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Oficial enganou superiores sobre Jean
Comissão conclui que Andrew Hayman, a maior autoridade britânica em contraterrorismo, omitiu dados sobre morte de brasileiro
Polícia deve agora decidir se haverá punição; relatório da IPCC exime alto comissário, mas vê problemas no modo do órgão tratar informações
NATALIA VIANA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE LONDRES
O comissário-assistente da
Polícia Metropolitana de Londres, Andrew Hayman, omitiu
informações importantes sobre o assassinato do brasileiro
Jean Charles de Menezes por
policiais britânicos em julho de
2005 e levou ao erro seu superior, comissário Ian Blair, segundo relatório da Comissão
Independente de Queixas Contra a Polícia (IPCC) divulgado
ontem. O texto aponta "fragilidades significativas" no modo
como a polícia londrina lida
com informações delicadas.
É a primeira vez em dois anos
de investigação que a comissão
aponta um culpado na sucessão
de erros em torno do assassinato do eletricista mineiro e sugere punição. Cabe agora à polícia
decidir que ação tomar contra
Hayman, hoje a principal autoridade de combate ao terrorismo no Reino Unido.
Jean Charles, 27, foi morto
na manhã do dia 22 de julho de
2005 com sete tiros na cabeça
na estação de metrô de Stockwell, sul de Londres. Ele foi
confundido com um dos suspeitos dos ataques terroristas
que mataram 52 pessoas na capital britânica duas semanas
antes. Segundo a polícia, em estado de alerta por conta de uma
tentativa frustrada de atentados na véspera, o suspeito morava no mesmo prédio de onde
Jean havia saído rumo à estação de metrô.
Impunes
O novo relatório resulta de
uma investigação aberta a pedido da família do eletricista. Um
inquérito anterior, que tratou
das circunstâncias da morte em
si, concluiu que nenhum policial poderia ser culpado e punido pelo assassinato. Recomendou apenas que a polícia, como
instituição, respondesse a uma
ação sobre violação da Lei de
Segurança britânica -o que deve ocorrer a partir de outubro.
O documento de 134 páginas
afirma que o comportamento
de Hayman no caso é objeto de
"grave preocupação". A IPCC
concluiu que ele sabia, já na tarde do assassinato, que o morto
não era um dos quatro homens
procurados pela polícia pelos
atentados de 7 de julho. "Está
claro que ele deliberadamente
omitiu a informação, apesar de
ter sido indagado a respeito pelo comissário [Ian Blair]", diz o
texto. "Assim, induziu ao erro o
comissário, oficiais de polícia,
parlamentares e membros do
gabinete com quem se reuniu."
Relatórios anteriores já haviam desmentido que as roupas
e as ações de Jean Charles levantavam suspeitas, como dissera inicialmente a polícia. A
questão ressurge agora. "(A polícia) divulgou informações que
sugeriam que Jean Charles teria atraído para si a sua morte.
Ele não fez nada", afirmou Naseem Malik, da IPCC.
Todos os comunicados emitidos pela polícia no dia 22 afirmavam que ainda não estava
claro se ele era um dos suspeitos de terrorismo. Horas depois
do assassinato, Ian Blair disse à
imprensa que o assassinato estava "diretamente ligado" às
operações antiterroristas e que
Jean teria reagido quando foi
abordado pelos policiais.
Mas o relatório de ontem
conclui que Blair não teve culpa
pelas declarações, pois não teve
acesso a todas as informações
disponíveis. Ele teria sido, segundo Malik, o último a saber:
"Entre os que sabiam da identidade brasileira (de Jean Charles) havia oficiais de vários cargos e funções dentro da hierarquia da Polícia Metropolitana,
oficiais dos Ministérios do Interior e Exterior e membros do
Forum de Segurança Muçulmano. Já se falava até em um
turista brasileiro morto. Ninguém contou ao comissário".
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