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entrevista
Direitista chega fragilizado, diz Castañeda
DO ENVIADO À CIDADE DO MÉXICO
Ex-chanceler do México
nos primeiros dois anos do
governo Fox, Jorge Castañeda é um dos intelectuais mais
polêmicos do país. Biógrafo
de Che Guevara, militou no
Partido Comunista e assessorou o líder moral da esquerda mexicana, Cuahtémoc Cárdenas, mas, como
chanceler do conservador
Fox, ele apostou no aprofundamento das relações com os
EUA. Saiu do governo brigado, vendo como seu país era
esquecido por Bush após os
atentados do 11 de Setembro.
Depois de ter lecionado
em universidades como
Princeton, Berkeley e Cambridge, ele voltou a dar aulas
no ano passado, na New York
University. De Nova York,
falou por telefone à Folha.
Abaixo, os principais trechos.
(RJL)
CALDERÓN FRACO
"Com certeza, Calderón
começa pior que Fox, que ganhou com 43% e ninguém
contestou. Calderón foi eleito com 35%, e pelo menos
um terço do eleitorado acha
que houve fraude. Eu acho
que a eleição foi limpa, mas a
percepção é essa. Apesar de
ele ter mais habilidade e experiência nos bastidores da
política que Fox, ele não conseguiu atrair políticos do PRI
ou do PRD para o governo
nem fazer nada parecido a
uma coalizão. Ele também
queria que o conflito de Oaxaca fosse resolvido antes de
tomar posse, e não teve jeito.
São maus sinais."
TERRA DE MONOPÓLIOS
"O México desmantelou
um sistema autoritário e
uma economia estatizada.
Mas não desmantelou seus
muitos monopólios. Temos o
monopólio energético, da
Pemex, o monopólio sindical, da Pemex e dos professores, o monopólio privado, do
Carlos Slim, da Televisa, da
Cemex, e agora do Wal-Mart.
Enquanto não acabarmos
com esses monopólios, não
tivermos competição, acho
que dificilmente o México
vai crescer.
Por que não crescemos
tanto? Dependendo da resposta a essa pergunta, é que
você traça uma estratégia.
Sem as reformas estruturais,
sem quebrar monopólios,
sem fazer a reforma tributária, será difícil."
LIDERANÇA DA AL
"O Calderón falou que
quer recuperar o protagonismo do México na América
Latina. Isso é impossível.
Primeiro, porque isso é um
mito. O México nunca foi
protagonista na região. E
nosso maior interesse está
nos EUA. Segundo, porque a
própria chanceler que ele
nomeou tem perfil baixo, é
discreta, não imagino que vá
brigar por liderança."
RELAÇÃO COM EUA
"É verdade que cresceu o
discurso protecionista nos
EUA nos últimos anos, mas
não terá resultados práticos
para o México, pois nossos
acordos já estão assinados. A
maioria democrata pode ser
mais protecionista, mas a
conseqüência será maior para o Brasil, que também precisa decidir se quer Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) ou não quer, se
quer negociar com os EUA.
Mas, em relação à política
imigratória, será bem mais
fácil ter uma reforma inclusiva com os democratas. É
uma das poucas coisas em
que Calderón pode ser otimista."
GOVERNO FOX
"Nunca se venderam tantos carros, tantas casas, nunca houve tanto crédito como
agora. Melhor é uma palavra
forte, mas estamos "menos
mal" que nunca. O problema
é que as diferenças regionais
aumentaram, o norte continuou mais próspero, o sul tão
miserável, e o Nafta (Acordo
de Livre Comércio da América do Norte) só acentuou isso
pelas distâncias."
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