São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Vice-premiê se encontra hoje com Kofi Annan para discutir a questão; para EUA, proposta não é sincera

Iraque acena com volta de inspeção da ONU

Faleh Kheiber/Reuters
Vista aérea de Bagdá, capital do Iraque, em foto tirada ontem da janela de um helicóptero militar


DA REDAÇÃO

O Iraque admitiu ontem discutir o retorno das inspeções de armas das Nações Unidas com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, numa tentativa diplomática de evitar um ataque dos EUA ao país. O vice-primeiro-ministro iraquiano, Tareq Aziz, afirmou ontem que se reunirá hoje com Annan durante a cúpula Rio+10, em Johannesburgo (África do Sul) para discutir o problema.
A proposta iraquiana foi vista com ceticismo pelos EUA. "O Iraque muda de posição sobre permitir ou não a entrada dos inspetores com a mesma frequência com que [o ditador iraquiano" Saddam Hussein muda de esconderijo", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer.
Os EUA acusam o Iraque de desenvolver armas de destruição em massa e de apoiar grupos terroristas. As inspeções de armas pela ONU, instituídas após o fim da Guerra do Golfo (1991), foram interrompidas em 1998, após o Iraque acusar os inspetores de espionar para os EUA, o que levou americanos e britânicos a lançarem, no fim daquele ano, um forte bombardeio ao país.
Na semana passada, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, havia afirmado que o objetivo do país é "derrubar Saddam Hussein" e que a pressão pelo retorno das inspeções era um tema secundário. No fim de semana, porém, o secretário de Estado, Colin Powell, disse que os EUA querem a volta das inspeções como "um primeiro passo" para resolver a atual crise sem uma nova guerra.
Fleischer negou que as diferenças nos discursos de Powell e Cheney representem uma divisão interna no governo americano em relação ao Iraque.
"A posição do presidente é, claro, que Saddam Hussein precisa cumprir os compromissos feitos após a Guerra do Golfo. Esses compromissos incluem assegurar que o Iraque não possui armas de destruição em massa, e isso significa ter inspetores de armas lá", disse.
"Agora, poderão as inspeções somente garantir que ele não tem armas de destruição em massa? Por isso o secretário de Estado disse que é um primeiro passo."
O Iraque já afirmou no passado que os especialistas da ONU teriam de discutir antecipadamente o que eles buscarão no país antes da retomada das inspeções. O governo iraquiano alega ter abandonado todos os programas de armas banidas.
As declarações de Aziz ontem também levantaram suspeitas no meio diplomático de que teriam como objetivo apenas ganhar tempo e evitar um ataque iminente dos EUA. Anteontem, o próprio vice-primeiro-ministro havia afirmado à TV CNN que o país não considerava como opção a volta dos especialistas sob o comando do chefe da ONU para inspeções de armas, Hans Blix.

Interesse no petróleo
Em Bagdá, Saddam disse que a hostilidade americana encobre uma ambição para controlar as reservas de petróleo da região. "Por que toda essa animosidade americana contra o Iraque?", disse ele, segundo a agência de notícias oficial iraquiana. "Porque os EUA acreditam que, se destruírem o Iraque, controlarão o petróleo do Oriente Médio, que representa 65% das reservas mundiais."
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Igor Ivanov, advertiu ontem os EUA de que o uso da força contra o Iraque prejudicaria a estabilidade da região.
Após se encontrar com o chanceler iraquiano, Naji Sabri, Ivanov disse que a Rússia não tem provas de que o Iraque represente uma ameaça à segurança dos EUA e defendeu o retorno dos inspetores da ONU ao Iraque para verificar se o país tem armas de destruição em massa.

Com agências internacionais

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