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Exposição mostra que Ku Klux Klan ainda vive
Em Londres, fotógrafo exibe resultado de projeto de 8 anos com grupo racista americano
Evento, que ONG considera chocante e necessário, coincide com críticas ao multiculturalismo e à imigração no Reino Unido
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES
Em meio às recentes críticas
de integrantes do governo Blair
e da imprensa ao multiculturalismo e aos imigrantes no Reino Unido, uma exposição em
Londres lembra como diferenças culturais e ideológicas podem chegar aos limites do racismo e da xenofobia.
"Geração KKK: Passando a
Tocha" traz imagens surpreendentes das atuais atividades daquela que é provavelmente a
mais conhecida organização racista do mundo, a americana
Ku Klux Klan.
As cenas, registradas entre
1998 e 2002, são parte de um
projeto do fotógrafo James Edward Bates, 36, natural do Mississippi, um dos Estados do sul
dos EUA onde a KKK teve mais
influência e membros.
A exposição mostra que a entidade -atualmente dividida
em grupos distintos- continua
viva e organizada e retrata a
passagem às novas gerações da
tradição de supremacia branca,
homofobia e nativismo.
"A maioria das pessoas acha
que a Klan, que já tem 140 anos,
está extinta e vive apenas nos
livros e filmes. Mas, apesar do
número de membros oscilar ao
longo dos anos, ela continua a
existir porque as crenças são
passadas para as crianças", explica Bates, por e-mail.
Entre cenas de cruzes incandescentes e marchas de integrantes com as inconfundíveis
vestes e capuzes brancos, há fotografias mais dramáticas, como a de uma criança de cinco
anos observando um boneco
infantil negro enforcado numa
árvore.
Esta última imagem foi responsável pelo maior risco que
Bates correu durante seu trabalho registrando os membros
da KKK e suas atividades.
"O pai do garoto tinha me autorizado a fotografar, mas, depois que a imagem foi publicada, ele apontou uma arma para
a minha cabeça, durante uma
passeata da Klan, e disse que
iria me matar se visse alguma
outra foto de seu filho", conta
Bates.
Interação e privacidade
Criado em McComb, no mesmo Mississippi natal, Bates
cresceu vendo marchas da
KKK em sua cidade e nos municípios vizinhos e diz que a curiosidade despertada pela existência da organização foi o que
o levou ao projeto.
"Desde o começo, achei importante documentar as atividades da Klan e apresentá-las
de modo real", afirma.
O fotógrafo conseguiu ganhar a confiança do líder de
uma das ramificações da KKK e
passou a ter acesso a reuniões,
passeatas e celebrações, como
casamentos.
"Prometi ser verdadeiro e
respeitar a privacidade deles.
Honrei esses compromissos e
ganhei um acesso impossível
para os não-membros."
Bates afirma que o fato de
não comungar da ideologia racista e discriminatória da KKK
não o impediu de tocar o seu
projeto.
"Nunca menti sobre as minhas crenças. Em algumas ocasiões, evitei confrontos com
membros mais agressivos, mas
nunca os levei a crer que eu era
um deles. Era melhor ser honesto e perder algumas fotos do
que perder minha integridade",
justifica.
Apesar de ter sido diretamente ameaçado de morte três
vezes, Bates afirma que não se
assustou a ponto de parar seu
trabalho documental, que continua até hoje, já por oito anos.
O foco na transmissão das
tradições da Ku Klux Klan de
pai para filho surgiu naturalmente, à medida que o fotógrafo se infiltrava no grupo.
"No começo, me surpreendi
ao descobrir que um terço dos
participantes das marchas
eram crianças. Os membros
acham importante dividir suas
crenças e tradições com a próxima geração", diz Bates.
Reação
Em entrevista à imprensa
britânica, um porta-voz da Assembléia Nacional Contra o
Racismo, baseada em Londres,
destacou que as imagens da exposição de Bates eram "chocantes, mas necessárias".
"Elas são úteis para deixar as
pessoas conscientes dos perigos do racismo em nossa sociedade multicultural", disse Lee
Jasper.
As imagens da exposição e
outras que compõem o trabalho de Bates podem ser vistas
no website www.kkkproject.com.
Geração KKK: Passando a Tocha
Autor: James Edward Bates
Quando: até 28/10
Onde: SS Robin Gallery, Canary Wharf, Londres
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