São Paulo, quinta-feira, 03 de dezembro de 2009

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Debilitada, oposição tenta, no Senado, frear Evo Morales

Presidente boliviano, virtualmente reeleito segundo as pesquisas, encerra sua campanha na opositora Santa Cruz

Rocambolesco episódio de espionagem e erros políticos enfraqueceram opositores; gastos do Estado com rádio e TV alavancam esquerdista


FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA (BOLÍVIA)

Com Evo Morales virtualmente reeleito para mais cinco anos no poder na Bolívia, as forças de oposição do departamento de Santa Cruz, o rico bastião no leste do país, tentam impedir que o governo esquerdista consiga justamente aqui, nas eleições gerais do próximo domingo, 1 das 4 "vagas de ouro" para o Senado ainda em disputa, segundo as pesquisas. Com as cadeiras ou ao menos parte delas, o governo teria maioria qualificada na Casa, crucial para a implementação da nova Constituição.
Ontem, o penúltimo dia de campanha no país, a capital cruzenha parecia calma -ambiente bem distante da agitação que marcou o primeiro mandato de Morales. Partiu daqui, em 2006, a coordenação das maiores manifestações, marchas e locautes antigoverno.
Morales, que por meses foi praticamente impedido de vir a Santa Cruz, encerrou ontem a campanha governista na cidade, seguido de uma multidão -parte dela, transportada de La Paz. O objetivo do MAS (Movimento ao Socialismo) é subir seu teto de votos por ali, historicamente inferior a 30%.
De olho na classe média local, o governo escolheu profissionais liberais e gente de fora do partido para encabeçar listas de deputados e senadores.
Cada departamento elegerá quatro senadores. Em Santa Cruz, duas vagas ficariam com a oposição, uma com o MAS, e uma ainda estava em disputa. O governo espera eleger ao menos 20 dos 36 senadores, mas busca os dois terços da Casa.
"Ainda temos 50% dos votos aqui e achamos que vamos crescer. Há "voto oculto'", disse à Folha o pecuarista Javier Leigue Herrera, candidato a deputado na lista do principal opositor de Morales, Manfred Reyes Villa. O ex-governador do departamento de Cochambamba está quase 30 pontos atrás de Morales.
Leigue aposta que a oposição fará 3 dos 4 senadores e diz ter pesquisas do grupo americano Greenberg Quinlan Rosner Research -de Stanley Greenberg, um dos marqueteiros da campanha de Bill Clinton de 1992 que já atuara na eleição presidencial boliviana de 2002.

Uso da máquina
O intenso uso da máquina estatal na campanha também pressiona a oposição. Todos os ministérios fizeram publicidade maciça. A TV estatal e também a enorme rede de rádios, a Patria Nueva, engajaram-se na campanha.
Questionado, o ministro para as Autonomias, Carlos Romero, disse: "Não é a primeira vez que o governo tem um candidato na eleição. Informamos sobre os feitos da gestão". "Recebemos poucos recursos do empresariado, dos produtores. Há muito medo", reclama Leigue.
Sua frase demonstra o mau momento da oposição que, ancorada na força empresarial e agrícola local, sofreu duro revés no último ano por uma combinação de fatores: seus próprios erros políticos, como a radicalização dos protestos em setembro de 2008; a dificuldade de articular um projeto de apelo nacional; e a repercussão do desbaratamento de uma suposta célula terrorista que recebia financiamento de alguns opositores.


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