São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

Próximo Texto | Índice

Venezuela elege presidente hoje sob tensão crescente

Favorito, Chávez luta para perpetuar poder ante oposição unida pela primeira vez; ambos os lados temem um golpe

Presidente diz que pretende "radicalizar revolução"; sob esquema contra fraude, primeiros resultados devem sair no fim da noite de hoje

Juan Mabromata - 29.nov.2006/France Presse
Cartazes eleitorais em Caracas; quase 16 milhões podem votar


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

A poucas horas das eleições venezuelanas de hoje, em que o presidente Hugo Chávez disputa seu cargo com o oposicionista Manuel Rosales, aumentava a tensão no país. Em decisão inédita, o Ministério do Interior e Justiça divulgou resolução em que proíbe reuniões populares em locais públicos e de votação no fim de semana.
Anteontem, fora confirmada a detenção na quarta-feira de um capitão da Marinha, Carlos David León Azzato, que teria procurado líderes da oposição com uma lista de militares descontentes com o governo. Na entrevista que deu à imprensa estrangeira na véspera, o presidente dissera que havia "um oficial que estava reunido com uns conspiradores e foi detido".
Nas horas seguintes, o próprio Chávez e seu opositor, Rosales, elevariam o tom do discurso. Em entrevista ontem à rede de TV americana CNN, o líder venezuelano disse que sua revolução se "radicalizará, no sentido de José Martí, de ir às raízes" e que se "aprofundará". Antes, diria que poderia fechar as emissoras de TV e rádio que infringirem a lei e divulgarem pesquisas de boca-de-urna.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proíbe a divulgação de projeções do tipo antes do primeiro boletim oficial, que deve sair só às 21h locais de hoje (23h de Brasília), cinco horas depois do fim da votação. Outra medida aprovada recentemente pelo CNE prevê que 54% das urnas eletrônicas tenham seu equivalente em voto em papel contados manualmente, para verificar se houve fraude.

Oposição unida
Já o governador licenciado do Estado petroleiro de Zulia, que concorre por uma coligação de oito partidos da oposição, respondeu que não aceitaria mudanças de última hora nas regras eleitorais e que sua arma caso isso acontecesse seria o "povo nas ruas". Os oposicionistas conseguiram passar a medida dos 54% e podem se fiar nela caso o resultado de hoje lhes seja desfavorável -as pesquisas de intenção de voto mais confiáveis dão uma vantagem de até 20 pontos percentuais para Chávez.
Em meio a tudo isso, 15,9 milhões dos 26,6 milhões de venezuelanos podem ir às urnas (o voto não é obrigatório no país), numa eleição-plebiscito em que escolherão entre a continuidade do chavismo, que promete aprofundar as tendências socialistas na "próxima etapa", como chama Chávez, que irá de 2007 a 2013, ou o candidato de uma oposição pela primeira vez unida e com uma plataforma de centro-esquerda.
Para reforçar a segurança, cerca de 120 mil soldados da Guarda Nacional foram convocados. E 1.200 observadores internacionais -da União Européia, da ONU, da Fundação Jimmy Carter- estão no país. "Nosso trabalho será analisar a apuração, a votação e a cobertura", disse a chefe da missão da UE, Monica Frassoni. "Mas não temos poder para intervir."
Ambos os lados temem um golpe. Para Chávez, aconteceria se a oposição rejeitar o resultado nas urnas e convocar a parte do povo que se sente alienada e os militares descontentes para depor o presidente. Para a oposição, ele viria na possibilidade cada vez mais presente da perpetuação de seu inimigo político no poder.
O próprio Chávez não esconde seus planos de, caso eleito, reformar a Constituição de 1999, que muitos analistas consideram justa e moderna, para incluir a possibilidade de reeleição infinita. Numa de suas últimas entrevistas, afirmou: "Digo aos meus seguranças, "Não esqueçam que andam com um condenado à morte, pois tem muita gente que quer minha morte"." Então, soltou o ato falho: "Se eu sair do governo, em 2021, em 2030, sei que não viverei para sempre."


Próximo Texto: Ex-golpista, presidente baseia "revolução" em consulta popular
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.