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Venezuela elege presidente hoje sob tensão crescente
Favorito, Chávez luta para perpetuar poder ante oposição unida pela primeira vez; ambos os lados temem um golpe
Presidente diz que pretende "radicalizar revolução";
sob esquema contra fraude, primeiros resultados devem sair no fim da noite de hoje
Juan Mabromata - 29.nov.2006/France Presse
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Cartazes eleitorais em Caracas; quase 16 milhões podem votar |
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
A poucas horas das eleições
venezuelanas de hoje, em que o
presidente Hugo Chávez disputa seu cargo com o oposicionista Manuel Rosales, aumentava
a tensão no país. Em decisão
inédita, o Ministério do Interior e Justiça divulgou resolução em que proíbe reuniões populares em locais públicos e de
votação no fim de semana.
Anteontem, fora confirmada
a detenção na quarta-feira de
um capitão da Marinha, Carlos
David León Azzato, que teria
procurado líderes da oposição
com uma lista de militares descontentes com o governo. Na
entrevista que deu à imprensa
estrangeira na véspera, o presidente dissera que havia "um
oficial que estava reunido com
uns conspiradores e foi detido".
Nas horas seguintes, o próprio Chávez e seu opositor, Rosales, elevariam o tom do discurso. Em entrevista ontem à
rede de TV americana CNN, o
líder venezuelano disse que sua
revolução se "radicalizará, no
sentido de José Martí, de ir às
raízes" e que se "aprofundará".
Antes, diria que poderia fechar
as emissoras de TV e rádio que
infringirem a lei e divulgarem
pesquisas de boca-de-urna.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proíbe a divulgação
de projeções do tipo antes do
primeiro boletim oficial, que
deve sair só às 21h locais de hoje (23h de Brasília), cinco horas
depois do fim da votação. Outra
medida aprovada recentemente pelo CNE prevê que 54% das
urnas eletrônicas tenham seu
equivalente em voto em papel
contados manualmente, para
verificar se houve fraude.
Oposição unida
Já o governador licenciado
do Estado petroleiro de Zulia,
que concorre por uma coligação de oito partidos da oposição, respondeu que não aceitaria mudanças de última hora
nas regras eleitorais e que sua
arma caso isso acontecesse seria o "povo nas ruas". Os oposicionistas conseguiram passar a
medida dos 54% e podem se
fiar nela caso o resultado de hoje lhes seja desfavorável -as
pesquisas de intenção de voto
mais confiáveis dão uma vantagem de até 20 pontos percentuais para Chávez.
Em meio a tudo isso, 15,9 milhões dos 26,6 milhões de venezuelanos podem ir às urnas (o voto não é obrigatório no país),
numa eleição-plebiscito em
que escolherão entre a continuidade do chavismo, que promete aprofundar as tendências socialistas na "próxima etapa",
como chama Chávez, que irá de
2007 a 2013, ou o candidato de
uma oposição pela primeira vez
unida e com uma plataforma de
centro-esquerda.
Para reforçar a segurança,
cerca de 120 mil soldados da
Guarda Nacional foram convocados. E 1.200 observadores internacionais -da União Européia, da ONU, da Fundação
Jimmy Carter- estão no país.
"Nosso trabalho será analisar a
apuração, a votação e a cobertura", disse a chefe da missão
da UE, Monica Frassoni. "Mas
não temos poder para intervir."
Ambos os lados temem um
golpe. Para Chávez, aconteceria se a oposição rejeitar o resultado nas urnas e convocar a
parte do povo que se sente alienada e os militares descontentes para depor o presidente. Para a oposição, ele viria na possibilidade cada vez mais presente
da perpetuação de seu inimigo
político no poder.
O próprio Chávez não esconde seus planos de, caso eleito,
reformar a Constituição de
1999, que muitos analistas consideram justa e moderna, para
incluir a possibilidade de reeleição infinita. Numa de suas
últimas entrevistas, afirmou:
"Digo aos meus seguranças,
"Não esqueçam que andam com
um condenado à morte, pois
tem muita gente que quer minha morte"." Então, soltou o ato
falho: "Se eu sair do governo,
em 2021, em 2030, sei que não
viverei para sempre."
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