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Defesa de iraniana teme ser tarde para ofertar asilo
Líder de ação anti-Irã diz que gesto brasileiro pode ter demorado demais
Sakineh aguarda morte por apedrejamento pelo crime de adultério; filho diz ter sido avisado de que caso seria revisto
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Mesmo após ter oferecido
asilo a Sakineh Ashtiani para
que ela escape da pena de
morte por apedrejamento, o
presidente Lula continua
sendo alvo de críticas dos defensores da viúva iraniana.
A oferta de Lula, feita no
sábado no palanque de campanha da candidata do PT à
Presidência, Dilma Rousseff,
não teve reação pública por
parte de Teerã, mas repercutiu na imprensa local e deu
esperanças à família.
A iraniana Mina Ahadi, diretora da ONG que coordena
a campanha em favor de Sakineh, disse que o apoio de
Lula é importante, mas demorou. "Lula se diz próximo
do presidente [do Irã] Mahmoud Ahmadinejad, a quem
chama de irmão, mas jamais
falou das violações de direitos humanos", disse, da Alemanha, onde vive exilada.
As críticas de Lula à pena
de morte no Irã e a oferta de
abrigar Sakineh no Brasil significaram uma reviravolta na
posição do presidente. Dias
antes, ele havia se negado a
aderir à campanha pela libertação, dizendo ser "avacalhação" interferir em assuntos legais de outros países.
No domingo, o "Guardian" noticiou que Sajjad, filho de Sakineh, recebeu um
telefonema de autoridades
iranianas pouco após o discurso de Lula. Segundo Sajjad, em tom ameno, indicaram que o caso da sua mãe
seria tratado nesta semana.
Sakineh, 43, que já levou
99 chibatadas por manter
"relacionamento ilícito" com
dois homens, foi condenada
à morte por apedrejamento
pelo crime de adultério. O temor é o de que ela não seria
apedrejada, mas enforcada.
"Temos de esperar a reação das autoridades, porque
as declarações têm natureza
política, e o que nós precisamos é uma decisão legal",
disse Ahadi. A prudência faz
sentido, sobretudo diante da
reação crítica surgida no site
Jahan News, próximo dos setores mais conservadores do
poder iraniano. Para o site,
ao oferecer asilo, Lula "interferiu nos assuntos internos".
Até ontem, a Embaixada
do Brasil no Irã não recebera
nenhuma notificação oficial
do governo sobre a oferta.
Na Argentina, o chanceler
Celso Amorim disse ter pedido há duas semanas ao seu
homólogo iraniano, Manouchehr Mottaki, que o país
persa perdoasse Sakineh.
"Ele ouviu com atenção, não
posso dizer que tenha concordado ou não. Em outras
vezes que fiz a mesma coisa,
houve resultados."
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley, respaldou a ação brasileira e disse
esperar que o Irã "a escute".
Colaborou GUSTAVO HENNEMANN
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