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Sem problemas graves, Flórida
vota sob sol forte e vai às compras
DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
Já começou a nevar no Colorado, no centro-oeste norte-americano, mas em Miami os termômetros teimavam, a tarde inteira,
em marcar a tropical temperatura
de 30C.
Tropical também eram os truques eleitorais aplicados no Estado. Frank Albano Torres, um colombiano que vive há 18 anos em
Miami, recebeu telefonema, ontem cedo, dizendo que seu local
de votação havia mudado. Foi ao
novo local apenas para descobrir
que era uma "pegadinha" dos republicanos (os latinos da Flórida,
como dos EUA em geral, votam
maciçamente por John Kerry, exceto os cubano-americanos).
O senador Eduardo Suplicy
quase caiu num truque desses:
um assessor de Paulo Maluf telefonou para dizer que mudara o
horário de um debate na TV entre
os candidatos à prefeitura. Suplicy quase não compareceu.
Albano Torres, ao contrário,
deu-se ao trabalho de enfrentar
uma segunda fila para votar (em
Kerry, de fato), cansado da "guerra maluca" do presidente Bush.
Mas, fora pequenos e quase inofensivos truques como esse, a eleição na Flórida corria, até 17h (20h
em Brasília), quase à perfeição, se
comparada com o fiasco de 2000,
quando o pleito caiu num pântano de demandas judiciais que segurou por 36 dias a confirmação
do nome do presidente.
Desta vez, ao contrário, a votação corria com a manemolência
típica de balneário, que é uma das
duas características de Miami (a
outra é ser um gigantesco shopping center). Aliás, o movimento
nos centros de compra era maior
do que nos locais de votação, talvez porque se calcula que 30% dos
quase 11 milhões de eleitores votaram antecipadamente.
A queixa principal dos eleitores
democratas era mesmo sobre os
falsos avisos de mudança de local
de votação. "Os eleitores estão
quase levando ao colapso nossas
linhas telefônicas com reclamações sobre isso", lamentava Theresa LePore, supervisora eleitoral
do Condado de Palm Beach.
Mas os republicanos também tinham seus motivos de queixa: denunciavam, por exemplo, que
1.700 condenados pela Justiça haviam se registrado eleitoralmente,
quando o condenado, no Estado
da Flórida, perde, além da liberdade, os direitos cívicos, entre eles
o de votar.
Como a eleição de 2000 foi decidida por apenas 537 votos, é natural que qualquer número de potenciais irregularidades seja examinado com lupa.
A propósito de condenados: em
Iowa, ocorreu o contrário. Pelo
menos 145 pessoas entraram em
uma lista equivocada de suspensão dos direitos cívicos, embora
não tenham sido condenadas.
De todo modo, os habitantes da
Flórida estavam mais relaxados à
medida em que se aproximava o
horário de fechamento das urnas
(19h, 22h em Brasília): o vexame
de 2000 parecia afastado, pelo menos na primeira parte do processo, a votação.
"Assim mesmo, estou com os
dedos cruzados, porque o problema surgiu há quatro anos na hora
da apuração", brinca Fred Budde,
agente de turismo que teme que
uma segunda confusão afete a
imagem do Estado, apesar do sol,
das praias, da Disney World e dos
shoppings.
(CLÓVIS ROSSI)
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