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Países pedem organização ambiental com mais poder
Lideradas pela França, 46 nações querem agência da ONU com maior autonomia
Nova entidade seria feita
nos moldes da OMS e teria
maior escopo de ação que
o Pnuma, atual programa
das Nações Unidas
DA REUTERS
Quarenta e seis países assinaram ontem o pedido de criação de uma agência ambiental
mais poderosa no âmbito da
ONU (Organização das Nações
Unidas) sob a justificativa de
que o aquecimento global coloca a sobrevivência da humanidade em risco. Estados Unidos,
China e Rússia não assinaram o
documento.
"Temos de perceber que chegamos a um ponto de não-retorno e causamos danos irreparáveis", afirmava um dos trechos mais contundentes do documento "Paris Call for Action"
(Chamada à Ação em Paris), lido em voz alta pelo presidente
da França Jacques Chirac ao
fim de uma conferência de dois
dias no Palácio do Elysée.
O pronunciamento em tom
convocatório foi feito um dia
após o lançamento do quarto
relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança
Climática). Os cientistas que
elaboraram o documento, com
grau inédito de confiabilidade,
prevêem que aumento médio
da temperatura terrestre será
de de 3C neste século e que a
elevação do nível do mar persistirá por séculos, podendo
passar de 50 cm já em 2100.
"Demo-nos conta de que todo o planeta está em risco, que
o bem-estar, a saúde, a segurança e a própria sobrevivência
da humanidade estão em jogo",
disse Chirac após conversar
com políticos, cientistas, empresários e diplomatas.
O apelo anunciado em Paris é
pela criação de uma nova agência sob a sigla Oanu (Organização Ambiental das Nações Unidas) para combater ameaças
como o aquecimento global, a
escassez de água doce e a perda
de biodiversidade. O documento pede uma "ação internacional maciça para enfrentar a crise ambiental". A agência proposta teria mais poder do que o
Pnuma (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente),
que tem escopo de ação bem
mais limitado.
O "Paris Call for Action" recebeu apoio dos países da
União Européia e de diversos
outros, como Argélia, Equador,
Camboja, Ilhas Seychelles, Gabão e Burundi. Todos os signatários não-europeus são países
com risco de sofrer conseqüências mais graves por conta da
elevação da temperatura e do
nível do mar. As nações que
mais emitem gases do efeito-estufa, porém, estavam ausentes de uma lista distribuída pelo gabinete de Chirac.
Marrocos declarou ontem
que aceita abrigar um encontro
de nações favoráveis à criação
da Oanu. A França está, por enquanto, capitaneando a iniciativa, mas ainda não está claro se
continuará a fazê-lo após a saída de Chirac, em maio.
A proposta inicial é que a Oanu seja composta nos moldes
da OMS (Organização Mundial
da Saúde), que tem mais autonomia do que o Pnuma, e poderia ajudar a coordenar ações governamentais, promover financiamentos, pesquisas e maneiras de distribuir tecnologias.
Alguns delegados no encontro em Paris, porém, alertaram
que criar novas instituições burocráticas não facilitaria a ação.
Mas outros afirmaram que a
Oanu ajudaria mais, por exemplo, a cobrir lacunas científicas.
"Hoje gastamos muito mais
em pesquisa espacial do que
tentando descobrir como a
biosfera funciona", disse, Valli
Moosa, chefe da ONG ambientalista WCU (União Mundial da
Conservação). Segundo ele, é
improvável que o planeta consiga atingir a meta fixada para
2010 em um acordo internacional para preservação da biodiversidade, assinado em 2002.
Pé no freio
A chanceler alemã, Angela
Merkel, declarou ontem ser favorável a leis que imponham
um limite de emissão de gás
carbônico para veículos novos
na União Européia como parte
de um esforço para combater a
mudança climática.
"Apóio cortes adicionais no
dióxido de carbono dos carros",
disse, em entrevista ao jornal
"Bild". "Precisamos de metas
ambiciosas, mas diferentes, para as reduções em distintos
mercados para automóveis."
Na opinião de Merkel, seria
injusto impor metas iguais para
todos os modelos de carro, e o
tamanho do veículo deve ser levado em consideração.
A chanceler rejeita, porém, a
imposição de limites de velocidade nas estradas alemãs como
parte da saída. (Carros tendem
a consumir combustível de maneira menos eficiente em velocidades muito altas e jogam
mais carbono na atmosfera.)
Merkel, que detém agora a
presidência rotativa da União
Européia, se declarou favorável
a cortar em pelo menos 1% das
emissões de carbono do bloco
de países até 2011.
Com Associated Press
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