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TERROR
Premiê britânico nomeia Tariq Ramadan, polêmico intelectual de origem egípcia, como conselheiro contra o extremismo
Blair busca elo com imigrante muçulmano
MARC ROCHE
DO "LE MONDE", EM LONDRES
Como reorganizar o islamismo
britânico depois dos atentados
suicidas de 7 de julho último em
Londres, perpetrados por muçulmanos cidadãos do Reino Unido?
Determinado a enfrentar esse
desafio crucial para o futuro da
sociedade multicultural britânica,
o governo de Tony Blair quer se
dirigir diretamente aos jovens dos
subúrbios que o islamismo radical atrai como militantes, a origem de muitos dos responsáveis
pelos atentados.
A indicação de Tariq Ramadan,
um intelectual suíço de origem
egípcia, como conselheiro do governo britânico para a luta contra
o extremismo islâmico atesta para
essa vontade de estabelecer um
diálogo com os jovens imigrantes.
"Cabe ao governo se dirigir a todas as comunidades, incluindo os
grupos que professam opiniões
diferentes das nossas", confirmou
o Ministério do Interior. A informação já havia sido publicada pelo jornal "Guardian", em 31 de
agosto, que revelou a presença no
país do neto do fundador da Irmandade Islâmica egípcia, jovem
criado em Genebra e cidadão suíço, como parte do grupo de 13
pessoas convidadas a fazer recomendações ao governo sobre o
assunto, até o final de setembro.
Criado na semana passada pelo
Ministério do Interior, esse grupo
de trabalho para o combate ao extremismo, composto por acadêmicos respeitados e representantes de organizações comunitárias,
tem por missão explorar maneiras de impedir que os jovens muçulmanos britânicos optem pelo
extremismo.
A escolha de Tariq Ramadan
como conselheiro oficial de Sua
Majestade é surpreendente. Blair
é o principal aliado dos EUA nas
Guerras do Iraque e do Afeganistão. Em julho de 2004, as autoridades americanas cancelaram o
visto de trabalho do intelectual
suíço, que era professor na Universidade Notre Dame, "em razão
de seu apoio ao terrorismo".
Em 1995, a França proibira que
ele viajasse ao país em razão de
suas posições ambíguas quanto à
situação da religião muçulmana
no país. Porém, pouco antes dos
atentados de 7 de julho, Ramadan
visitou sem problemas o Reino
Unido, para participar de uma
conferência no Centro Islâmico
de Londres, a convite da associação Da'watul Islam, cujo objetivo
é promover a prática da religião
entre os jovens muçulmanos.
Evidentemente, Ramadan teve
de enfrentar ataques dos tablóides
londrinos antes de chegar ao país.
O "Sun", jornal britânico de
maior circulação, afirmou que "o
tom moderado que ele ostenta
empresta uma face razoável ao
terrorismo e influencia os jovens
muçulmanos impressionáveis".
Mas sob o minarete da grande
mesquita do Regent Park, o professor, que se define como "fundamentalista no sentido sacro",
condenou sem reservas os terroristas, a quem definiu como
"marginais".
A recente concessão de uma
bolsa de pesquisa pelo St. Antony's College, parte da Universidade de Oxford, para o ano letivo
de 2005/06, aparentemente teve o
efeito de calar as piores críticas.
Professor convidado do Centro
de Estudos do Oriente Médio na
instituição, Ramadan participará
de seminários e pesquisará sobre
o tema "os muçulmanos diante
do desafio contemporâneo".
Proposto pelo diretor do Centro
de Estudos do Oriente Médio,
Walter Armbrust, um especialista
em cinema egípcio, sua candidatura recebeu apoio do presidente
do St. Antony's, Marrack Goulding, ex-secretário geral adjunto
responsável pelas operações de
paz da ONU.
Além disso, a inclusão do nome
de Ramadan em um artigo da revista americana "Time" sobre os
100 grandes inovadores do século
21, por sua defesa de um islamismo europeu independente, reforçou sua posição como mediador.
Além de Ramadan, o comitê
contará com outras personalidades controvertidas, como o presidente do Conselho Muçulmano
britânico, equivalente ao Conselho do Culto Islâmico da França,
Inayat Banglawa, que no passado
expressou opiniões abertamente
anti-semitas.
Blair resistiu aos protestos das
organizações judaicas e dos editorialistas da imprensa de direita
que queriam que a entrada desse
pensador criticado pela duplicidade de seu discurso no Reino
Unido fosse proibida. Para o primeiro-ministro, há urgência em
contornar os notáveis dessa comunidade de 1,6 milhões de pessoas, distantes da realidade econômica e social dos guetos, e falar
diretamente à população.
Ao escolher Ramadan, Blair
quer solapar o domínio das organizações paquistanesas no Conselho Muçulmano. Fiel ao novo slogan que anunciou em 5 de agosto,
quando apresentou medidas duras para proteger o país contra o
terrorismo, o premiê provou que
"as regras do jogo mudaram".
Tradução de Paulo Migliacci
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