São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

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TRAGÉDIA NOS EUA

Jornais do país cobram Bush por lentidão e perguntam como foi possível deixar a catástrofe acontecer

Imprensa reflete perplexidade americana

DO "LE MONDE"

A imprensa americana se pergunta qual será a razão da lentidão do governo em socorrer as vítimas do furacão Katrina. Como explicar a falta de preparo do governo George W. Bush diante de uma catástrofe previsível?
"Como é possível que o governo estivesse tão pouco preparado para uma crise tão anunciada?", indagou o "Washington Post". Enquanto Bush adotava ontem um tom fatalista para dizer que ninguém poderia ter previsto que os diques que deveriam proteger Nova Orleans pudessem estourar, o jornal replicou: "Já faz tempo que os especialistas lançavam alertas sobre a topografia única da cidade e sua vulnerabilidade".
A resposta das autoridades "enfureceu e amargurou dezenas de milhares de pessoas que esperam por ajuda, sendo a maioria delas negras e pobres, e, com frequência, idosas e doentes", acrescenta o jornal. O "USA Today" sublinhou o fato de que os negros e pobres são os mais atingidos pela crise humanitária no sul dos EUA, especialmente na Louisiana. Para o jornal, a responsabilidade pelo caos cabe ao Estado.
"A maioria dos pobres não tem carro, o que os impediu de deixar a cidade. Sem dinheiro, muitos se viram sem ter para onde ir. Pouco instruídos, muitos não compreenderam a importância da ameaça. Com a saúde fraca, muitos eram fracos demais para sobreviver", diz o "USA Today".
Mesmo o "Wall Street Journal", próximo da administração republicana de Bush, avalia que as autoridades são em parte responsáveis pelo caos. "Os americanos às vezes esperam demais de seu governo -como, por exemplo, que ele garanta combustível a preço baixo-, mas eles têm o direito de esperar que ele lhes garanta pelo menos segurança, talvez especialmente, em momentos de crise."
O "New York Times" apontou o dedo da culpa ao fato de a Guarda Nacional ter sido enviada ao Iraque. Um terço dos integrantes da Guarda Nacional da Louisiana está hoje combatendo no Iraque e não pôde participar dos trabalhos de socorro, diz o jornal.

No exterior, estupefação
A imprensa européia é unânime em afirmar que o furacão Katrina trouxe à tona a enorme defasagem entre a superpotência tecnológica dos Estados Unidos e sua incapacidade de garantir a segurança após a devastação provocada pelo Katrina.
"Estarrecida e consternada, a América vê um Terceiro Mundo dentro de suas próprias fronteiras, fracassado e violento", escreve o jornal alemão "Die Welt". "Saqueadores armados humilham os policiais, que trabalham em número inferior ao que é necessário", acrescenta o jornal conservador.
Para o britânico "Daily Mail", a impotência dos EUA é a mesma que o país demonstra no Iraque. "Eis uma superpotência que pode derrubar uma ditadura quando bem entender, mas que está tão afundada nas conseqüências da guerra que se vê incapaz de responder de maneira adequada às dificuldades de dezenas de milhares de seus cidadãos atingidos por uma catástrofe natural."
O mesmo refrão é repetido na Espanha. "O governo Bush parece estar atolado em sua própria incompetência", escreveu o "El País", sublinhando que "essa tragédia também tem uma leitura social".


Tradução de Clara Allain

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