São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

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Franceses penam para regular vida sem cigarro

País discute se patrões poderão descontar o tempo gasto para tragadas na rua

Prefeito de Paris quer que empresas recolham bitucas que funcionários jogam na calçada; donos de bares têm até 2008 para se adaptar

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Com a nova legislação antitabagismo que entrou em vigor na última quinta-feira, o governo francês, alinhado com as autoridades da Comunidade Européia, tem dois objetivos explícitos: proteger a saúde dos não-fumantes e diminuir o consumo de tabaco.
Desde o dia 1º de fevereiro, não é mais permitido fumar em locais públicos como escolas, universidades, escritórios e repartições públicas. As exceções à regra são as instituições psiquiátricas e presídios. A proibição de fumar no local de trabalho, porém, já cria situações constrangedoras para os empregadores e para os trabalhadores fumantes em relação à pausa para o cigarro.
Sem as áreas específicas para fumantes dentro das empresas, a única opção para quem fuma é ir para a rua. Cálculos de especialistas apontam que uma pessoa que fume dez cigarros por dia pode gastar até uma hora e meia do seu tempo de trabalho para sair da sua mesa, se locomover, ir até a rua, fumar e fazer o percurso de volta.
"Eu concordo com a proibição de fumar no meu escritório, mas não é por causa dessa lei que eu vou parar de fumar. Sempre que tiver vontade, vou para rua fumar sem problemas", disse a bancária Adeline Moin, que se espremia numa calçada estreita com outros funcionários de uma agência bancária no boulevard de Magenta, no 10º distrito de Paris.
Para a funcionária, a escapada para fumar é simples, já que na sua agência não há a necessidade de utilizar o elevador para chegar à rua. Para quem trabalha em grandes empresas, como as situadas nos arranha-céus do bairro parisiense La Défense, o trajeto pode ser acrescido em até 10 minutos.
O esforço, entretanto, é necessário. Agentes de controle do governo serão encarregados de fiscalizar o cumprimento da legislação. Para o empregado que for surpreendido fumando no escritório, está prevista uma multa de 68. Para o empregador, o valor é de 135.
As empresas também vão ter que se preparar para lidar com a limpeza pública. Prevendo um acúmulo monumental de bitucas de cigarro nas portas das empresas, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, prepara uma legislação para obrigar as companhias a varrer e se ocupar da limpeza da sujeira deixada pelos seus funcionários. A Confederação Geral das Pequenas e Médias Empresas da França pediu tolerância ao governo na aplicação das multas.
Além dessa questão, há ainda outro problema não previsto pela lei: o salário pode ser descontado pelas horas a menos trabalhadas por causa do intervalo maior para fumar? A princípio, vale o bom senso. Fica a cargo de cada companhia estipular as normas e coibir abusos. "No meu escritório ninguém tocou nesse assunto, mas não é porque uma pessoa está na mesa e não na rua fumando que ela está trabalhando mais do que eu, não é?", comenta Alex Ustaoglu, empregado em uma empresa de informática.
Hoje, a França tem um contingente de 10 milhões de fumantes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 40% dos trabalhadores que fumam regularmente morrem antes de se aposentar por causa de doenças associadas ao tabagismo. Entre os não-fumantes, essa proporção cai para 18%.
Ainda segundo a associação, os fumantes custam, em média, 2.300 a mais que um colega que não fuma, por causa de um número maior de faltas ou de acidentes de trabalho.
Preocupadas com esses números, as autoridades francesas também decidiram investir 100 milhões em programas para ajudar a deixar o vício. Um terço dos gastos com adesivos, chicletes e outros medicamentos para superar a dependência de nicotina poderá ser reembolsado. Estima-se que, anualmente, 600 mil pessoas na França tentem parar de fumar.

Nova fase
A imagem do francês sentado num bistrô lendo jornal e fumando está com os dias contados. Para restaurantes, bares e boates, a interdição passa a valer em janeiro de 2008. A nova etapa da luta contra o tabagismo inquieta os proprietários de pequenos comércios. "Vamos ter que nos adaptar. Não tem jeito", diz Viktor Suhkanov, dono de um bar em Paris.
Os estabelecimentos que contam com terraços ou locais abertos poderão destiná-los para os fumantes. A lei segue o exemplo de vizinhos europeus, como a Espanha e o Reino Unido. Atualmente, não há uma legislação européia comum sobre o fumo, mas a Comissão Européia debate essa possibilidade.


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