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"Antes, tudo era sacrificado pela economia"
DE PEQUIM
Rios, ar e solos contaminados, desertificação, extinção
de espécies, desflorestamento. O crescimento econômico
chinês está causando enorme e, muitas vezes, irreversível estrago para o ambiente,
argumenta o jornalista Jonathan Watts, autor do recém-lançado "When a Billion Chinese Jump" (quando um bilhão de chineses pulam).
Correspondente do jornal
britânico "Guardian" em Pequim há sete anos, Watts diz
que o aumento do consumo
na China está exaurindo os
recursos naturais do país. A
seguir, trechos da entrevista
concedida à Folha.
(FM)
ECONOMIA VS. AMBIENTE
Essa é a questão-chave.
Tem havido mudanças na
China pelo menos no nível da
retórica. Cinco anos atrás, tudo era sacrificado em nome
do crescimento econômico.
Mas, com [o premiê] Wen Jiabao e o [dirigente] Hu Jintao,
eles ao menos tentaram mudar o discurso. São slogans
políticos, mas também um
esforço para reequilibrar a
economia com o ambiente e a
desigualdade social.
O fato de que estão avaliando fechar fábricas e cumprir metas de eficiência energética demonstra de que não
é apenas retórica, há algo sério em andamento.
AÇÕES ANTIPOLUIÇÃO
Eles fizeram algumas coisas impressionantes, como
energia eólica e reflorestamento -a China planta mais
árvores do que qualquer país
do mundo. Mas o uso de
energia renovável está crescendo junto com o uso de
carvão, e rapidamente.
E sim, há mais árvores,
mas não são realmente florestas, são linhas de árvores,
todas iguais.
CONSUMO
Até 2007, o estilo de vida
médio na China em termos
de uso de energia, comida e
água estava pouco abaixo do
limite mundial. No mesmo
ano, se todos vivêssemos como o senhor e a senhora Jones nos EUA, precisaríamos
de quatro planetas e meio.
Portanto, se pensarmos
em termos de consumo de recursos do ponto de vista ambiental, deveríamos estar
pensando como senhor e senhora Wong. Mas a natureza
humana nos leva a querer viver como os Jones.
Desde 2007, a China ultrapassou a linha de débito ecológico. Eles estão consumindo mais água, mais cobre,
mais madeira, mais comida.
E isso será visível nos mercados de commodities, na escassez de água, talvez na falta de comida e numa crescente competição por energia.
AUTORITARISMO
O fato de que existe um
único partido não democrático na China tem um lado
bom e ruim para o ambiente.
No lado positivo, se há um
corpo estatal, e a liderança
considera que algo precisa
ser feito pelo meio ambiente,
eles podem canalizar recursos rapidamente, como foi o
fechamento das fábricas.
Há obstáculos também. As
pessoas não sentem que são
parte das decisões. Não há
prestação de contas, não há
transparência. Os governos
locais e as fábricas estão
sempre desrespeitando a lei,
fazendo o que querem. Em
países em que há tentativas
de limpeza, uma das razões
são movimentos sociais, que
usam a imprensa livre, um
sistema judicial independente e a criação de ONGs.
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