações internacionais da Universidade de San Andrés e especialista em Colômbia e América Latina.
No entanto o acadêmico aponta os EUA e sua política de constante apoio à Colômbia como um dos vencedores desse capítulo do conflito com a guerrilha, que também mostra "a debilitação das Farc e o começo do seu ocaso".

 

FOLHA - O que representa o resgate de Betancourt para o conflito?
JUAN GABRIEL TOKATLIÁN -
O fato fortalece o presidente [da Colômbia, Álvaro] Uribe, e sua política de segurança e mostra que talvez agora a Colômbia possa resolver seus problemas sozinha, sem a ingerência dos EUA, sem a intromissão de Hugo Chávez e a interferência de outros países.

FOLHA - A atenção de outros países não contribuiu para esse desenlace?
TOKATLIÁN -
Acho que a liberação de Ingrid é importante para que se possa pôr limite à internacionalização do conflito, que estava se tornando um problema. A atenção de outros países serviu para mostrar o drama colombiano, mas as soluções para o conflito são internas, e esse é o maior exemplo.

FOLHA - Quem ganha e quem perde com essa notícia?
TOKATLIÁN -
Ganham Uribe, a sociedade colombiana e a política de Washington, de apoio permanente ao país. Perdem as Farc, os grupos armados com quem têm vínculos e seus sócios políticos.
Quem não ganha nem perde é o narcotráfico, que sempre se mantém. Apesar de todas essas ações, segundo um informe das Nações Unidas, os cultivos ilegais cresceram 27% na Colômbia no ano passado.

FOLHA - Como será o futuro das Farc?
TOKATLIÁN -
O resgate de Ingrid é o fato político, militar e simbólico recente mais importante nesse conflito armado. Mostra a debilitação das Farc e o começo do seu ocaso. Agora, há duas alternativas. Uma é que o grupo sofra uma debandada geral, que se frature cada vez mais com a perda de suas lideranças centrais. Outra é que o novo líder, Alfonso Cano, como um chefe mais jovem, busque reagrupar a guerrilha para, não agora, mas no futuro, poder negociar em melhores condições -a fim de que a seqüência de derrotas militares não se transforme em uma derrota política.

FOLHA - O resgate favorece o futuro político do presidente Uribe?
TOKATLIÁN -
Neste momento, o melhor para Uribe e para a América Latina é que ele sinta que sua tarefa está cumprida e não apele para medidas inconstitucionais para se "reeleger". Que ele assuma: "Conquistei o meu objetivo".
O processo que permitiu a sua reeleição já se mostrou fraudulento. As reeleições levam a tendências populistas e messiânicas. E o que nós precisamos na América Latina é de mais presidentes e de menos monarcas.


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