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Mídia dos EUA tem na gaveta real
resultado da eleição presidencial
DE NOVA YORK
A mídia americana tem em suas
mãos o resultado da recontagem
de votos das eleições presidenciais no Estado da Flórida, que definiriam quem foi o vencedor de
fato do pleito do ano passado,
George W. Bush ou Al Gore, mas
não deve publicá-lo tão cedo.
O trabalho custou US$ 1 milhão
e foi encomendado por um consórcio de empresas que inclui os
jornais "The New York Times",
"The Washington Post" e "The
Wall Street Journal", a emissora
CNN, a agência de notícias "Associated Press" e a revista semanal
"Newsweek", entre outros.
A recontagem foi feita pela Organização Nacional de Pesquisa,
Norc na sigla em inglês, renomado instituto de estatística filiado à
Universidade de Chicago. Segundo Julie Antelman, a assessora de
imprensa, "os novos números estão prontos e o trabalho está com
as pessoas que o contrataram".
Profissionais ouvidos pela Folha em um dos jornais nova-iorquinos dizem que a recontagem
daria vitória para o então vice-presidente democrata, Al Gore,
mas as empresas acharam estrategicamente ruim questionar a legitimidade do governo Bush neste
momento. A Norc não confirmou
a informação.
A teoria é defendida pelo jornalista David Podvin, repórter investigativo que mantém o site
Make Them Accountable (www.makethemaccountable.com).
"O consórcio descobriu estupefato que, na recontagem, Gore
venceu sem dúvida nenhuma",
escreveu ele, citando como fonte
um executivo da mídia.
Indagado pela Folha, o assessor
de imprensa do "The New York
Times" confirmou apenas a opção de segurar a reportagem.
"Neste momento, não temos tempo, pessoal nem espaço no jornal
para nos concentrarmos no assunto", afirmou Toby Usnik.
Segundo ele, o ataque de 11 de
setembro, suas consequências e
os atentados bioterroristas são a
prioridade atual da publicação. O
artigo com a recontagem da Flórida teria sido "adiado indefinidamente" -mas não abandonado.
"Basta fazer as contas"
Em dezembro do ano passado,
a Suprema Corte dos EUA ordenou que a recontagem dos votos
na Flórida fosse interrompida,
dando assim a vitória ao então
candidato republicano, George
W. Bush. Mas as dúvidas persistiram, principalmente pela grande
presença de votos anulados.
Isso levou, em janeiro último, os
principais órgãos de imprensa do
país a contratar um instituto independente e bancar a recontagem
dos votos. Foi o que o Norc fez.
Cada uma das 180 mil cédulas em
disputa foi reexaminada por três
pessoas diferentes, num trabalho
que levou seis meses.
"Cada repórter e editor designado pelos membros do consórcio
recebeu em agosto os relatórios,
que definem exatamente a condição de cada uma das cédulas",
disse Julie Antelman, do instituto.
"Basta fazer as contas e ver quem
foi o vencedor."
O resultado não tem efeito legal,
apenas moral. Além disso, poderia servir como base para qualquer cidadão americano que quisesse abrir uma ação questionando a legitimidade de Bush.
Após 11 de setembro, porém, os
membros do consórcio se encontraram e decidiram unanimemente adiar a publicação da recontagem. Nem o encontro nem a
decisão foram noticiados nos
próprios órgãos participantes.
(SD)
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