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TRAGÉDIA NOS EUA
Jornais do país cobram Bush por lentidão e perguntam como foi possível deixar a catástrofe acontecer
Imprensa reflete perplexidade americana
DO "LE MONDE"
A imprensa americana se pergunta qual será a razão da lentidão do governo em socorrer as vítimas do furacão Katrina. Como
explicar a falta de preparo do governo George W. Bush diante de
uma catástrofe previsível?
"Como é possível que o governo
estivesse tão pouco preparado para uma crise tão anunciada?", indagou o "Washington Post". Enquanto Bush adotava ontem um
tom fatalista para dizer que ninguém poderia ter previsto que os
diques que deveriam proteger
Nova Orleans pudessem estourar,
o jornal replicou: "Já faz tempo
que os especialistas lançavam
alertas sobre a topografia única da
cidade e sua vulnerabilidade".
A resposta das autoridades "enfureceu e amargurou dezenas de
milhares de pessoas que esperam
por ajuda, sendo a maioria delas
negras e pobres, e, com frequência, idosas e doentes", acrescenta
o jornal. O "USA Today" sublinhou o fato de que os negros e pobres são os mais atingidos pela
crise humanitária no sul dos EUA,
especialmente na Louisiana. Para
o jornal, a responsabilidade pelo
caos cabe ao Estado.
"A maioria dos pobres não tem
carro, o que os impediu de deixar
a cidade. Sem dinheiro, muitos se
viram sem ter para onde ir. Pouco
instruídos, muitos não compreenderam a importância da
ameaça. Com a saúde fraca, muitos eram fracos demais para sobreviver", diz o "USA Today".
Mesmo o "Wall Street Journal",
próximo da administração republicana de Bush, avalia que as autoridades são em parte responsáveis pelo caos. "Os americanos às
vezes esperam demais de seu governo -como, por exemplo, que
ele garanta combustível a preço
baixo-, mas eles têm o direito de
esperar que ele lhes garanta pelo
menos segurança, talvez especialmente, em momentos de crise."
O "New York Times" apontou o
dedo da culpa ao fato de a Guarda
Nacional ter sido enviada ao Iraque. Um terço dos integrantes da
Guarda Nacional da Louisiana está hoje combatendo no Iraque e
não pôde participar dos trabalhos
de socorro, diz o jornal.
No exterior, estupefação
A imprensa européia é unânime
em afirmar que o furacão Katrina
trouxe à tona a enorme defasagem entre a superpotência tecnológica dos Estados Unidos e sua
incapacidade de garantir a segurança após a devastação provocada pelo Katrina.
"Estarrecida e consternada, a
América vê um Terceiro Mundo
dentro de suas próprias fronteiras, fracassado e violento", escreve o jornal alemão "Die Welt".
"Saqueadores armados humilham os policiais, que trabalham
em número inferior ao que é necessário", acrescenta o jornal conservador.
Para o britânico "Daily Mail", a
impotência dos EUA é a mesma
que o país demonstra no Iraque.
"Eis uma superpotência que pode
derrubar uma ditadura quando
bem entender, mas que está tão
afundada nas conseqüências da
guerra que se vê incapaz de responder de maneira adequada às
dificuldades de dezenas de milhares de seus cidadãos atingidos por
uma catástrofe natural."
O mesmo refrão é repetido na
Espanha. "O governo Bush parece
estar atolado em sua própria incompetência", escreveu o "El
País", sublinhando que "essa tragédia também tem uma leitura
social".
Tradução de Clara Allain
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