São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ilhada, brasileira pede a Lula que lhe envie resgate

DO ENVIADO ESPECIAL A HOUSTON

Isolada em seu apartamento no Quarteirão Francês, a carioca Wanda Campos fez um apelo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: quer que o Brasil envie uma equipe de resgate para ela e seu companheiro James. Ela tem comida (pão e atum), água (menos de cinco litros) e medo de sair à rua para entrar em um dos ônibus que ajudam a esvaziar a cidade. Ouviu tiros. Viu grupos saqueando casas, tentando roubar os automóveis em seu prédio. Pede um carro. Ou um helicóptero que pouse em seu estacionamento.
"Estou numa situação desesperadora, com medo dos assaltantes e das invasões. Porque agora que chegaram os helicópteros, eles pararam de saquear e vão começar a invadir os apartamentos. Preciso que o presidente dê atenção ao meu problema. Não tenho carro para sair e fiquei presa. Não tem mais ninguém. Por isso que estou pedindo que me tire daqui, estou apelando ao Lula para que ele me resgate, não me deixe morrer", disse ontem por telefone à Folha.
Campos passou a quinta-feira tentando falar com o presidente da República. Ligou "mais de 40 vezes" para o Planalto, de onde foi transferida para o Itamaraty. "No final, uma menina chamada Patrícia, assistente do ministro, me pediu para falar com o consulado em Houston. O cônsul me ligou e sabe o que ele me sugeriu? Que eu andasse até o Superdome e pegasse um dos ônibus. Não entendo a posição do consulado. Não dá para andar, é muito longe."
A passagem do furacão Katrina destruiu o telhado do prédio em que Campos mora, mas não houve danos a seu apartamento. As redes de água e luz, porém, foram comprometidas e ela precisa usar água da piscina para banho. Os vizinhos desapareceram, diz.


Estou com medo dos assaltantes e das invasões. Não tenho carro para sair e fiquei presa. Não tem mais ninguém

Campos, que tem um filho no Brasil, voltou a Nova Orleans há dois meses, depois de dois anos no Rio de Janeiro tentando montar um projeto cultural. Nos EUA, trabalha com música e poesias.
Um grupo de brasileiros que ela conhecia transferiu para a cidade de Natali uma franquia de fast food e fechou contrato com a Fema (Agência Federal de Administração de Emergências) para preparar café da manhã, almoço e jantar para 650 pessoas.
"Eles estão ganhando dinheiro. Ninguém aqui quer voltar para o Brasil. Tenho documentação, quero ajudar a reconstruir. Só peço que o presidente ajude a me resgatar", disse Campos, falando compulsivamente e sem dormir há dois dias, segundo contou.
Ontem foi o primeiro dia desde a passagem do furacão que as ruas de seu bairro estão tranqüilas. Helicópteros sobrevoam a cidade. "O meu medo é que os vândalos entrem no prédio, não tem ninguém no meu quarteirão, estou sozinha. Os alimentos estão acabando. Não tenho como pedir ajuda ao governo americano. Não consigo chamar a polícia, porque não tem polícia. O governo americano largou nossa cidade sem nada, sem água, sem comida."

Estrangeiros
Como Nova Orleans é uma cidade turística, os consulados temem que entre as vítimas do Katrina estejam seus cidadãos. Para procurá-los, montaram postos nas entradas do Astrodome, em Houston.
O vice-cônsul do Brasil Elson Ayub, enrolado a uma bandeira nacional, anda de um lado para o outro a procura de brasileiros.
"Tentei encontrar uma camisa da seleção, mas ninguém tinha. É uma boa forma de chamar atenção", disse Ayub ao encontrar a reportagem às 23h de quinta-feira.
A colônia brasileira em Nova Orleans é pequena, tem de 30 a 50 pessoas. Por isso, toda a atenção vai mesmo para turistas, como Monica Vassao e Leticia Campos, que até o início da tarde de ontem estariam no lotado Superdome, em Nova Orleans, a espera de um ônibus para deixar a cidade.
Ao que tudo indica, a maioria dos turistas estrangeiros deixou a cidade antes da passagem do furacão Katrina, na manhã de segunda-feira. Apenas quatro ingleses se apresentaram à equipe consular na porta do Astrodome.
Além dos britânicos, havia delegações da União Européia, França, Coréia, Austrália, Canadá, Finlândia, Itália e Noruega.
"Recebemos três pessoas, que foram agora para Baton Rouge. A situação está calma para nós", disse Graeme Wise, vice-cônsul geral da Inglaterra nos EUA.
Sem ter a quem atender, a maioria dos diplomatas acabava auxiliando americanos -buscando cadeiras para os mais velhos, ou orientando doentes. (ID)


Texto Anterior: Ônibus com desabrigados tomba e mata 1
Próximo Texto: Casal de namorados brasileiros se abriga sob marquise de cassino
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.