São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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Diversidade torna eleição confusa

DA REPORTAGEM LOCAL

Observadas à distância, as eleições americanas parecem bem pouco... americanas. O Big Mac é o mesmo em toda parte, o ketchup também (Heinz, propriedade da mulher de John Kerry), mas a cédula, não.
A grande autonomia dos Estados da federação, com seus sistemas eleitorais diferentes, também não explica tudo. Há muito mais do que 50 eleições nos EUA.
Basta ver as fotos despejadas ontem pelas agências de notícias nas redações dos jornais do mundo todo: estão lá eleitores consultando os votos uns dos outros, tirando dúvidas de última hora, abarrotando igrejas e lojas comerciais, usando urnas eletrônicas (com ou sem recibo), cédulas perfuráveis.
Ao fundo, as longas filas de eleitores que se formaram durante o dia -e que levaram analistas a apostar no maior comparecimento às urnas em 40 anos.
Estranho contraste que faz os brasileiros se sentirem tão "primeiro mundo", tão Estados Unidos da América, com nossas máquinas de votar modernas como os melhores produtos ianques, com nossas regras eleitorais unificadas, simples, práticas, eficientes.
Ainda ontem, no Estado de Ohio, as cortes decidiam se cabos eleitorais poderiam fazer boca-de-urna ou não. Na Carolina do Sul, alguns eleitores tiveram que usar cédulas tradicionais, de papel, enquanto urnas eletrônicas eram consertadas.
Em maio, a Folha acompanhou uma organização "independente" -pró-Kerry, porém sem vínculos oficiais com o Partido Democrata- que percorria bairros pobres de Pittsburgh, no Estado da Pensilvânia, à caça de eleitores para registrar.
Além de o voto não ser obrigatório, nos EUA os partidos podem intermediar o registro de eleitores para torná-los aptos a votar. Os voluntários da ACT (America Coming Together), que a Folha seguiu, além de regularizarem o registro eleitoral do cidadão, também perguntavam o partido de preferência, anotavam nome, telefone, endereço.
Líderes estudantis de um e outro partido, na Universidade de Nova York, afirmavam, sem problemas, que listas desse tipo seriam usadas no dia das eleições para "incentivar" o comparecimento às urnas.
Vai ver, é disso mesmo que a democracia é capaz. No país em que branco é branco e preto é preto, na nação dos mocinhos e bandidos, do puritanismo, a eleição -ao menos formalmente- está muito menos para Bush (convicto, para os simpatizantes; teimoso, para os detratores), do que para Kerry. Confuso, para alguns; sutil e sofisticado, para outros.
(RAFAEL CARIELLO)


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