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Pai de brasileira morta pede "arejamento"
Ativista cuja filha foi vítima de foguete em Israel elogia ideia do Brasil de incluir mais países em negociações de paz
"Farei o que puder para que outros pais, israelenses e palestinos, não tenham que enterrar seus filhos", diz o paulista Natan Galkovitz
DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
Tocado de forma trágica pelo
conflito entre israelenses e palestinos, o paulista Natan Galkovitz mantém a esperança no
diálogo, mas acha que é hora de
trocar os intermediários. Desde que sua filha foi morta por
um foguete perto da fronteira
com Gaza, em 2005, ele busca
mobilizar atenções pelo mundo
para combater o fanatismo e
ajudar outras vítimas do terror.
Há poucos dias, enviou uma
mensagem para o ministro das
Relações Exteriores Celso
Amorim, elogiando a ideia brasileira de ampliar o grupo de
mediadores do processo de paz.
Desde 1979 em Israel, onde
chegou com 27 anos, ele também se ofereceu para compartilhar sua experiência como vítima do conflito.
"Eu sei o que é perder uma filha, ir para o hospital e reconhecer um corpo no necrotério. Não desejo isso para ninguém", disse Natan à Folha.
"Por isso farei o que puder para
que outros pais, israelenses e
palestinos, não tenham de enterrar mais seus filhos."
Sua vida mudou para sempre
no dia 14 de julho de 2005,
quando a filha Dana, 22, foi
morta pelo impacto direto de
um morteiro lançado por extremistas de Gaza. Desde então, Natan tem se dividido entre o restaurante de comida
brasileira que mantém no kibutz (comunidade agroindustrial) Bror-Hail, a poucos quilômetros de Gaza, e o ativismo
pelo fim da violência.
No ano passado, ajudou a arrecadar US$ 1 milhão para vítimas do terror. Além disso, dá
palestras e escreve cartas para
governos estrangeiros, especialmente aqueles que estão fora do círculo atual de negociação do processo de paz. Sua
meta coincide com a proposta
recente do presidente Lula, de
"arejar" as conversas, com a inclusão de novos participantes.
Papel do Brasil
"Os Estados Unidos não servem mais como mediadores
porque perderam completamente a credibilidade entre os
árabes", diz Natan. "Por isso
precisamos trazer mais países
para a mesa de negociação, sobretudo países neutros como
Brasil, Índia e México."
Para Natan, o Brasil deveria
ir além e preparar um documento com propostas para
avançar o processo da negociação de paz entre israelenses e
palestinos. "Eu sei que o Brasil
historicamente não tem influência na região", reconhece.
"Mas a vantagem é que é bem-visto pelos dois lados."
O restaurante que abriu em
2006 no Bror-Hail, conhecido
como o kibutz dos brasileiros,
foi uma das formas que encontrou de homenagear a filha, que
tinha dupla cidadania. "No restaurante eu continuo preparando tudo o que ela gostava,
como feijoada e estrogonofe."
Embora creia que a ofensiva
israelense era "inevitável" para
responder aos mísseis do Hamas, Natan teme que a "incompetência" do governo israelense impeça que ela se transforme em segurança e leve a uma
solução política.
E não tem dúvidas de que a
campanha eleitoral está tendo
influência sobre as decisões
militares. "O governo israelense só pensa nas eleições, e isso
está prejudicando os dois lados.
Sem a colaboração da comunidade internacional, esse conflito não terá solução."
No kibutz Zikim, também no
raio de alcance dos foguetes de
Gaza, um outro brasileiro concorda com Natan. Marc Levi,
60, diz que o Hamas é uma "organização problemática", pois
não reconhece o direito de existência de Israel, mas que não há
solução militar para o impasse.
"Temos de usar essa operação para obter facilitar uma solução política", diz Levi, que
considera inevitável uma eventual negociação com os fundamentalistas. A conversa por telefone com a Folha é interrompida pelo som de uma sirene,
anunciando a iminente queda
de mais um foguete. "Essa é a
nossa rotina", diz Levi, em um
tom resignado.
(MARCELO NINIO)
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