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Da prisão, paramilitares chantageiam políticos, afirma analista
DA REDAÇÃO
Apesar de grave, a atual crise
que enfrenta o presidente Álvaro Uribe não é suficiente para
provocar ingovernabilidade e
tampouco afetará a agenda legislativa do presidente. A avaliação é de Andrés Villamizar,
especialista colombiano em temas militares. A seguir, trechos
de sua entrevista à Folha, por
telefone.
(CVN)
FOLHA - Que poder as atuais denúncias têm de provocar uma crise
de governabilidade para Uribe?
ANDRÉS VILLAMIZAR - Não creio
que vá haver uma crise de governabilidade, mas tudo depende de como Uribe administre a situação. A maioria dos envolvidos até agora faz parte ou
da coalizão que o apóia no Congresso ou de seu próprio governo, como no caso do ex-diretor
da DAS [a agência de inteligência]. Mas Uribe tem sabido se
distanciar dos escândalos e
mostrado que apóia as investigações, e a maioria da opinião
pública não o associa pessoalmente aos escândalos.
FOLHA - De que maneira Uribe pode resolver essa crise?
VILLAMIZAR - Ainda que ele não
queira aceitar, ele tem de demitir a chanceler [María Consuelo
Araújo]. Sua permanência no
cargo é insustentável. E tem de
dar todos os sinais de que apóia
as investigações. Até o momento, Uribe fez isso, mas ele teve o
problema de reagir não tanto
como chefe de Estado mas como se fosse ainda candidato.
Reagiu dizendo que também os
liberais e o Pólo Democrático
[esquerda] têm culpa e defendendo seu grupo político.
FOLHA - Que impacto as denúncias
podem ter na sua agenda política?
VILLAMIZAR - A agenda legislativa de Uribe nos temas fundamentais não vai ser afetada. Ele
tem maioria sólida no Congresso, e o Tratado de Livre Comércio com os EUA deve ser ratificado sem problemas na Colômbia. Mas elas podem dificultar a
aprovação do tratado nos EUA,
que já estava complicada com a
vitória democrata.
FOLHA - Essa crise coloca em xeque
o processo de desmobilização dos
"paras" promovido pelo governo ?
VILLAMIZAR - Sim. Esse processo está paralisado neste momento e vai entrar em uma
grande crise. Por quê? Porque o
que se percebe do lado dos paramilitares é uma espécie de
chantagem implícita, de ameaça implícita, de que vão contar
mais sobre o que sabem, e os
políticos estão muito quietos.
Há outro sinal muito preocupante. Uribe, como também
tem de se distanciar e endurecer sua posição em relação aos
paramilitares, fez declarações
ameaçando de extradição caso
se descubra que ordenaram assassinatos do local onde estão
reclusos. Agora, todos sabemos
que os paramilitares continuaram com suas atividades criminosas desse local, com narcotráfico e assassinatos. Sobre isso, não há dúvidas. Portanto, se
Uribe faz essa ameaça, uma hora ele vai ter de extraditar um
ou outro chefe paramilitar e aí
abriria uma crise muito grave.
FOLHA - O paramilitarismo não é
de agora. Como foi sua relação com
os governos anteriores?
VILLAMIZAR - Os demais governos tiveram uma relação mais
de tolerância e de negligência
com os paramilitares. A diferença que se nota agora é uma
proximidade muito mais clara e
mais generalizada de membros
da coalizão de Uribe e inclusive
membros de seu governo com
os paramilitares, o que não se
via antes. Antes isso acontecia
mais em nível local, com políticos locais ou membros das forças militares, uma espécie de
aliança e de tolerância com os
paramilitares.
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