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Oposição no Quênia adia ato e evita confronto
Polícia cerca manifestantes quando se dirigiam a local da manifestação
Adiamento possibilitaria diálogo, mas exigências do presidente reeleito
em votação contestada irritam líderes opositores
Noor Khamis/Reuters
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Manifestante carrega uma pedra durante confrontos com a polícia em Nairóbi; opositores foram impedidos de chegar ao centro da cidade
ANA FLOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NAIRÓIBI
O adiamento do ato em protesto contra fraudes nas eleições presidenciais do Quênia,
marcado pela oposição para
ontem em Nairóbi, evitou o enfrentamento entre milhares de
manifestantes e a polícia no
centro da capital. O principal
partido de oposição, o Movimento Democrático Laranja
(ODM, em inglês), decidiu
adiar a manifestação por pelo
menos um dia.
Enquanto milhares de quenianos que desde cedo tentavam se deslocar para o centro,
onde a manifestação deveria
ocorrer, eram contidos pela polícia, o principal líder da oposição e candidato à Presidência
Raila Odinga, 62, se reunia com
líderes políticos, religiosos e representantes de organizações
internacionais.
No meio da tarde, os líderes
do ODM anunciaram que a manifestação havia sido transferida para a próxima terça-feira,
abrindo espaço para negociações com o governo.
Mas, poucas horas mais tarde, o presidente reeleito, Mwai
Kibaki, 76, foi à televisão para
dizer que a oposição deveria
contestar o resultado das eleições na Justiça. Condenando a
violência no país, Kibaki disse
que negociaria com quem o reconhecesse como presidente.
As declarações de Kibaki fizeram desmoronar grande parte dos esforços diplomáticos de
representantes da União Européia, Nações Unidas e países
ocidentais como os EUA e Reino Unido, que pediam que os
dois lados negociassem.
Pouco depois, o ODM anunciou que o ato ocorreria hoje,
em Nairóbi. Os protestos iniciados depois do anúncio da
reeleição de Kibaki, no último
domingo, já provocaram 300
mortes pelo país. Os principais
alvos dos manifestantes são
quenianos da etnia kikuyu, a
mesma do presidente.
O agravamento da situação
mobilizou líderes como o Nobel da Paz sul-africano Desmond Tutu, que foi a Nairóbi
para mediar a situação após saber que dezenas de pessoas foram carbonizadas quando tentavam se refugiar em uma igreja em Eldoret, há três dias.
Ontem, pela primeira vez, o
procurador-geral do país foi a
público pedir uma auditoria
nas eleições. Nos dias anteriores, Amos Wako havia sido criticado por ter auxiliado na posse do presidente reeleito, minutos depois da divulgação dos
resultados oficiais.
Casas incendiadas
Na periferia de Nairóbi e nas
favelas, os manifestantes eram
ontem contidos com canhões
de água e bombas de gás lacrimogêneo. A multidão tentava
chegar ao parque Uhuru, o
principal de Nairóbi, levando
nas mãos ramos de árvores. A
polícia fez bloqueios e obrigou
aqueles que carregavam facas e
paus a se desarmarem.
Casas continuaram a ser
queimadas nas favelas, aumentando o número de desabrigados, em torno de cem mil. Apesar da tensão, manifestantes e
policiais evitaram um enfrentamento sangrento. Em algumas áreas, líderes dos manifestantes pediam calma.
A frustração de muitos quenianos era a de não ter o direito
de manifestar sua insatisfação
com o desfecho das eleições do
último dia 27. "Eu quero poder
dizer ao governo que me senti
enganado, que fui levado a
acreditar que meu voto tinha
valor e acabei vendo a corrupção tomar o poder", dizia o desempregado Simeon Okata.
Em frente ao parque onde o
protesto deveria acontecer, dezenas de pessoas esperavam a
chegada dos manifestantes.
Ninguém teve acesso ao local,
bloqueado pela tropa de choque da polícia.
O estudante e estagiário de
direito Steve Nigulu, 23, foi ao
local com oito amigos, mas o
grupo precisou usar caminhos
diferentes para não chamar a
atenção da polícia. "Queríamos
estar aqui para mostrar ao presidente que não são apenas os
políticos da oposição que estão
insatisfeitos, como eles dizem.
Nós somos cidadãos e temos
opinião própria."
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