São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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Calderón disputa título de mais conservador da AL

Discurso do novo presidente mexicano dá prioridade à segurança, agenda da elite

Novo mandatário nomeia ministério direitista, fala em "mão dura" contra os criminosos e deixa área social em segundo plano

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Em menos de 48 horas como presidente do México, o conservador Felipe Calderón já pode disputar um título fora de moda na América Latina: o de ser o mandatário mais à direita no poder. Em uma região onde a centro-esquerda governa boa parte dos maiores países, Calderón se mostrou ainda mais à direita do que em campanha, nos primeiros discursos, nos slogans e com as nomeações para seu ministério.
Calderón venceu por pouco mais de 200 mil votos o candidato esquerdista Andrés Manuel López Obrador, menos de meio ponto percentual. Sua vitória foi contestada por várias denúncias de fraudes.
Ao ser confirmado no cargo, ele prometeu que faria um governo para todos os mexicanos e que daria prioridade à área social, como prometia o derrotado López Obrador - ídolo das massas pobres mexicanas, que venceu nos Estados mais miseráveis do país.
"Vou surpreender pela esquerda", disse Calderón, em agosto. Mas, em seu primeiro discurso como presidente eleito, Calderón falou que sua maior prioridade é a segurança. Disse diversas vezes que colocaria a "mão dura" da lei contra os criminosos. Só depois falou, e por menos tempo, em combater a pobreza, o que teoricamente seria o tema unificador em um país dividido.
Na sexta-feira, a transmissão de cargo, feita no Congresso, durou apenas quatro minutos, contada a execução do hino nacional. Não houve discurso de Calderón. Deputados da esquerda vaiaram, usaram apitos e gritaram "vai cair, vai cair". No mesmo horário, López Obrador, que se autointitula "presidente legítimo", discursava para 5.000 pessoas dizendo que "não haverá normalidade política enquanto não houver democracia".
Enquanto emprego e pobreza são os temas que mais preocupam os pobres mexicanos, a segurança é o tema prioritário para as classes média e alta. Mas a polícia mexicana, considerada violenta e corrupta, é a instituição mais impopular do país depois do Congresso, segundo pesquisas de opinião.
Organizações de direitos humanos criticaram duramente a nomeação de Francisco Ramírez Acuna como ministro do Interior, que é responsável por polícia e segurança. Como governador do Estado de Jalisco, Ramírez ordenou uma violenta repressão contra estudantes que se manifestavam contra a globalização em Guadalajara. Houve denúncias de 74 estudantes que teriam sofrido maus tratos, segundo a Comissão Nacional de Direitos Humanos.
"Já somos uma sociedade muito polarizada. Quando vemos que Calderón nomeia gente que representa apenas um pólo, ele não está cumprindo a promessa de estender a mão ao outro México, que não votou nele", disse à Folha o analista Jorge Zepeda Patterson, diretor da revista "Día Siete".
Zepeda dá como exemplo a nomeação de Eduardo Medina Mora como procurador geral da República. "Antes alguns presidentes nomeavam advogados ou juristas de prestígio para aparentar autonomia. Calderón nomeia um ultraconservador que já assessorou o Conselho Coordenador Empresarial. Mostra que a Justiça vai ficar nas mãos de um pólo."
Outra nomeação polêmica é a do novo ministro da Saúde, José Córdova. Ex-deputado ultraconservador, ele criticou a distribuição das pílulas anticoncepcionais conhecidas como do dia seguinte pelo atual governo mexicano.


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