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Julgamento de reformistas no Irã é fraude, diz oposição
Para Mousavi, réus foram torturados; ex-candidato conservador ecoa críticos do governo
Cem pessoas, acusadas de liderar os protestos contra fraudes na reeleição de Ahmadinejad, começaram a ser julgadas no sábado
Hossein Salehi Ara/Fars/Associated Press
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Julgamento de acusados de conspirar contra República Islâmica; pena máxima é a de morte
DA REDAÇÃO
O julgamento coletivo iniciado anteontem, no Irã, de cerca
de cem pessoas, acusadas de
planejar, organizar e liderar
manifestações contra o resultado oficial das eleições presidenciais do último dia 12 de junho,
conseguiu unir os principais líderes reformistas do país e até
o ex-candidato conservador
Mohsen Rezaei numa dura crítica à iniciativa do governo.
O ex-presidente Mohammad
Khatami (1997-2005) definiu o
julgamento, em que muitos dos
acusados se disseram culpados
de conspirar contra o atual regime político do país islâmico,
como um "espetáculo" armado,
que tende a "minar o sistema
[político do país] e diminuir
ainda mais a confiança da opinião pública" no governo.
É a primeira vez desde a Revolução Islâmica, de 1979, que
altos funcionários e ex-integrantes do governo e do Legislativo são julgados coletivamente no país, acusados de tentar derrubar o regime. Também
pesam contra eles as acusações
de provocar distúrbio social,
ataque a forças de segurança e
prédios públicos.
Nova sessão do julgamento
está prevista para quinta-feira.
A pena máxima para o crime de
ameaça à segurança nacional é
a condenação à morte.
Khatami tem vários aliados
entre os julgados. O principal
deles é o clérigo reformista Mohammad Abtahi, que foi seu vice-presidente.
Confissão
No sábado, Abtahi se declarou culpado e negou que a eleição tivesse sido fraudada a favor do atual presidente Mahmoud Ahmadinejad -suspeita
que levou manifestantes às
ruas das principais cidades do
país, duramente reprimidos
por forças de segurança.
Segundo as declarações do
clérigo, reproduzidas pela
agência estatal iraniana Fars, a
intenção da tal "mentira" sobre
fraudes eleitorais era "provocar
distúrbios para que o Irã se
converta em um país como o
Afeganistão e o Iraque".
O principal candidato de
oposição a Ahmadinejad, Mir
Hossein Mousavi, disse ontem
que as confissões expostas no
julgamento foram obtidas à
força, fruto de "torturas medievais". "Os torturadores e interrogadores", ele disse, fizeram
vítimas entre pessoas "que
prestaram grandes serviços ao
Irã no passado".
Mousavi, tido antes das eleições como um forte concorrente para Ahmadinejad, teve apenas 33% dos votos, segundo a
contagem oficial, anunciada
horas depois de fechadas as urnas. O atual presidente foi reeleito com 62,7% dos votos, e será confirmado no cargo hoje
pelo líder máximo do país, o
aiatolá Ali Khamenei.
Outro ex-candidato, o conservador Mohsen Rezaei, questionou ontem o julgamento dos
acusados de liderar os protestos contra as eleições e Ahmadinejad. Ex-chefe da Guarda
Revolucionária, ele pediu, em
carta ao Judiciário, que os responsáveis pelas mortes durante os protestos também sejam
levados a julgamento.
Pelo menos 20 pessoas morreram, e dezenas foram presas
em meio à violenta repressão
pelas forças de segurança do
país às manifestações que pediam a anulação do pleito.
Para Rezaei, se os responsáveis por essas mortes não forem julgados, "não haverá justiça e é provável que a insatisfação política não termine".
Com agências internacionais
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