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China corre para cumprir meta ecológica
Governo promete até sacrificar o crescimento da economia e lança pacote de eficiência no consumo de energia
País também tenta, sem muito sucesso, reduzir a poluição aérea e a da água, cujos índices não apresentam melhoras
FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
No condado de Anping,
Província de Hebei, dezenas
de milhares de casas ficam
sem luz durante 22 horas a
cada três dias. Não muito
longe dali, dezenas de fábricas estão sofrendo cortes
programados de eletricidade, tática repetida em outras
duas Províncias.
Parece racionamento, mas
é parte de um pacote de medidas de última hora do governo chinês para tentar
cumprir a meta, estabelecida
em 2005, de aumentar a eficiência do uso de energia em
20% (o cálculo se refere à
quantidade de energia usada
em relação ao crescimento
do PIB). O prazo termina no
final de dezembro.
Pequim determinou ainda, no mês passado, o fechamento de 2.000 fábricas consideradas obsoletas, embora
em boa parte delas isso tenha
significado apenas a paralisação parcial. Já os apagões
em áreas residenciais foram
suspensos após protestos
dos moradores.
"Atingiremos a meta mesmo que signifique perder o
crescimento do PIB", disse
recentemente o premiê Wen
Jiabao.
"Isso mostra que eles estão
levando o assunto a sério.
Em todos esses anos, outras
metas de redução nunca foram atingidas e ninguém se
importava", afirmou Ma Jun,
diretor do Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais e
tido como o ecologista mais
respeitado da China.
"Por outro lado, não é sustentável, depois deste ano,
tudo voltará ao normal", disse ele à Folha.
O resgate da economia
mundial pela China é a principal responsável pela dificuldade. Até o ano passado,
os números indicavam uma
melhora de 14,4%.
Mas a eficiência diminuiu
drasticamente no primeiro
semestre deste ano, com o
início de várias obras de infraestrutura financiadas com
o pacote inédito de US$ 586
bilhões contra a crise de
2008.
O resultado, aliado com a
desaceleração americana, é
que, no ano passado, a China
se transformou no maior
emissor de carbono do planeta e ainda assumiu a liderança no consumo de energia.
ÁGUA E AR
Além da meta energética,
o Plano de Cinco Anos (2006-2010) prevê a redução de
10% tanto de dióxido de enxofre, o maior poluente do ar,
quanto de demanda química
de oxigênio (DQO), indicador
de poluição da água.
Para Ma Jun, o problema é
que, mesmo que a meta da
água seja cumprida, o resultado prático é muito pequeno
diante do volume de sujeira.
Um estudo do seu instituto
mostra que a China despeja
todos os anos 30 milhões de
toneladas anuais de DQO nos
rios, enquanto a capacidade
máxima da absorção é de 7
milhões de toneladas/ano.
A poluição aérea tampouco apresenta melhoras. O
monitoramento do Ministério de Proteção Ambiental
mostra que a qualidade do ar
piorou no primeiro semestre,
após cinco anos de melhoria.
O número de dias com ar
adequado caiu 0,3% nos primeiros seis meses comparado com 2009, segundo dados
oficiais, que revelaram chuva ácida em 189 das 443 cidades monitoradas.
Os principais motivos
apontados para o aumento
da poluição do ar são a venda
explosiva de carros e a construção civil, além do uso contínuo de carvão para produzir energia elétrica.
A contaminação do ar é
um grave problema de saúde
pública na China.
Estudo publicado em março pela revista médica "Lancet" afirma que há por ano
1,3 milhão de mortes prematuras ligadas a doenças respiratórias.
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