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ANÁLISE
Envolvimento traz mais dúvidas do que certezas
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se realmente ocorrer, o envolvimento do Brasil na negociação nuclear com o Irã trará
mais dúvidas do que certezas.
Aos fatos: os países vêm conversando sobre interesses mútuos no campo nuclear, e Teerã
falou sobre o papel brasileiro
no plano de enriquecer seu urânio no exterior.
Esse acordo visa que a AIEA
saiba quanto urânio o Irã tem e,
sobretudo, seu grau de enriquecimento -o que define se vai
girar uma turbina ou explodir
numa bomba. A última etapa de
enriquecimento seria feita na
França ou na Rússia.
Para o discurso público do
Itamaraty, soa como música ter
o Brasil como ator nessa trama,
uma das maiores e mais perigosas disputas políticas em curso
no mundo hoje.
Mas a natureza secreta das
conversas com os aiatolás deixa
uma pulga atrás da orelha do
principal interessado em que o
Irã não tenha a bomba, os EUA.
Como Teerã já tem um acordo
nuclear obscuro com a Venezuela de Hugo Chávez, seus
movimentos na região são observados com atenção.
Não por acaso Washington
pressiona Brasília a aderir aos
protocolos adicionais do TNP,
que tratam do controle do material físsil. Os EUA também
querem que o Brasil, como 1
dos 3 países com grandes reservas de urânio e a tecnologia para enriquecê-lo, aceite um banco de combustível atômico sob
o controle da AIEA.
Há outras nuances, centradas no papel da França. Desde
que assinou com o Brasil uma
parceria estratégica e fechou
acordos militares bilionários, o
país prospecta negócios nucleares. A agressiva estatal
francesa Areva tem interesse
nas reservas daqui, segundo envolvidos na negociação para a
construção do submarino nuclear franco-brasileiro.
Outra especulação envolvendo os franceses dá conta de que
Nicolas Sarkozy, adversário do
Irã, pediu ajuda ao Brasil para
fazer a escala do urânio iraniano. Por fim, é ventilado até um
interesse brasileiro em tecnologia de mísseis iraniana.
De todo modo, não é claro o
papel do Brasil. Se for estocagem em nome da AIEA, não há
óbices técnicos. Mas se houver
algum grau de enriquecimento
do urânio no Brasil, isso leva a
questionamentos.
O enriquecimento é um processo em que o gás hexafluoreto de urânio, cuja conversão a
partir de um composto do minério chamado yellow cake só
será feita no Brasil no fim do
ano, é girado em alta velocidade
em centrífugas. O urânio enriquecido, para uso industrial,
médico ou militar, é separado
no processo e reconvertido em
material sólido.
A unidade das Indústrias Nucleares Brasileiras em Resende
(RJ), com equipamentos fornecidos pelo centro da Marinha
em Iperó (SP), fornece cerca de
5% do combustível das usinas
Angra 1 e 2 (hoje ele ainda passa
antes pelo Canadá para a conversão em gás).
Caso o produto iraniano fosse pré-enriquecido aqui, fica a
dúvida sobre a capacidade de
escala de fazê-lo e até qual grau
-o enriquecimento para Angra
é da ordem de 3%.
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