São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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Exposição mostra que Ku Klux Klan ainda vive

Em Londres, fotógrafo exibe resultado de projeto de 8 anos com grupo racista americano

Evento, que ONG considera chocante e necessário, coincide com críticas ao multiculturalismo e à imigração no Reino Unido


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

Em meio às recentes críticas de integrantes do governo Blair e da imprensa ao multiculturalismo e aos imigrantes no Reino Unido, uma exposição em Londres lembra como diferenças culturais e ideológicas podem chegar aos limites do racismo e da xenofobia.
"Geração KKK: Passando a Tocha" traz imagens surpreendentes das atuais atividades daquela que é provavelmente a mais conhecida organização racista do mundo, a americana Ku Klux Klan.
As cenas, registradas entre 1998 e 2002, são parte de um projeto do fotógrafo James Edward Bates, 36, natural do Mississippi, um dos Estados do sul dos EUA onde a KKK teve mais influência e membros.
A exposição mostra que a entidade -atualmente dividida em grupos distintos- continua viva e organizada e retrata a passagem às novas gerações da tradição de supremacia branca, homofobia e nativismo.
"A maioria das pessoas acha que a Klan, que já tem 140 anos, está extinta e vive apenas nos livros e filmes. Mas, apesar do número de membros oscilar ao longo dos anos, ela continua a existir porque as crenças são passadas para as crianças", explica Bates, por e-mail.
Entre cenas de cruzes incandescentes e marchas de integrantes com as inconfundíveis vestes e capuzes brancos, há fotografias mais dramáticas, como a de uma criança de cinco anos observando um boneco infantil negro enforcado numa árvore.
Esta última imagem foi responsável pelo maior risco que Bates correu durante seu trabalho registrando os membros da KKK e suas atividades. "O pai do garoto tinha me autorizado a fotografar, mas, depois que a imagem foi publicada, ele apontou uma arma para a minha cabeça, durante uma passeata da Klan, e disse que iria me matar se visse alguma outra foto de seu filho", conta Bates.

Interação e privacidade
Criado em McComb, no mesmo Mississippi natal, Bates cresceu vendo marchas da KKK em sua cidade e nos municípios vizinhos e diz que a curiosidade despertada pela existência da organização foi o que o levou ao projeto.
"Desde o começo, achei importante documentar as atividades da Klan e apresentá-las de modo real", afirma.
O fotógrafo conseguiu ganhar a confiança do líder de uma das ramificações da KKK e passou a ter acesso a reuniões, passeatas e celebrações, como casamentos.
"Prometi ser verdadeiro e respeitar a privacidade deles. Honrei esses compromissos e ganhei um acesso impossível para os não-membros." Bates afirma que o fato de não comungar da ideologia racista e discriminatória da KKK não o impediu de tocar o seu projeto.
"Nunca menti sobre as minhas crenças. Em algumas ocasiões, evitei confrontos com membros mais agressivos, mas nunca os levei a crer que eu era um deles. Era melhor ser honesto e perder algumas fotos do que perder minha integridade", justifica.
Apesar de ter sido diretamente ameaçado de morte três vezes, Bates afirma que não se assustou a ponto de parar seu trabalho documental, que continua até hoje, já por oito anos. O foco na transmissão das tradições da Ku Klux Klan de pai para filho surgiu naturalmente, à medida que o fotógrafo se infiltrava no grupo.
"No começo, me surpreendi ao descobrir que um terço dos participantes das marchas eram crianças. Os membros acham importante dividir suas crenças e tradições com a próxima geração", diz Bates.

Reação
Em entrevista à imprensa britânica, um porta-voz da Assembléia Nacional Contra o Racismo, baseada em Londres, destacou que as imagens da exposição de Bates eram "chocantes, mas necessárias". "Elas são úteis para deixar as pessoas conscientes dos perigos do racismo em nossa sociedade multicultural", disse Lee Jasper.
As imagens da exposição e outras que compõem o trabalho de Bates podem ser vistas no website www.kkkproject.com.


Geração KKK: Passando a Tocha
Autor:
James Edward Bates
Quando: até 28/10
Onde: SS Robin Gallery, Canary Wharf, Londres


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