São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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Oficial enganou superiores sobre Jean

Comissão conclui que Andrew Hayman, a maior autoridade britânica em contraterrorismo, omitiu dados sobre morte de brasileiro

Polícia deve agora decidir se haverá punição; relatório da IPCC exime alto comissário, mas vê problemas no modo do órgão tratar informações

NATALIA VIANA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

O comissário-assistente da Polícia Metropolitana de Londres, Andrew Hayman, omitiu informações importantes sobre o assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes por policiais britânicos em julho de 2005 e levou ao erro seu superior, comissário Ian Blair, segundo relatório da Comissão Independente de Queixas Contra a Polícia (IPCC) divulgado ontem. O texto aponta "fragilidades significativas" no modo como a polícia londrina lida com informações delicadas.
É a primeira vez em dois anos de investigação que a comissão aponta um culpado na sucessão de erros em torno do assassinato do eletricista mineiro e sugere punição. Cabe agora à polícia decidir que ação tomar contra Hayman, hoje a principal autoridade de combate ao terrorismo no Reino Unido.
Jean Charles, 27, foi morto na manhã do dia 22 de julho de 2005 com sete tiros na cabeça na estação de metrô de Stockwell, sul de Londres. Ele foi confundido com um dos suspeitos dos ataques terroristas que mataram 52 pessoas na capital britânica duas semanas antes. Segundo a polícia, em estado de alerta por conta de uma tentativa frustrada de atentados na véspera, o suspeito morava no mesmo prédio de onde Jean havia saído rumo à estação de metrô.

Impunes
O novo relatório resulta de uma investigação aberta a pedido da família do eletricista. Um inquérito anterior, que tratou das circunstâncias da morte em si, concluiu que nenhum policial poderia ser culpado e punido pelo assassinato. Recomendou apenas que a polícia, como instituição, respondesse a uma ação sobre violação da Lei de Segurança britânica -o que deve ocorrer a partir de outubro.
O documento de 134 páginas afirma que o comportamento de Hayman no caso é objeto de "grave preocupação". A IPCC concluiu que ele sabia, já na tarde do assassinato, que o morto não era um dos quatro homens procurados pela polícia pelos atentados de 7 de julho. "Está claro que ele deliberadamente omitiu a informação, apesar de ter sido indagado a respeito pelo comissário [Ian Blair]", diz o texto. "Assim, induziu ao erro o comissário, oficiais de polícia, parlamentares e membros do gabinete com quem se reuniu."
Relatórios anteriores já haviam desmentido que as roupas e as ações de Jean Charles levantavam suspeitas, como dissera inicialmente a polícia. A questão ressurge agora. "(A polícia) divulgou informações que sugeriam que Jean Charles teria atraído para si a sua morte. Ele não fez nada", afirmou Naseem Malik, da IPCC.
Todos os comunicados emitidos pela polícia no dia 22 afirmavam que ainda não estava claro se ele era um dos suspeitos de terrorismo. Horas depois do assassinato, Ian Blair disse à imprensa que o assassinato estava "diretamente ligado" às operações antiterroristas e que Jean teria reagido quando foi abordado pelos policiais.
Mas o relatório de ontem conclui que Blair não teve culpa pelas declarações, pois não teve acesso a todas as informações disponíveis. Ele teria sido, segundo Malik, o último a saber: "Entre os que sabiam da identidade brasileira (de Jean Charles) havia oficiais de vários cargos e funções dentro da hierarquia da Polícia Metropolitana, oficiais dos Ministérios do Interior e Exterior e membros do Forum de Segurança Muçulmano. Já se falava até em um turista brasileiro morto. Ninguém contou ao comissário".


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