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Socialismo não é tema de diálogo, diz Raúl
Dirigente máximo de Cuba se diz disposto a conversar sobre tudo com os EUA, mas ressalta que não negocia sistema político
Declarações, em discurso a Parlamento cubano, vêm em momento em que ilha sofre para combater efeitos da crise econômica mundial
DA REDAÇÃO
O líder máximo de Cuba,
Raúl Castro, reafirmou, em discurso ao Parlamento cubano,
estar pronto a dialogar sobre
tudo com os EUA, mas que não
está em questão "negociar nosso sistema político e social".
A afirmação, feita em discurso ao Parlamento cubano anteontem à noite, foi uma resposta à declaração da secretária
de Estado americana, Hillary
Clinton, de que os EUA estavam se abrindo ao diálogo com
Havana, mas esperavam ver
mudanças no regime socialista
vigente na ilha há 50 anos.
"Me vejo na obrigação de responder à sra. Clinton e a todos
os que na União Europeia nos
cobram gestos unilaterias em
direção a desmontar nosso regime político e social. Não fui
eleito presidente para restaurar o capitalismo em Cuba nem
para entregar a revolução. Fui
eleito para defender, manter e
continuar aperfeiçoando o socialismo, não para destruí-lo",
disse Raúl, que comanda a ilha
desde 2006, após o afastamento do irmão mais velho, Fidel,
por problemas de saúde.
O discurso em defesa do modelo foi feito em meio a uma
sessão do Parlamento que teve
a crise econômica vivida por
Cuba como principal tema de
debate. O país rebaixou a sua
previsão de crescimento neste
ano de 2,5% para 1,7% e anunciou cortes de despesas nos setores de saúde e educação. A
crise também foi a justificativa
do governo para anunciar, na
sexta, o adiamento do Congresso do Partido Comunista, que
tinha o objetivo de debater mudanças estruturais no regime.
No discurso ao Parlamento,
Raúl reconheceu que, sob o governo de Barack Obama, "é certo que diminuíram a agressividade e a retórica anticubana de
Washington e, depois de seis
anos de suspensão, se retomaram, no último dia 14, as conversas entre ambos os governos
sobre o tema da migração, as
quais se desenrolaram de forma séria e construtiva".
Raúl disse, porém, que outras
medidas de abertura "positivas,
ainda que mínimas" anunciadas por Obama, como o fim das
restrições sobre viagens aos cidadãos americanos com parentes em Cuba e remessas que
eles podem enviar à ilha, "até
este momento não foram implementadas".
"Observamos atentamente a
atitude do novo governo dos
EUA em relação à nossa nação.
O essencial é que o embargo
econômico, comercial e financeiro permanece intacto. Também persiste a injustificada inclusão de Cuba na lista de países promotores do terrorismo."
Raúl foi irônico ao dizer que
em Cuba não há tortura e em
seguida retificar a informação.
"Em Cuba existiu sim, tortura,
mas na base naval de Guantánamo. Ali sim houve tortura, e
isso é parte do território cubano, ainda que não tenhamos sido nós que torturamos", disse,
em referência à base que abriga
um centro de detenção de suspeitos de terrorismo, cuja devolução Havana reivindica.
Apesar das críticas, Raúl reafirmou a disposição "de solucionar nossas diferenças com
os EUA, com absoluta serenidade e sem pressa alguma".
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