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ARTIGO
Cooperação econômica é caminho para projeto de paz
Israel, Jordânia e os palestinos podem criar corredor de desenvolvimento, paralelo a projeto político; em nossa era, não existe "povo que vive isolado"
SHIMON PERES
DO "HAARETZ"
A chegada de forças da ONU,
incluindo tropas européias, e o
seu posicionamento no sul do
Líbano em companhia de unidades do Exército libanês, são
mudanças que poderiam produzir vantagens estratégicas.
O governo libanês, como a
Autoridade Nacional Palestina,
perdeu o controle de seu território e de suas Forças Armadas.
Ambos deixaram de responder
pela paz ou pela segurança nos
territórios que supostamente
estão sob sua responsabilidade.
Israel deveria apoiar os esforços do governo do premiê libanês, Fouad Siniora, para se tornar a única autoridade territorial e militar no Líbano, e
apoiar o esforço do palestino
Mahmoud Abbas pela existência de "um regime e um Exército", nos termos definidos para o
controle palestino.
As operações de dissuasão
têm por objetivo impedir guerras, mas o objetivo maior continua a ser conquistar a paz plena. As nossas críticas ao terrorismo palestino e ao terrorismo
que vem do Líbano não substituem os esforços para atingir a
paz. Na guerra, como na paz, os
objetivos não mudaram.
O clamor pela devolução de
territórios em troca da paz obteve sucesso em dois casos, o do
Egito e o da Jordânia -e fracassou em dois outros, no Líbano e
junto à Autoridade Nacional
Palestina. Devolvemos ao controle do Líbano todo o território do país, de acordo com a resolução do Conselho de Segurança da ONU, mas não obtivemos paz plena. Retiramo-nos
unilateralmente da faixa de Gaza, mas ela ainda assim continuou a servir de base para ataques de artilharia contra Israel.
Agora que as forças da ONU
estão chegando, surge a esperança de que o outro lado da
equação seja preenchido: paz
plena com o Líbano. Siniora pediu publicamente a paz, e a resposta de Israel deve ser positiva, pública e inequívoca: sim à
paz com o Líbano.
Ponto de interrogação
É verdade que resta um ponto de interrogação quanto à Síria, no que tange à situação no
Líbano. A atual política síria se
caracteriza por flutuações de
ânimo. O pedido de Damasco
para que primeiro Israel aceite
todas as suas condições e só depois os dois países vão à mesa
de negociações é uma proposta
ridícula. Devemos informar à
Síria que, se deseja a paz, precisa ir abertamente à mesa de negociações, sem ultimatos. Foi
isso que aconteceu no caso do
Egito e da Jordânia. É dessa
maneira que começaram as negociações com os palestinos, e é
assim também que começamos
no Líbano. Ainda que em ambos os casos tenha havido altos
e baixos, a possibilidade de sucesso ainda existe.
No que tange aos palestinos,
não é a falta de disposição de
parte de Israel mas a falta de
união entre eles que interrompeu o processo de paz. Os palestinos que desejam a paz não
têm poder para promovê-la, e
os que não desejam uma solução definitiva para sua situação
têm a capacidade de bloquear
os avanços. Foi isso que conduziu a uma situação na qual a tragédia substitui a política.
As divisões entre os palestinos forçaram Israel a encarar
uma situação nada simples.
Manter a política de retirada
unilateral deixou de ser interessante para o público israelense.
Não consigo antever a possibilidade de que uma maioria
dos israelenses aprove uma retirada unilateral da Cisjordânia. Nós expressamos disposição de iniciar negociações com
os palestinos com base em nossas propostas de paz, mas até
agora o Hamas vem impedindo
que eles aceitem a idéia.
Esforço triplo
Existe uma opção adicional
-um esforço triplo que incluiria Israel, a Jordânia e os palestinos. Uma opção que se abriria
com o lado econômico em paralelo com o lado político. Israel,
Jordânia e os palestinos já fecharam acordo para transformar toda a região fronteiriça,
entre o mar Vermelho e o rio
Yarmouk, em um corredor de
cooperação econômica que incluirá fábricas, turismo e agricultura. Além disso, o projeto
possibilitará o transporte de
água do mar Vermelho para o
mar Morto. É preciso ter em
mente que a maioria das mudanças transcorridas no mundo depois da Segunda Guerra
Mundial resultaram de transições econômicas e não de intervenções militares.
Faltam às três partes, no entanto, meios suficientes para
implementar o programa. Mas
o capital mundial que está à
procura de novos mercados e
novas oportunidades, ainda
que acarretem certos riscos,
tem a tendência de apoiar empreendimentos regionais como
esses. Portanto, seria possível
privatizar parte da paz, e não
apenas partes da economia.
Deveríamos, por isso, propor
aos palestinos negociações diplomáticas baseadas na única
alternativa aceitável ao mundo
e aos participantes: o projeto de
paz israelense. Ao mesmo tempo, deveríamos estabelecer
uma região econômica trilateral que ajudaria a aliviar os problemas causados pela crise econômica e financeira (que é um
componente do problema diplomático).
Em nossa era, não existe
mais um "povo que vive isolado". Ciência e tecnologia tornaram todos os países parte de
suas regiões e parte do mundo.
Isso não significa que devamos
abdicar de nossa identidade nacional, mas é possível oferecer
uma oportunidade paralela, e
muito mais rica, ao processo de
paz e às benesses que ele propicia. Não é o passado que nos
pressiona. A pressão que sofremos vem do futuro e isso nós
podemos mudar.
SHIMON PERES, prêmio Nobel da Paz, é vice-primeiro-ministro de Israel
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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