São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2001

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PÓS-ATENTADO

Bombeiros enfrentam policiais e prefeitura devido à redução em equipes de resgate do WTC

Heróis de Nova York entram em choque

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Acabou a lua-de-mel entre bombeiros, policiais e a Prefeitura de Nova York. Ontem, centenas de soldados do Corpo de Bombeiros foram às ruas protestar contra a decisão do prefeito Rudolph Giuliani de reduzir o número de pessoas que trabalham no resgate de corpos nos escombros do World Trade Center.
A corporação foi de longe a mais atingida pelo atentado de 11 de setembro. Dos 11 mil bombeiros, 343 morreram no dia; destes, calcula-se que os restos de ao menos 250 continuem no local.
Na manhã de ontem, ao tentar ultrapassar as barricadas que cercam o local do acidente, no sul de Manhattan, os soldados entraram em atrito com a polícia, choque que se repetiu diante da prefeitura. Três foram presos por desordem e protesto não autorizado.
Até agora, bombeiros, policiais e funcionários da prefeitura haviam sido alçados à condição de heróis pela população e pela imprensa da cidade por seu papel no dia do atentado e experimentavam uma unidade inédita.
No chamado "ponto zero", os manifestantes fizeram um minuto de silêncio e cantaram "God Bless America". "Prefeito Giuliani, deixe-nos trazer nossos irmãos para casa", diziam cartazes. "Nosso aviso está dado. Se tivermos de voltar aqui, será com 5.000 homens", ameaçou Peter Gorman, presidente do sindicato.
Giuliani anunciara, no começo da semana, que diminuiria o número de pessoas nos escombros, como medida de segurança e também porque as horas extras pagas devem onerar em 70% a folha de pagamento da cidade.
"Não quero mais que 24 bombeiros e 24 oficiais por turno de trabalho no WTC", disse. O número, até então, variava de 60 a 80 soldados das duas corporações, além de centenas de voluntários pagos da construção civil.
Uma das acusações feitas aos manifestantes é que a corporação quer manter o status atual somente para aumentar os contracheques. "Isso não tem nada a ver com dinheiro", disse Gorman.
Segundo ele, "a redução é uma tentativa não declarada da prefeitura de acabar com a etapa de recuperação de corpos e passar a só remover entulho, para agilizar o trabalho". Isso estaria incomodando as famílias das vítimas.
Na tentativa de quebrar o gelo, a secretaria de Turismo do Havaí ofereceu 1.200 pacotes gratuitos de férias para as equipes no WTC, "os mais corajosos e generosos heróis" do país, segundo o governador Ben Cayetano.
Giuliani deve selecionar 600 pessoas para passar uma semana na ilha de Waikiki, a partir de 2 de dezembro. Então, a cada mês a partir de 2002, 50 serão enviados até o fim do ano que vem.


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