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Debilitada, oposição tenta, no Senado, frear Evo Morales
Presidente boliviano, virtualmente reeleito segundo as
pesquisas, encerra sua campanha na opositora Santa Cruz
Rocambolesco episódio de
espionagem e erros políticos
enfraqueceram opositores;
gastos do Estado com rádio
e TV alavancam esquerdista
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA
SIERRA (BOLÍVIA)
Com Evo Morales virtualmente reeleito para mais cinco
anos no poder na Bolívia, as
forças de oposição do departamento de Santa Cruz, o rico
bastião no leste do país, tentam
impedir que o governo esquerdista consiga justamente aqui,
nas eleições gerais do próximo
domingo, 1 das 4 "vagas de ouro" para o Senado ainda em disputa, segundo as pesquisas.
Com as cadeiras ou ao menos
parte delas, o governo teria
maioria qualificada na Casa,
crucial para a implementação
da nova Constituição.
Ontem, o penúltimo dia de
campanha no país, a capital
cruzenha parecia calma -ambiente bem distante da agitação
que marcou o primeiro mandato de Morales. Partiu daqui, em
2006, a coordenação das maiores manifestações, marchas e
locautes antigoverno.
Morales, que por meses foi
praticamente impedido de vir a
Santa Cruz, encerrou ontem a
campanha governista na cidade, seguido de uma multidão
-parte dela, transportada de
La Paz. O objetivo do MAS
(Movimento ao Socialismo) é
subir seu teto de votos por ali,
historicamente inferior a 30%.
De olho na classe média local,
o governo escolheu profissionais liberais e gente de fora do
partido para encabeçar listas de
deputados e senadores.
Cada departamento elegerá
quatro senadores. Em Santa
Cruz, duas vagas ficariam com
a oposição, uma com o MAS, e
uma ainda estava em disputa. O
governo espera eleger ao menos 20 dos 36 senadores, mas
busca os dois terços da Casa.
"Ainda temos 50% dos votos
aqui e achamos que vamos
crescer. Há "voto oculto'", disse
à Folha o pecuarista Javier
Leigue Herrera, candidato a
deputado na lista do principal
opositor de Morales, Manfred
Reyes Villa. O ex-governador
do departamento de Cochambamba está quase 30 pontos
atrás de Morales.
Leigue aposta que a oposição
fará 3 dos 4 senadores e diz ter
pesquisas do grupo americano
Greenberg Quinlan Rosner Research -de Stanley Greenberg,
um dos marqueteiros da campanha de Bill Clinton de 1992
que já atuara na eleição presidencial boliviana de 2002.
Uso da máquina
O intenso uso da máquina estatal na campanha também
pressiona a oposição. Todos os
ministérios fizeram publicidade maciça. A TV estatal e também a enorme rede de rádios, a
Patria Nueva, engajaram-se na
campanha.
Questionado, o ministro para
as Autonomias, Carlos Romero, disse: "Não é a primeira vez
que o governo tem um candidato na eleição. Informamos sobre os feitos da gestão". "Recebemos poucos recursos do empresariado, dos produtores. Há
muito medo", reclama Leigue.
Sua frase demonstra o mau
momento da oposição que, ancorada na força empresarial e
agrícola local, sofreu duro revés
no último ano por uma combinação de fatores: seus próprios
erros políticos, como a radicalização dos protestos em setembro de 2008; a dificuldade de
articular um projeto de apelo
nacional; e a repercussão do
desbaratamento de uma suposta célula terrorista que recebia
financiamento de alguns opositores.
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