São Paulo, domingo, 04 de março de 2001

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EUA
Pedaço mais rico da cidade mais rica do país mais rico do mundo tem área menor que o bairro de Santo Amaro, em São Paulo
Sem espaço, Manhattan cresce "para dentro"

Associated Press
Pedestre e ciclista em cruzamento da rua Malcom X com a 125, no Harlem, bairro que passa por "renascimento" cultural e urbano


DE NOVA YORK

A ilha de Manhattan, em Nova York, tem 21,5 km de comprimento e 3,7 km de largura. A área é menor do que a do bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Assim, o pedaço mais rico da cidade mais rica do país mais rico do mundo tem de crescer para cima e para dentro.
Para cima não é mais novidade na terra dos arranha-céus. Para dentro, sim. Com aluguel de US$ 2.700, em média, para apartamentos de um quarto e os principais bairros tomados, Manhattan descobriu que não pode mais se dar ao luxo de ter "áreas ruins".
Assim, regiões até então abandonadas ou desprezadas começam a ser "redescobertas" pelos corretores. A mais recente é Alphabet City, no East Village, que tem esse nome porque abriga as avenidas A, B, C e D, entre as ruas 14 e Houston.
Habitada desde o começo do século por imigrantes do Leste Europeu, foi berço do movimento punk nova-iorquino nos anos 80. Logo depois, virou paraíso de traficantes e consumidores de drogas, principalmente em torno da Tompkins Square e seus prédios invadidos. Não mais.
De menos de dois anos para cá, a região vê restaurantes sendo abertos e lojas de grife abrindo filiais. Corretores a chamam agora de "New Alphabet City" e falam em mil unidades residenciais colocadas no mercado só nos últimos 12 meses.
A corretora Douglas Elliman, uma das maiores da cidade, lançou 16 unidades de um prédio novo na rua Sete, no centro da área, há dois meses, com preços entre US$ 185 mil (kitchenette) a US$ 545 mil (dois quartos). Vendeu tudo em 40 dias.
No outro extremo da ilha está o Hell's Kitchen (ou "cozinha do inferno"), que passa pela mesma cirurgia plástica. Ao lado da Broadway, o bairro era mais lembrado por ser a passagem em direção a Nova Jersey e o lugar das linhas de trem abandonadas.
Há pouco tempo, moradores cansados dos preços dos vizinhos Upper West Side e Chelsea passaram a enxergar a vizinhança com outros olhos. É perto de tudo, tem metrô ao lado e vista para o rio Hudson. Antes que alguém se perguntasse "por que só tem oficina mecânica de táxis aqui?", a invasão aconteceu.
O aluguel subiu, é fato, e a atriz brasileira Luana Piovani foi uma das que mudaram para o pedaço. Mas os planos gerais da cidade são mais ambiciosos do que só a revitalização do lugar. O time de beisebol Jets, que usa dependências emprestadas de concorrentes, planeja construir sua sede para 70 mil torcedores na região.
Os dirigentes se associaram no início do ano à ONG NYC2012, que quer fazer da cidade a sede dos Jogos Olímpicos de 2012, e planejam colocar abaixo todos os quarteirões entre as ruas 30 e 49 ao longo da Nona Avenida, na área agora conhecida como Hell's Kitchen South ou Wopa (West of the Port Authority).
Mas é o extremo norte da ilha que foi parar no noticiário nos últimos dias. No Harlem, o primeiro bairro negro dos EUA, que vem passando por um renascimento econômico e cultural desde o fim da década passada, acaba de ganhar um morador ilustre.
Bill Clinton, que já foi chamado pelo líder Jesse Jackson de "o mais próximo de um presidente negro que a América teve em todos os tempos", decidiu que seu escritório nova-iorquino será na rua 125, no centro do bairro.
Não sem muita polêmica antes, como tudo o que cerca o ex-presidente. A primeira opção de Clinton era a cara Carnegie Hall Tower, na rua 57, ao lado do Russian Tea Room, onde gastaria US$ 800 mil de aluguel por ano, tudo pago pelo contribuinte.
Depois da grita pública, fechou no Harlem por mais modestos US$ 210 mil, o mesmo que gasta o ex-presidente Ronald Reagan (1981-1989) na Califórnia.
(SÉRGIO DÁVILA)



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