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USA
Charrrme frrrancês
KATHLEEN PARKER
QUE MULHER americana não adoraria receber um telefonema
do presidente Nicolas Sarkozy? Ele é tããão... francês!
Se você é uma mulher americana que está concorrendo à
Vice-Presidência, talvez não
ache surpreendente que Sarkozy queira bater um papo sedutor com você alguns dias
antes da eleição.
Talvez, tendo sido escolhida
do meio do nada para concorrer ao segundo cargo mais importante do mundo livre, tendo batido papo com chefes de
Estado, tendo atraído multidões enormes para aplaudi-la,
você acredite realmente que
QUALQUER COISA é possível. Por que não uma ligação
de Sarkozy?
Mas agora o mundo todo sabe que Palin foi vítima de um
trote de um duo de comediantes de uma rádio canadense
que se fez passar pelo presidente francês. Falando com
sotaque francês carregado, o
falso presidente elogiou Palin,
dizendo a ela que podia vê-la
virando presidente algum dia.
Ela riu e disse: "Quem sabe
daqui a oito anos."
Então "Sarkozy" disse que
adoraria sair com ela para caçar, pois adora "matar aqueles
animais. Mmmmm, mmmm,
tirar a vida, isso é tão divertido!". Eles falaram sobre a linda mulher dele, comentando
inclusive o fato de que, segundo o falso Sarkozy, "ela é uma
fera na cama".
Palin ri e leva a conversa até
seu embaraçoso fim.
É neste momento que começamos a sentir pena de Sarah Palin. Para começar, algumas palavras bondosas. É
quase fácil demais zombar
dessa boa mulher do Alasca.
Sejamos justos, em alguns
momentos da conversa, a impressão é que ela não conseguiu ouvi-lo direito e talvez
por isso não tenha entendido
as piadas nem as observações
ridiculamente impróprias.
Mas nem uma delas sequer?
Será que não havia ninguém
na sala com Palin que tenha
entendido a brincadeira? O
homem cantou para ela!
Dando a ela o benefício da
dúvida, Palin não pode ter entendido seu interlocutor
quando ele disse ter adorado o
documentário sobre sua vida
-"Hustler's Nailin" Palin"
[trocadilho que significa algo
como "traçando Palin", um vídeo pornô da revista Hustler's
inspirado na candidata].
Mas, peraí. Podemos dizer
apenas: "Como assim???".
As respostas de Palin durante a conversa sugerem que
ela é uma muito boa moça
-educada, sincera e decente.
Também confirmam, caso
ainda houvesse alguma dúvida remanescente a esse respeito, que ela muito evidentemente está COMPLETAMENTE PERDIDA (como alguém escreveu muito tempo
atrás, em 26 de setembro,
quando McCain ainda teria tido tempo de corrigir seu erro).
A essa afirmativa, acrescentamos agora que a assessoria
de Palin também, ao que parece, está completamente perdida. A pessoa que passou o telefone a ela quando o falso telefonema foi feito merece estar
procurando outro emprego.
Dando crédito onde ele é
devido, Palin recebe nota A
por ter se mantido fiel a seu
script, apesar do absurdo das
perguntas do falso presidente
francês. Ela ficou o tempo todo tentando manter a conversa em um nível mínimo de
profissionalismo e diplomacia, como durante o trecho sobre caça, quando respondeu:
"Bem, acho que podemos
nos divertir muito juntos enquanto trabalhamos", disse a
governadora. "Dessa maneira
podemos matar dois coelhos
com uma paulada só." De fato.
Como é o caso de tudo nessa
farsa que causou constrangimento grande ao Partido Republicano, o trote a Palin não
foi culpa dela. Ela foi colhida
antes de estar madura e vem
pagando por isso desde então.
Agora, apesar de ter atitude
esportiva, ela foi ridicularizada diante do mundo inteiro.
Se McCain e Palin prevalecerem amanhã, a mesma coisa
vai acontecer aos EUA.
Tradução de CLARA ALLAIN
KATHLEEN PARKER é colunista do "Washington Post" e comentarista da NBC; ela escreveu
esta coluna para a Folha
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