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ARGENTINA
Governo anuncia que pagará parte dos salários; ativistas criticam
Kirchner subsidia vaga a piqueteiros
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
Um esquema de incentivos à
contratação de piqueteiros
-grupos de desempregados mobilizados que protestam por trabalho e subsídios- está sendo
criado pelo governo argentino
com o objetivo de incorporá-los
ao mercado de trabalho formal e
esvaziar a pressão das ruas.
O incentivo consiste em arcar
com parte dos gastos salariais que
cada empresa conveniada teria
com a contratação do piqueteiro.
A proposta prevê a oferta de
empregos em pequenas empresas
e fábricas, por um salário mensal
de 400 pesos (aproximadamente
o mesmo valor em reais).
Desse total, 250 pesos ficariam a
cargo dos conveniados. O governo entraria com os 150 pesos restantes -montante que corresponde ao subsídio mensal já pago
no âmbito do plano "Chefas e
Chefes do Lar", principal programa de assistência do governo destinado a desempregados.
O governo começou a fazer convênios com pequenas empresas
há cerca de um mês. No entanto o
anúncio oficial do programa só
foi feito ontem pelo ministro do
Trabalho, Carlos Tomada, que o
apresentou como um plano de estímulo ao emprego.
A medida é extensiva a todos os
beneficiados pelo plano "Chefas e
Chefes do Lar". Estima-se que entre 10% e 50% dos beneficiários
sejam piqueteiros. O anúncio do
governo coincide com a crescente
polêmica em torno da política oficial em relação ao movimento.
Os piqueteiros, que haviam sinalizado com um período de trégua ao presidente Néstor Kirchner, vêm dando sinais crescentes
de insatisfação e promovendo
uma escalada de protestos, principalmente em Buenos Aires.
Segundo pesquisa da consultoria Nueva Mayoría, o número de
piquetes em todo o país dobrou
em novembro, em relação ao mês
anterior, subindo de 66 para 120.
Desde o início do ano, já foram registrados 1.147 piquetes, numa
média de 104 por mês.
A política do governo tem sido
de evitar uma repressão violenta
-mas setores políticos e sociais
vêm cobrando uma posição mais
dura. Em levantamento da Research International-Analogías,
58% afirmaram "desaprovar" ou
"desaprovar muito" a maneira
como o governo trata o tema.
Os incentivos dividem a opinião
de analistas e piqueteiros.
"É uma saída inteligente do governo", avaliou a socióloga Graciela Römer. "Trocar os programas de assistência aos piqueteiros
de ajuda direta com subsídios por
um programa que implique geração de emprego, mesmo que subsidiado, vai mais em linha com
uma política progressista consistente que evita a utilização clientelística dos planos de emprego."
"Somos contra", disse Gustavo
Gimenez, coordenador nacional
do Movimento Sem Trabalho
"Teresa Vive". "O que o governo
pretende é incluir nas empresas,
utilizando os desocupados, uma
mão-de-obra barata, sem estabilidade de trabalho, numa competição desleal com os demais trabalhadores, para induzir uma baixa
nos salários", afirmou Gimenez.
O próprio Ministério do Trabalho admite que a medida é problemática por estimular que as empresas demitam ou não renovem
os contratos dos trabalhadores regulares para contratar piqueteiros
com um custo salarial mais baixo.
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