São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2008

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Favela de palafitas pode ter sido ponto de desembarque

DO ENVIADO A MUMBAI

Uma pequena favela de palafitas, vizinha a rochedos em pleno mar Arábico, pode ter sido um dos locais de desembarque dos terroristas responsáveis pelo mais ousado atentado da Índia.
A polícia indiana acredita que os dez terroristas chegaram divididos a bordo de barcos infláveis. A quantidade de favelas ao redor da costa é tão grande que elas se tornaram passagem privilegiada para os terroristas -acredita-se que eles treinaram o desembarque algumas vezes nos últimos dois anos.
Moradores ainda assustados, pedindo anonimato, disseram à Folha que a polícia raramente passa por ali. Ao contrário das favelas brasileiras, não é o medo ou ameaças que afastam a presença dos policiais.
"Aqui é bem calmo, e somos invisíveis", resumiu um jovem pescador na área conhecida como "o píer da Colônia de Pescadores", cheia de barracos com chapas de madeira pintadas de azul.
A favela é vizinha a um complexo militar que supostamente é fechado para estrangeiros. Mas a reportagem da Folha circulou por ali sem ser barrada e até visitou uma igreja construída em 1830 por militares britânicos.
A menos de um quilômetro de distância, fica outro dos locais em que os terroristas teriam desembarcado -e um dos pontos turísticos mais famosos de Mumbai, o Portal da Índia, arco construído para celebrar a visita do rei britânico George 5º em 1911, com 26 metros de altura.
Quase em frente, atravessando um largo calçadão, fica o Taj Mahal, o hotel mais conhecido da cidade, sitiado pelos terroristas por 60 horas.
Os dez terroristas armados com fuzis AK-47, granadas, celulares por satélite e mochilas chegaram por volta das 21h da quarta-feira da semana passada e se dividiram em duplas.
Cada dupla abordou um táxi e foi diretamente para alguns dos pontos mais freqüentados pela elite local e por turistas, além de um centro judaico, a poucos metros dali.
Dois táxis explodiram pouco depois.

Segurança relaxada
A região ainda estava irreconhecível ontem. Um grande cordão de segurança evita a presença de curiosos ao redor do Portal e do Taj Mahal. Táxis e carros são impedidos de circular em um perímetro de quatro quarteirões.
Lojas, alguns bares e cinemas do bairro de Colaba instalaram detectores de metais na entrada e fazem revista de cada cliente.
À noite, porém, a reportagem pôde entrar no perímetro isolado sem precisar apresentar o cartão de imprensa. Os policiais fizeram sinal de "siga em frente".
Vários indianos fizeram o mesmo e driblaram a segurança local para prestar homenagens aos mortos -havia dezenas de velas perto do Portal da Índia.
Nas galerias comerciais ao redor do Taj, uma das áreas mais elegantes de Mumbai, dezenas de sem-teto dormiam apenas de shorts sob as arcadas, sem se incomodar com a forte presença policial.
No fim de tarde, centenas de pessoas voltaram a se reunir na Marine Drive, a avenida costeira de Mumbai, criando um tapete branco no calçadão a partir de várias cartolinas. Os manifestantes deixavam mensagens de homenagem aos mortos e aos policiais e com críticas aos políticos.
"Esses protestos normalmente não dão em nada, mas é a primeira vez que a elite local foi atingida. Quem sabe agora algo muda?", pergunta-se o arquiteto Saket Sethi.
Sem detector de metais, o café Leopold, um dos lugares atacados pelos terroristas, foi reaberto na noite de segunda-feira. Ontem ele estava cheio e havia fila para se conseguir uma mesa. (RJL)


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