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Franceses penam para regular vida sem cigarro
País discute se patrões poderão descontar o tempo gasto para tragadas na rua
Prefeito de Paris quer que empresas recolham bitucas que funcionários jogam na calçada; donos de bares têm até 2008 para se adaptar
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Com a nova legislação antitabagismo que entrou em vigor
na última quinta-feira, o governo francês, alinhado com as autoridades da Comunidade Européia, tem dois objetivos explícitos: proteger a saúde dos
não-fumantes e diminuir o
consumo de tabaco.
Desde o dia 1º de fevereiro,
não é mais permitido fumar em
locais públicos como escolas,
universidades, escritórios e repartições públicas. As exceções
à regra são as instituições psiquiátricas e presídios. A proibição de fumar no local de trabalho, porém, já cria situações
constrangedoras para os empregadores e para os trabalhadores fumantes em relação à
pausa para o cigarro.
Sem as áreas específicas para
fumantes dentro das empresas,
a única opção para quem fuma
é ir para a rua. Cálculos de especialistas apontam que uma pessoa que fume dez cigarros por
dia pode gastar até uma hora e
meia do seu tempo de trabalho
para sair da sua mesa, se locomover, ir até a rua, fumar e fazer o percurso de volta.
"Eu concordo com a proibição de fumar no meu escritório,
mas não é por causa dessa lei
que eu vou parar de fumar.
Sempre que tiver vontade, vou
para rua fumar sem problemas", disse a bancária Adeline
Moin, que se espremia numa
calçada estreita com outros
funcionários de uma agência
bancária no boulevard de Magenta, no 10º distrito de Paris.
Para a funcionária, a escapada para fumar é simples, já que
na sua agência não há a necessidade de utilizar o elevador para
chegar à rua. Para quem trabalha em grandes empresas, como as situadas nos arranha-céus do bairro parisiense La
Défense, o trajeto pode ser
acrescido em até 10 minutos.
O esforço, entretanto, é necessário. Agentes de controle
do governo serão encarregados
de fiscalizar o cumprimento da
legislação. Para o empregado
que for surpreendido fumando
no escritório, está prevista uma
multa de 68. Para o empregador, o valor é de 135.
As empresas também vão ter
que se preparar para lidar com
a limpeza pública. Prevendo
um acúmulo monumental de
bitucas de cigarro nas portas
das empresas, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, prepara
uma legislação para obrigar as
companhias a varrer e se ocupar da limpeza da sujeira deixada pelos seus funcionários. A
Confederação Geral das Pequenas e Médias Empresas da
França pediu tolerância ao governo na aplicação das multas.
Além dessa questão, há ainda
outro problema não previsto
pela lei: o salário pode ser descontado pelas horas a menos
trabalhadas por causa do intervalo maior para fumar? A princípio, vale o bom senso. Fica a
cargo de cada companhia estipular as normas e coibir abusos. "No meu escritório ninguém tocou nesse assunto, mas
não é porque uma pessoa está
na mesa e não na rua fumando
que ela está trabalhando mais
do que eu, não é?", comenta
Alex Ustaoglu, empregado em
uma empresa de informática.
Hoje, a França tem um contingente de 10 milhões de fumantes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde,
40% dos trabalhadores que fumam regularmente morrem
antes de se aposentar por causa
de doenças associadas ao tabagismo. Entre os não-fumantes,
essa proporção cai para 18%.
Ainda segundo a associação,
os fumantes custam, em média,
2.300 a mais que um colega
que não fuma, por causa de um
número maior de faltas ou de
acidentes de trabalho.
Preocupadas com esses números, as autoridades francesas também decidiram investir
100 milhões em programas
para ajudar a deixar o vício. Um
terço dos gastos com adesivos,
chicletes e outros medicamentos para superar a dependência
de nicotina poderá ser reembolsado. Estima-se que, anualmente, 600 mil pessoas na
França tentem parar de fumar.
Nova fase
A imagem do francês sentado
num bistrô lendo jornal e fumando está com os dias contados. Para restaurantes, bares e
boates, a interdição passa a valer em janeiro de 2008. A nova
etapa da luta contra o tabagismo inquieta os proprietários de
pequenos comércios. "Vamos
ter que nos adaptar. Não tem
jeito", diz Viktor Suhkanov, dono de um bar em Paris.
Os estabelecimentos que
contam com terraços ou locais
abertos poderão destiná-los
para os fumantes. A lei segue o
exemplo de vizinhos europeus,
como a Espanha e o Reino Unido. Atualmente, não há uma legislação européia comum sobre
o fumo, mas a Comissão Européia debate essa possibilidade.
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