São Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 2002

Próximo Texto | Índice

CRIME

Enfermeiro Ted Maher terá de cumprir sua pena na França ou nos EUA porque a única prisão de Mônaco está cheia

Assassino de Safra pega dez anos de prisão

DA REDAÇÃO

O enfermeiro americano Ted Maher, 44, foi condenado ontem, em Mônaco, a dez anos de prisão por ter ateado fogo ao apartamento do banqueiro Edmond Safra para simular um assalto, matando o próprio Safra e a enfermeira Vivian Torrente.
Maher terá de cumprir sua pena na França ou nos EUA porque Mônaco, um minúsculo principado situado perto da fronteira entre a França e a Itália, não tem vaga na sua única prisão. O principado é conhecido por ser frequentado por ricos e famosos.
Safra e Torrente morreram asfixiados pela fumaça do incêndio na madrugada de 3 de dezembro de 1999. O banqueiro, que sofria de mal de Parkinson e era obcecado por segurança, trancou-se com Torrente num dos banheiros do apartamento -por sugestão de Maher- para proteger-se do que imaginava ser um ataque à sua luxuosa cobertura.
Ao simular o incêndio e pedir ao porteiro noturno que chamasse a polícia, Maher, que, anteriormente, fora militar e segurança de um cassino em Las Vegas, pretendia parecer um herói para Safra, buscando, assim, obter um aumento de salário. Após dizer à polícia que tinha visto dois homens mascarados no apartamento, ele reconheceu ser responsável pelo incêndio e ter-se cortado com uma faca para simular um ataque.
"Maher é como um bombeiro que começa um incêndio. Ele fez isso para ser um herói... Pensamos que o que ele fez foi, logicamente, estúpido, mas não houve a intenção de ferir essas pessoas", disse Michael Griffith, um dos advogados de defesa de Maher, durante o julgamento. Griffith defendeu Billy Hayes, um americano preso na Turquia por narcotráfico, cuja história inspirou o filme "O Expresso da Meia-Noite".
Maher recebia US$ 600 por dia, não pagava imposto sobre o que recebia (Mônaco é um paraíso fiscal) e tinha direito a alimentação e hospedagem gratuitas. Tudo isso para cuidar de Safra.
"Eu gostava muito dele [Safra]. Ele me respeitava, e eu o respeitava. Foi uma idéia estúpida", disse Maher na abertura de seu julgamento, no mês passado. "Pelo resto de minha vida, vou viver com isso. Foi um terrível acidente", acrescentou.
Segundo a lei de Mônaco, Maher não poderá apelar da sentença. Ele poderá apenas pedir uma revisão de seu julgamento, buscando uma anulação da sentença por conta de eventuais erros técnicos durante o processo.
Na época de sua morte, aos 67 anos, Safra, nascido no Líbano e naturalizado brasileiro, era um dos homens mais ricos do planeta. Era dono do Safra Republic Holding e do grupo Republic New York Corporation, vendidos ao HSBC -por US$ 10,3 bilhões- após sua morte.
Segundo o jornal francês "Le Monde", os irmãos de Edmond, Moise e Joseph, que vivem no Brasil, se irritaram com o fato de uma parte do império Safra sair das mãos da família. Eles também estariam ressentidos com Lily Safra, viúva do banqueiro, que é acusada de ter instigado Edmond a mudar seu testamento. Ela recebeu US$ 3 bilhões após a venda do Republic Bank.
A carioca Lily Safra, 65, é a maior acionista da rede de lojas Ponto Frio. Após a morte do marido, mudou-se para Londres. Ela é amiga pessoal do príncipe Charles e foi apelidada pelos ingleses de "Lily Dourada".


Próximo Texto: Educação: Supremo dos EUA vai reexaminar ação afirmativa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.