São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

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Julgamento de reformistas no Irã é fraude, diz oposição

Para Mousavi, réus foram torturados; ex-candidato conservador ecoa críticos do governo

Cem pessoas, acusadas de liderar os protestos contra fraudes na reeleição de Ahmadinejad, começaram a ser julgadas no sábado

Hossein Salehi Ara/Fars/Associated Press
Julgamento de acusados de conspirar contra República Islâmica; pena máxima é a de morte

DA REDAÇÃO

O julgamento coletivo iniciado anteontem, no Irã, de cerca de cem pessoas, acusadas de planejar, organizar e liderar manifestações contra o resultado oficial das eleições presidenciais do último dia 12 de junho, conseguiu unir os principais líderes reformistas do país e até o ex-candidato conservador Mohsen Rezaei numa dura crítica à iniciativa do governo.
O ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005) definiu o julgamento, em que muitos dos acusados se disseram culpados de conspirar contra o atual regime político do país islâmico, como um "espetáculo" armado, que tende a "minar o sistema [político do país] e diminuir ainda mais a confiança da opinião pública" no governo.
É a primeira vez desde a Revolução Islâmica, de 1979, que altos funcionários e ex-integrantes do governo e do Legislativo são julgados coletivamente no país, acusados de tentar derrubar o regime. Também pesam contra eles as acusações de provocar distúrbio social, ataque a forças de segurança e prédios públicos.
Nova sessão do julgamento está prevista para quinta-feira. A pena máxima para o crime de ameaça à segurança nacional é a condenação à morte.
Khatami tem vários aliados entre os julgados. O principal deles é o clérigo reformista Mohammad Abtahi, que foi seu vice-presidente.

Confissão
No sábado, Abtahi se declarou culpado e negou que a eleição tivesse sido fraudada a favor do atual presidente Mahmoud Ahmadinejad -suspeita que levou manifestantes às ruas das principais cidades do país, duramente reprimidos por forças de segurança.
Segundo as declarações do clérigo, reproduzidas pela agência estatal iraniana Fars, a intenção da tal "mentira" sobre fraudes eleitorais era "provocar distúrbios para que o Irã se converta em um país como o Afeganistão e o Iraque".
O principal candidato de oposição a Ahmadinejad, Mir Hossein Mousavi, disse ontem que as confissões expostas no julgamento foram obtidas à força, fruto de "torturas medievais". "Os torturadores e interrogadores", ele disse, fizeram vítimas entre pessoas "que prestaram grandes serviços ao Irã no passado".
Mousavi, tido antes das eleições como um forte concorrente para Ahmadinejad, teve apenas 33% dos votos, segundo a contagem oficial, anunciada horas depois de fechadas as urnas. O atual presidente foi reeleito com 62,7% dos votos, e será confirmado no cargo hoje pelo líder máximo do país, o aiatolá Ali Khamenei.
Outro ex-candidato, o conservador Mohsen Rezaei, questionou ontem o julgamento dos acusados de liderar os protestos contra as eleições e Ahmadinejad. Ex-chefe da Guarda Revolucionária, ele pediu, em carta ao Judiciário, que os responsáveis pelas mortes durante os protestos também sejam levados a julgamento.
Pelo menos 20 pessoas morreram, e dezenas foram presas em meio à violenta repressão pelas forças de segurança do país às manifestações que pediam a anulação do pleito.
Para Rezaei, se os responsáveis por essas mortes não forem julgados, "não haverá justiça e é provável que a insatisfação política não termine".


Com agências internacionais


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