São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Raúl Castro volta a acenar a Obama

Líder cubano diz que conversa com presidente eleito deve ser "de igual para igual" e sem intermediários

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

O dirigente cubano Raúl Castro voltou a fazer um aceno de diálogo à Casa Branca de Barack Obama, que assume no próximo dia 20, e disse esperar que o novo líder americano estabeleça uma "política justa" para a ilha. "No dia em que quiser discutir, discutiremos. Mas como iguais e sem a menor sombra sobre a nossa soberania." Ele pediu que a conversa se dê "sem intermediários".
Em entrevista à estatal TV cubana, concedida no dia 31 e exibida na íntegra na noite de sexta-feira, Raúl -que, em ocasiões anteriores já havia expressado disposição ao diálogo- afirmou que a eleição de Obama gerou muitas esperanças no mundo. Há expectativa inclusive em Cuba, onde muitos elogiam o presidente eleito.
"Penso que a esperança é excessiva [em torno de Obama]. Dizem que é honesto, e creio que é. Mas um homem não pode mudar o destino de um país. Tomara que eu esteja errado", continuou. "Quanto a nós, espero que tenha uma política que seja justa."
Desde 1962, os EUA impõem um embargo econômico à ilha comunista. Washington não tem relações diplomáticas formais com Cuba, e mantém um escritório de promoção de "mudança do regime" local. Obama será o primeiro presidente americano, desde Jimmy Carter (1977-1983), a cogitar ter os Castro como interlocutores em uma negociação.
O presidente cubano teceu comentários sobre outros projetos de Obama. "[Creio que Obama] possa fazer avançar ideias mais justas. Poderá interromper uma quase ininterrupta série, a de que quase cada presidente americano teve sua guerra. Dizem que vai sair do Iraque. Uma boa notícia. Dizem que vai dobrar as tropas no Afeganistão: má notícia. É preciso deixar os afegãos quietos."
Como havia dito no Brasil, há três semanas, Raúl repetiu que a negociação será "gesto por gesto" e reiterou a rejeição à estratégia de "porrete e cenoura" -Fidel Castro, em recente artigo, disse que Cuba não discutiria dessa forma.
"Não estamos apressados, não estamos desesperados. Seguiremos esperando pacientemente. Coisa incrível que sejam pacientes os cubanos. [Mas isso] já demonstramos."
Na entrevista, Raúl ainda comemorou a entrada de Cuba no Grupo do Rio, o primeiro órgão multilateral da região a que adere desde sua suspensão da OEA (Organização dos Estados Americanos), em 1962.


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