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"Paras" põem Uribe na berlinda
Ligações entre governistas e grupo de extrema direita se aproximam cada vez mais do presidente colombiano
Investigações atingem base parlamentar e respingam em chanceler; analistas avaliam, no entanto, que Uribe deve acabar poupado
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Dono de índices de aprovação acima dos 70% durante a
maior parte de seus quatro
anos de governo (2002-2006) e
reeleito em primeiro turno
com avassaladores 62% em
maio último, o presidente da
Colômbia, Álvaro Uribe, enfrenta a maior crise de sua administração.
O terremoto político começou em 9 de novembro, quando
investigações da Corte Suprema levaram à detenção de três
parlamentares da base aliada
do presidente por supostos nexos com as AUC (Autodefesas
Unidas da Colômbia), grupo
paramilitar de direita responsável por algumas das maiores
atrocidades cometidas nas quatro décadas que já dura o conflito armado na Colômbia.
Dias depois, uma quarta congressista foi detida, e, em menos de um mês, já são 11 os parlamentares investigados pela
Corte Suprema -quase todos
aliados de Uribe.
A situação se complicou
quando outro senador uribista
disse que ele, ao lado de cerca
de 40 parlamentares e governadores colombianos, assinaram
em 2001 um pacto com as AUC
para defender seus interesses.
As investigações acabaram
por atingir indiretamente a
chanceler María Consuelo
Araújo, sob pressão para renunciar desde que o senador
Álvaro Araújo, seu irmão e um
dos nomes mais influentes da
coalizão uribista, confirmou ter
mantido reuniões a que chamou de "institucionais" com
chefes paramilitares.
A mais alta figura do governo
atingida é o ex-diretor da DAS,
a agência de inteligência, Jorge
Noguera, contra quem pesam
acusações de enriquecimento
ilícito e de fornecimento de informações sigilosas às AUC.
"Tentáculos"
A existência de vínculos entre políticos e paramilitares,
ainda que poucas vezes comprovada, nunca foi segredo na
Colômbia. Levantamento da
Fundação Segurança e Democracia aponta que nos últimos
dez anos ao menos 480 prefeitos e 1.200 vereadores podem
ter realizado acordos com paramilitares e que cerca de 2.000
empresários os financiaram.
"Em departamentos como
Magdalena, Cesar, La Guajira e
Bolívar, os tentáculos desse
grupo armado se colaram por
todos os resquícios do Estado e
asfixiaram qualquer tentativa
de legitimidade", relatou a revista "Semana".
"Os subsídios para saúde
eram para financiar armas, os
cartórios eram para legalizar
terras roubadas, os contratos
públicos eram para financiar a
guerra, os registradores regionais eram para roubar as eleições, os prefeitos e governadores, para consolidar seu poder
regional, e os congressistas, para se defender do poder nacional", afirma o texto.
A diferença agora, dizem os
analistas, é a proximidade com
os círculos do governo central
(leia entrevista nesta página).
Além disso, toca no que Uribe considera um de seus principais trunfos: o processo que
culminou na desmobilização
de 30 mil paramilitares.
O caso não atingiu Uribe diretamente. Na última quinta-feira, duas denúncias foram
apresentadas à Comissão de
Acusações da Câmara de Representantes para que o suposto vínculo do presidente com os
"paras" seja investigado.
O presidente nega. "Nunca,
nunca busquei ajuda dos paramilitares", disse na sexta-feira.
A comissão deve decidir se
rejeita as alegações ou se as
apresenta ao Congresso, que
decide então que ações adotar.
Para muitos analistas, porém, são poucas as chances de
haver maiores conseqüências
penais. O cientista político
Francisco Leal lembra o caso
do ex-presidente Ernesto Samper, absolvido em 1996 pela Câmara da acusação de ter tido
sua campanha eleitoral financiada pelo cartel de Cali.
"Olhando a história dos escândalos anteriores na Colômbia, as cabeças mais importantes nunca foram condenadas",
disse Leal à Folha. "Dada a precariedade das possibilidades de
investigação e o poder que o
presidente tem de administrar
o Orçamento, sou pessimista
de que a Câmara o acuse."
Com agências internacionais
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