São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2002

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ABUSO

Condenados foram decapitados

Arábia Saudita executa 3 por homossexualismo

MOUNA NAIM
DO "LE MONDE"

Três sauditas acusados de homossexualismo foram decapitados no dia 1º de janeiro no sul da Arábia Saudita. Segundo o comunicado do Ministério do Interior do país, Ali Ben Hatan Ben Saad, Mohammad Ben Souleiman Ben Mohammad e Mohammad Ben Khalil Ben Abdallah foram condenados à morte depois de se reconhecerem culpados de "homossexualismo, casamento entre eles e incitação à sedução de menores", atos descritos como "o cúmulo da torpeza e da infâmia".
O Ministério da Informação saudita disse que o país "considera a pena capital o meio mais eficaz de salvaguardar o direito humano mais elementar: o direito à vida". Na Arábia Saudita, as pessoas culpadas por assassinato, estupro e apostasia (mudança de religião), além de traficantes de drogas, são condenadas à morte.
Em 2001, ao menos 80 pessoas foram executadas no país, segundo a agência de notícias France Presse. O grupo americano de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) criticou a Justiça saudita e o silêncio dos EUA, um dos principais aliados do país.
"Não existe nenhuma proteção eficaz contra as prisões arbitrárias, a detenção sem culpa e a tortura", afirmou a ONG americana. "O reino continua inacessível às organizações de direitos humanos, e ninguém no país ousa se engajar abertamente na vigilância das violações aos direitos humanos."
Em relatório, a HRW critica também a indiferença americana quanto às violações da Arábia Saudita, eleita em maio de 1999 membro da comissão de direitos humanos da ONU. "Os tribunais sauditas continuam a impor sanções cruéis, desumanas e degradantes", diz.
O grupo também faz críticas a um regime que, "com a ausência de órgãos eleitos em nível nacional e local e de qualquer instituição independente do governo ou de seus aliados no interior da administração religiosa oficial, permite à família real monopolizar o poder".
Em editorial, o jornal francês "Le Monde" afirma que "o regime saudita, um dos principais aliados dos Estados Unidos na região, é tão fanático quanto o do mulá Omar em Cabul [capital do Afeganistão". Não é por acaso que a Arábia Saudita foi um dos únicos países a reconhecer o Afeganistão do Taleban e a apoiá-lo ativamente até os atentados de 11 de setembro. Riad defendia ali sua versão do islã".
"A dinastia dos Saud [que controla o país", cuja legitimidade nem sempre é reconhecida, compra sua tranquilidade pagando ordenados a uma hierarquia religiosa", disse o editorial, de acordo com o qual "a sociedade saudita é também vítima, de certa maneira, de uma esquizofrenia coletiva: tudo é permitido quando permanece escondido, mas qualquer liberdade declarada, condenável".



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