São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2010

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China corre para cumprir meta ecológica

Governo promete até sacrificar o crescimento da economia e lança pacote de eficiência no consumo de energia

País também tenta, sem muito sucesso, reduzir a poluição aérea e a da água, cujos índices não apresentam melhoras

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

No condado de Anping, Província de Hebei, dezenas de milhares de casas ficam sem luz durante 22 horas a cada três dias. Não muito longe dali, dezenas de fábricas estão sofrendo cortes programados de eletricidade, tática repetida em outras duas Províncias.
Parece racionamento, mas é parte de um pacote de medidas de última hora do governo chinês para tentar cumprir a meta, estabelecida em 2005, de aumentar a eficiência do uso de energia em 20% (o cálculo se refere à quantidade de energia usada em relação ao crescimento do PIB). O prazo termina no final de dezembro.
Pequim determinou ainda, no mês passado, o fechamento de 2.000 fábricas consideradas obsoletas, embora em boa parte delas isso tenha significado apenas a paralisação parcial. Já os apagões em áreas residenciais foram suspensos após protestos dos moradores.
"Atingiremos a meta mesmo que signifique perder o crescimento do PIB", disse recentemente o premiê Wen Jiabao.
"Isso mostra que eles estão levando o assunto a sério. Em todos esses anos, outras metas de redução nunca foram atingidas e ninguém se importava", afirmou Ma Jun, diretor do Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais e tido como o ecologista mais respeitado da China.
"Por outro lado, não é sustentável, depois deste ano, tudo voltará ao normal", disse ele à Folha.
O resgate da economia mundial pela China é a principal responsável pela dificuldade. Até o ano passado, os números indicavam uma melhora de 14,4%.
Mas a eficiência diminuiu drasticamente no primeiro semestre deste ano, com o início de várias obras de infraestrutura financiadas com o pacote inédito de US$ 586 bilhões contra a crise de 2008.
O resultado, aliado com a desaceleração americana, é que, no ano passado, a China se transformou no maior emissor de carbono do planeta e ainda assumiu a liderança no consumo de energia.

ÁGUA E AR
Além da meta energética, o Plano de Cinco Anos (2006-2010) prevê a redução de 10% tanto de dióxido de enxofre, o maior poluente do ar, quanto de demanda química de oxigênio (DQO), indicador de poluição da água.
Para Ma Jun, o problema é que, mesmo que a meta da água seja cumprida, o resultado prático é muito pequeno diante do volume de sujeira.
Um estudo do seu instituto mostra que a China despeja todos os anos 30 milhões de toneladas anuais de DQO nos rios, enquanto a capacidade máxima da absorção é de 7 milhões de toneladas/ano.
A poluição aérea tampouco apresenta melhoras. O monitoramento do Ministério de Proteção Ambiental mostra que a qualidade do ar piorou no primeiro semestre, após cinco anos de melhoria.
O número de dias com ar adequado caiu 0,3% nos primeiros seis meses comparado com 2009, segundo dados oficiais, que revelaram chuva ácida em 189 das 443 cidades monitoradas.
Os principais motivos apontados para o aumento da poluição do ar são a venda explosiva de carros e a construção civil, além do uso contínuo de carvão para produzir energia elétrica.
A contaminação do ar é um grave problema de saúde pública na China.
Estudo publicado em março pela revista médica "Lancet" afirma que há por ano 1,3 milhão de mortes prematuras ligadas a doenças respiratórias.


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