São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2001

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Mídia dos EUA tem na gaveta real resultado da eleição presidencial

DE NOVA YORK

A mídia americana tem em suas mãos o resultado da recontagem de votos das eleições presidenciais no Estado da Flórida, que definiriam quem foi o vencedor de fato do pleito do ano passado, George W. Bush ou Al Gore, mas não deve publicá-lo tão cedo.
O trabalho custou US$ 1 milhão e foi encomendado por um consórcio de empresas que inclui os jornais "The New York Times", "The Washington Post" e "The Wall Street Journal", a emissora CNN, a agência de notícias "Associated Press" e a revista semanal "Newsweek", entre outros.
A recontagem foi feita pela Organização Nacional de Pesquisa, Norc na sigla em inglês, renomado instituto de estatística filiado à Universidade de Chicago. Segundo Julie Antelman, a assessora de imprensa, "os novos números estão prontos e o trabalho está com as pessoas que o contrataram".
Profissionais ouvidos pela Folha em um dos jornais nova-iorquinos dizem que a recontagem daria vitória para o então vice-presidente democrata, Al Gore, mas as empresas acharam estrategicamente ruim questionar a legitimidade do governo Bush neste momento. A Norc não confirmou a informação.
A teoria é defendida pelo jornalista David Podvin, repórter investigativo que mantém o site Make Them Accountable (www.makethemaccountable.com).
"O consórcio descobriu estupefato que, na recontagem, Gore venceu sem dúvida nenhuma", escreveu ele, citando como fonte um executivo da mídia.
Indagado pela Folha, o assessor de imprensa do "The New York Times" confirmou apenas a opção de segurar a reportagem. "Neste momento, não temos tempo, pessoal nem espaço no jornal para nos concentrarmos no assunto", afirmou Toby Usnik.
Segundo ele, o ataque de 11 de setembro, suas consequências e os atentados bioterroristas são a prioridade atual da publicação. O artigo com a recontagem da Flórida teria sido "adiado indefinidamente" -mas não abandonado.

"Basta fazer as contas"
Em dezembro do ano passado, a Suprema Corte dos EUA ordenou que a recontagem dos votos na Flórida fosse interrompida, dando assim a vitória ao então candidato republicano, George W. Bush. Mas as dúvidas persistiram, principalmente pela grande presença de votos anulados.
Isso levou, em janeiro último, os principais órgãos de imprensa do país a contratar um instituto independente e bancar a recontagem dos votos. Foi o que o Norc fez. Cada uma das 180 mil cédulas em disputa foi reexaminada por três pessoas diferentes, num trabalho que levou seis meses.
"Cada repórter e editor designado pelos membros do consórcio recebeu em agosto os relatórios, que definem exatamente a condição de cada uma das cédulas", disse Julie Antelman, do instituto. "Basta fazer as contas e ver quem foi o vencedor."
O resultado não tem efeito legal, apenas moral. Além disso, poderia servir como base para qualquer cidadão americano que quisesse abrir uma ação questionando a legitimidade de Bush.
Após 11 de setembro, porém, os membros do consórcio se encontraram e decidiram unanimemente adiar a publicação da recontagem. Nem o encontro nem a decisão foram noticiados nos próprios órgãos participantes.
(SD)


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