São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

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USA

Charrrme frrrancês

KATHLEEN PARKER

QUE MULHER americana não adoraria receber um telefonema do presidente Nicolas Sarkozy? Ele é tããão... francês! Se você é uma mulher americana que está concorrendo à Vice-Presidência, talvez não ache surpreendente que Sarkozy queira bater um papo sedutor com você alguns dias antes da eleição. Talvez, tendo sido escolhida do meio do nada para concorrer ao segundo cargo mais importante do mundo livre, tendo batido papo com chefes de Estado, tendo atraído multidões enormes para aplaudi-la, você acredite realmente que QUALQUER COISA é possível. Por que não uma ligação de Sarkozy?
Mas agora o mundo todo sabe que Palin foi vítima de um trote de um duo de comediantes de uma rádio canadense que se fez passar pelo presidente francês. Falando com sotaque francês carregado, o falso presidente elogiou Palin, dizendo a ela que podia vê-la virando presidente algum dia.
Ela riu e disse: "Quem sabe daqui a oito anos." Então "Sarkozy" disse que adoraria sair com ela para caçar, pois adora "matar aqueles animais. Mmmmm, mmmm, tirar a vida, isso é tão divertido!". Eles falaram sobre a linda mulher dele, comentando inclusive o fato de que, segundo o falso Sarkozy, "ela é uma fera na cama". Palin ri e leva a conversa até seu embaraçoso fim. É neste momento que começamos a sentir pena de Sarah Palin. Para começar, algumas palavras bondosas. É quase fácil demais zombar dessa boa mulher do Alasca.
Sejamos justos, em alguns momentos da conversa, a impressão é que ela não conseguiu ouvi-lo direito e talvez por isso não tenha entendido as piadas nem as observações ridiculamente impróprias. Mas nem uma delas sequer? Será que não havia ninguém na sala com Palin que tenha entendido a brincadeira? O homem cantou para ela!
Dando a ela o benefício da dúvida, Palin não pode ter entendido seu interlocutor quando ele disse ter adorado o documentário sobre sua vida -"Hustler's Nailin" Palin" [trocadilho que significa algo como "traçando Palin", um vídeo pornô da revista Hustler's inspirado na candidata].
Mas, peraí. Podemos dizer apenas: "Como assim???". As respostas de Palin durante a conversa sugerem que ela é uma muito boa moça -educada, sincera e decente. Também confirmam, caso ainda houvesse alguma dúvida remanescente a esse respeito, que ela muito evidentemente está COMPLETAMENTE PERDIDA (como alguém escreveu muito tempo atrás, em 26 de setembro, quando McCain ainda teria tido tempo de corrigir seu erro). A essa afirmativa, acrescentamos agora que a assessoria de Palin também, ao que parece, está completamente perdida. A pessoa que passou o telefone a ela quando o falso telefonema foi feito merece estar procurando outro emprego.
Dando crédito onde ele é devido, Palin recebe nota A por ter se mantido fiel a seu script, apesar do absurdo das perguntas do falso presidente francês. Ela ficou o tempo todo tentando manter a conversa em um nível mínimo de profissionalismo e diplomacia, como durante o trecho sobre caça, quando respondeu: "Bem, acho que podemos nos divertir muito juntos enquanto trabalhamos", disse a governadora. "Dessa maneira podemos matar dois coelhos com uma paulada só." De fato.
Como é o caso de tudo nessa farsa que causou constrangimento grande ao Partido Republicano, o trote a Palin não foi culpa dela. Ela foi colhida antes de estar madura e vem pagando por isso desde então. Agora, apesar de ter atitude esportiva, ela foi ridicularizada diante do mundo inteiro. Se McCain e Palin prevalecerem amanhã, a mesma coisa vai acontecer aos EUA.

Tradução de CLARA ALLAIN

KATHLEEN PARKER é colunista do "Washington Post" e comentarista da NBC; ela escreveu esta coluna para a Folha



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