São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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entrevista

Direitista chega fragilizado, diz Castañeda

DO ENVIADO À CIDADE DO MÉXICO

Ex-chanceler do México nos primeiros dois anos do governo Fox, Jorge Castañeda é um dos intelectuais mais polêmicos do país. Biógrafo de Che Guevara, militou no Partido Comunista e assessorou o líder moral da esquerda mexicana, Cuahtémoc Cárdenas, mas, como chanceler do conservador Fox, ele apostou no aprofundamento das relações com os EUA. Saiu do governo brigado, vendo como seu país era esquecido por Bush após os atentados do 11 de Setembro. Depois de ter lecionado em universidades como Princeton, Berkeley e Cambridge, ele voltou a dar aulas no ano passado, na New York University. De Nova York, falou por telefone à Folha. Abaixo, os principais trechos. (RJL)

 

CALDERÓN FRACO
"Com certeza, Calderón começa pior que Fox, que ganhou com 43% e ninguém contestou. Calderón foi eleito com 35%, e pelo menos um terço do eleitorado acha que houve fraude. Eu acho que a eleição foi limpa, mas a percepção é essa. Apesar de ele ter mais habilidade e experiência nos bastidores da política que Fox, ele não conseguiu atrair políticos do PRI ou do PRD para o governo nem fazer nada parecido a uma coalizão. Ele também queria que o conflito de Oaxaca fosse resolvido antes de tomar posse, e não teve jeito. São maus sinais."

TERRA DE MONOPÓLIOS
"O México desmantelou um sistema autoritário e uma economia estatizada. Mas não desmantelou seus muitos monopólios. Temos o monopólio energético, da Pemex, o monopólio sindical, da Pemex e dos professores, o monopólio privado, do Carlos Slim, da Televisa, da Cemex, e agora do Wal-Mart. Enquanto não acabarmos com esses monopólios, não tivermos competição, acho que dificilmente o México vai crescer. Por que não crescemos tanto? Dependendo da resposta a essa pergunta, é que você traça uma estratégia. Sem as reformas estruturais, sem quebrar monopólios, sem fazer a reforma tributária, será difícil."

LIDERANÇA DA AL
"O Calderón falou que quer recuperar o protagonismo do México na América Latina. Isso é impossível. Primeiro, porque isso é um mito. O México nunca foi protagonista na região. E nosso maior interesse está nos EUA. Segundo, porque a própria chanceler que ele nomeou tem perfil baixo, é discreta, não imagino que vá brigar por liderança."

RELAÇÃO COM EUA
"É verdade que cresceu o discurso protecionista nos EUA nos últimos anos, mas não terá resultados práticos para o México, pois nossos acordos já estão assinados. A maioria democrata pode ser mais protecionista, mas a conseqüência será maior para o Brasil, que também precisa decidir se quer Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ou não quer, se quer negociar com os EUA. Mas, em relação à política imigratória, será bem mais fácil ter uma reforma inclusiva com os democratas. É uma das poucas coisas em que Calderón pode ser otimista."

GOVERNO FOX
"Nunca se venderam tantos carros, tantas casas, nunca houve tanto crédito como agora. Melhor é uma palavra forte, mas estamos "menos mal" que nunca. O problema é que as diferenças regionais aumentaram, o norte continuou mais próspero, o sul tão miserável, e o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) só acentuou isso pelas distâncias."


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