São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2010

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"Antes, tudo era sacrificado pela economia"

DE PEQUIM

Rios, ar e solos contaminados, desertificação, extinção de espécies, desflorestamento. O crescimento econômico chinês está causando enorme e, muitas vezes, irreversível estrago para o ambiente, argumenta o jornalista Jonathan Watts, autor do recém-lançado "When a Billion Chinese Jump" (quando um bilhão de chineses pulam).
Correspondente do jornal britânico "Guardian" em Pequim há sete anos, Watts diz que o aumento do consumo na China está exaurindo os recursos naturais do país. A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha. (FM)

ECONOMIA VS. AMBIENTE
Essa é a questão-chave. Tem havido mudanças na China pelo menos no nível da retórica. Cinco anos atrás, tudo era sacrificado em nome do crescimento econômico. Mas, com [o premiê] Wen Jiabao e o [dirigente] Hu Jintao, eles ao menos tentaram mudar o discurso. São slogans políticos, mas também um esforço para reequilibrar a economia com o ambiente e a desigualdade social.
O fato de que estão avaliando fechar fábricas e cumprir metas de eficiência energética demonstra de que não é apenas retórica, há algo sério em andamento.

AÇÕES ANTIPOLUIÇÃO
Eles fizeram algumas coisas impressionantes, como energia eólica e reflorestamento -a China planta mais árvores do que qualquer país do mundo. Mas o uso de energia renovável está crescendo junto com o uso de carvão, e rapidamente.
E sim, há mais árvores, mas não são realmente florestas, são linhas de árvores, todas iguais.

CONSUMO
Até 2007, o estilo de vida médio na China em termos de uso de energia, comida e água estava pouco abaixo do limite mundial. No mesmo ano, se todos vivêssemos como o senhor e a senhora Jones nos EUA, precisaríamos de quatro planetas e meio.
Portanto, se pensarmos em termos de consumo de recursos do ponto de vista ambiental, deveríamos estar pensando como senhor e senhora Wong. Mas a natureza humana nos leva a querer viver como os Jones.
Desde 2007, a China ultrapassou a linha de débito ecológico. Eles estão consumindo mais água, mais cobre, mais madeira, mais comida. E isso será visível nos mercados de commodities, na escassez de água, talvez na falta de comida e numa crescente competição por energia.

AUTORITARISMO
O fato de que existe um único partido não democrático na China tem um lado bom e ruim para o ambiente. No lado positivo, se há um corpo estatal, e a liderança considera que algo precisa ser feito pelo meio ambiente, eles podem canalizar recursos rapidamente, como foi o fechamento das fábricas.
Há obstáculos também. As pessoas não sentem que são parte das decisões. Não há prestação de contas, não há transparência. Os governos locais e as fábricas estão sempre desrespeitando a lei, fazendo o que querem. Em países em que há tentativas de limpeza, uma das razões são movimentos sociais, que usam a imprensa livre, um sistema judicial independente e a criação de ONGs.


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