São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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Da prisão, paramilitares chantageiam políticos, afirma analista

DA REDAÇÃO

Apesar de grave, a atual crise que enfrenta o presidente Álvaro Uribe não é suficiente para provocar ingovernabilidade e tampouco afetará a agenda legislativa do presidente. A avaliação é de Andrés Villamizar, especialista colombiano em temas militares. A seguir, trechos de sua entrevista à Folha, por telefone. (CVN)

 

FOLHA - Que poder as atuais denúncias têm de provocar uma crise de governabilidade para Uribe?
ANDRÉS VILLAMIZAR
- Não creio que vá haver uma crise de governabilidade, mas tudo depende de como Uribe administre a situação. A maioria dos envolvidos até agora faz parte ou da coalizão que o apóia no Congresso ou de seu próprio governo, como no caso do ex-diretor da DAS [a agência de inteligência]. Mas Uribe tem sabido se distanciar dos escândalos e mostrado que apóia as investigações, e a maioria da opinião pública não o associa pessoalmente aos escândalos.

FOLHA - De que maneira Uribe pode resolver essa crise?
VILLAMIZAR
- Ainda que ele não queira aceitar, ele tem de demitir a chanceler [María Consuelo Araújo]. Sua permanência no cargo é insustentável. E tem de dar todos os sinais de que apóia as investigações. Até o momento, Uribe fez isso, mas ele teve o problema de reagir não tanto como chefe de Estado mas como se fosse ainda candidato. Reagiu dizendo que também os liberais e o Pólo Democrático [esquerda] têm culpa e defendendo seu grupo político.

FOLHA - Que impacto as denúncias podem ter na sua agenda política?
VILLAMIZAR
- A agenda legislativa de Uribe nos temas fundamentais não vai ser afetada. Ele tem maioria sólida no Congresso, e o Tratado de Livre Comércio com os EUA deve ser ratificado sem problemas na Colômbia. Mas elas podem dificultar a aprovação do tratado nos EUA, que já estava complicada com a vitória democrata.

FOLHA - Essa crise coloca em xeque o processo de desmobilização dos "paras" promovido pelo governo ?
VILLAMIZAR
- Sim. Esse processo está paralisado neste momento e vai entrar em uma grande crise. Por quê? Porque o que se percebe do lado dos paramilitares é uma espécie de chantagem implícita, de ameaça implícita, de que vão contar mais sobre o que sabem, e os políticos estão muito quietos. Há outro sinal muito preocupante. Uribe, como também tem de se distanciar e endurecer sua posição em relação aos paramilitares, fez declarações ameaçando de extradição caso se descubra que ordenaram assassinatos do local onde estão reclusos. Agora, todos sabemos que os paramilitares continuaram com suas atividades criminosas desse local, com narcotráfico e assassinatos. Sobre isso, não há dúvidas. Portanto, se Uribe faz essa ameaça, uma hora ele vai ter de extraditar um ou outro chefe paramilitar e aí abriria uma crise muito grave.

FOLHA - O paramilitarismo não é de agora. Como foi sua relação com os governos anteriores?
VILLAMIZAR
- Os demais governos tiveram uma relação mais de tolerância e de negligência com os paramilitares. A diferença que se nota agora é uma proximidade muito mais clara e mais generalizada de membros da coalizão de Uribe e inclusive membros de seu governo com os paramilitares, o que não se via antes. Antes isso acontecia mais em nível local, com políticos locais ou membros das forças militares, uma espécie de aliança e de tolerância com os paramilitares.


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