São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2010

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Defesa de iraniana teme ser tarde para ofertar asilo

Líder de ação anti-Irã diz que gesto brasileiro pode ter demorado demais

Sakineh aguarda morte por apedrejamento pelo crime de adultério; filho diz ter sido avisado de que caso seria revisto


MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Mesmo após ter oferecido asilo a Sakineh Ashtiani para que ela escape da pena de morte por apedrejamento, o presidente Lula continua sendo alvo de críticas dos defensores da viúva iraniana.
A oferta de Lula, feita no sábado no palanque de campanha da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, não teve reação pública por parte de Teerã, mas repercutiu na imprensa local e deu esperanças à família.
A iraniana Mina Ahadi, diretora da ONG que coordena a campanha em favor de Sakineh, disse que o apoio de Lula é importante, mas demorou. "Lula se diz próximo do presidente [do Irã] Mahmoud Ahmadinejad, a quem chama de irmão, mas jamais falou das violações de direitos humanos", disse, da Alemanha, onde vive exilada.
As críticas de Lula à pena de morte no Irã e a oferta de abrigar Sakineh no Brasil significaram uma reviravolta na posição do presidente. Dias antes, ele havia se negado a aderir à campanha pela libertação, dizendo ser "avacalhação" interferir em assuntos legais de outros países.
No domingo, o "Guardian" noticiou que Sajjad, filho de Sakineh, recebeu um telefonema de autoridades iranianas pouco após o discurso de Lula. Segundo Sajjad, em tom ameno, indicaram que o caso da sua mãe seria tratado nesta semana. Sakineh, 43, que já levou 99 chibatadas por manter "relacionamento ilícito" com dois homens, foi condenada à morte por apedrejamento pelo crime de adultério. O temor é o de que ela não seria apedrejada, mas enforcada.
"Temos de esperar a reação das autoridades, porque as declarações têm natureza política, e o que nós precisamos é uma decisão legal", disse Ahadi. A prudência faz sentido, sobretudo diante da reação crítica surgida no site Jahan News, próximo dos setores mais conservadores do poder iraniano. Para o site, ao oferecer asilo, Lula "interferiu nos assuntos internos".
Até ontem, a Embaixada do Brasil no Irã não recebera nenhuma notificação oficial do governo sobre a oferta. Na Argentina, o chanceler Celso Amorim disse ter pedido há duas semanas ao seu homólogo iraniano, Manouchehr Mottaki, que o país persa perdoasse Sakineh.
"Ele ouviu com atenção, não posso dizer que tenha concordado ou não. Em outras vezes que fiz a mesma coisa, houve resultados." Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley, respaldou a ação brasileira e disse esperar que o Irã "a escute".

Colaborou GUSTAVO HENNEMANN



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