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Diversidade torna eleição confusa
DA REPORTAGEM LOCAL
Observadas à distância, as eleições americanas parecem bem
pouco... americanas. O Big Mac é
o mesmo em toda parte, o ketchup também (Heinz, propriedade da mulher de John Kerry), mas
a cédula, não.
A grande autonomia dos Estados da federação, com seus sistemas eleitorais diferentes, também
não explica tudo. Há muito mais
do que 50 eleições nos EUA.
Basta ver as fotos despejadas
ontem pelas agências de notícias
nas redações dos jornais do mundo todo: estão lá eleitores consultando os votos uns dos outros, tirando dúvidas de última hora,
abarrotando igrejas e lojas comerciais, usando urnas eletrônicas
(com ou sem recibo), cédulas perfuráveis.
Ao fundo, as longas filas de eleitores que se formaram durante o
dia -e que levaram analistas a
apostar no maior comparecimento às urnas em 40 anos.
Estranho contraste que faz os
brasileiros se sentirem tão "primeiro mundo", tão Estados Unidos da América, com nossas máquinas de votar modernas como
os melhores produtos ianques,
com nossas regras eleitorais unificadas, simples, práticas, eficientes.
Ainda ontem, no Estado de
Ohio, as cortes decidiam se cabos
eleitorais poderiam fazer boca-de-urna ou não. Na Carolina do
Sul, alguns eleitores tiveram que
usar cédulas tradicionais, de papel, enquanto urnas eletrônicas
eram consertadas.
Em maio, a Folha acompanhou
uma organização "independente"
-pró-Kerry, porém sem vínculos oficiais com o Partido Democrata- que percorria bairros pobres de Pittsburgh, no Estado da
Pensilvânia, à caça de eleitores para registrar.
Além de o voto não ser obrigatório, nos EUA os partidos podem
intermediar o registro de eleitores
para torná-los aptos a votar. Os
voluntários da ACT (America Coming Together), que a Folha seguiu, além de regularizarem o registro eleitoral do cidadão, também perguntavam o partido de
preferência, anotavam nome, telefone, endereço.
Líderes estudantis de um e outro partido, na Universidade de
Nova York, afirmavam, sem problemas, que listas desse tipo seriam usadas no dia das eleições
para "incentivar" o comparecimento às urnas.
Vai ver, é disso mesmo que a democracia é capaz. No país em que
branco é branco e preto é preto,
na nação dos mocinhos e bandidos, do puritanismo, a eleição
-ao menos formalmente- está
muito menos para Bush (convicto, para os simpatizantes; teimoso, para os detratores), do que para Kerry. Confuso, para alguns;
sutil e sofisticado, para outros.
(RAFAEL CARIELLO)
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