|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Vou voltar para vingar minha família"
DA COORDENAÇÃO DE ARTIGOS
"Vou estudar, ganhar dinheiro
e voltar para vingar a minha família", disse um dos "garotos perdidos" antes de embarcar para os
EUA. Quem conta a história à Folha, por telefone, é Andreas Wolff,
psicólogo e associado à ONG italiana Nossa Casa, que ajudou a
montar uma escola em Kakuma.
"Ao contrário do que parece, a
adaptação desses garotos não trará mais traumas do que eles já viveram até agora. A maioria perdeu os ritos de passagem para a
vida adulta segundo as suas tradições. Talvez isso seja positivo para
que criem uma nova identidade
nos EUA", afirma Wolff.
Ajudados por organizações luteranas e católicas, os garotos estão chegando a suas famílias adotivas em cidades como Baltimore,
Richmond e Filadélfia, na Costa
Leste. Os mais velhos estão indo
para Estados como Michigan e
Dakota do Norte. Os com mais de
18 anos poderão trabalhar.
O serviço de imigração dos EUA
só está permitindo a entrada dos
garotos em "bom estado de saúde", ou seja, pelo menos aqueles
não infectados pelo vírus HIV.
Para Wolff, essa exigência deve
"condenar à morte boa parte dos
refugiados".
O principal problema inicial das
famílias no programa de adoção
não deve ser a saúde física dos
meninos. Larry Yungk, conselheiro do Acnur (Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados), diz que os garotos sentirão
falta da companhia do grupo.
"Eles se juntaram por conta
própria. Tinham traumas comuns e acabaram se tornando algo como uma família", afirma.
Yungk, porém, avaliou as crianças como propensas a uma adaptação "razoável" na sociedade
norte-americana.
Panos Moumtzis, um sueco especializado em apoio psicológico
a crianças traumatizadas pela
guerra, ajuda a ONU na readaptação dos refugiados sudaneses.
"Tentamos fazer com que eles
coloquem para fora as emoções
para então lidar com elas. Demos
papel e lápis e pedimos que desenhassem o que quisessem. A
maioria desenhou corpos boiando em rios, tanques e aviões bombardeando as pessoas. É com lembranças assim que eles terão de lidar pelo resto da vida. Será uma
tarefa árdua para as famílias."
Texto Anterior: África: EUA recebem "garotos perdidos" do Sudão Próximo Texto: Multimídia: Publicitários dizem que marcas são "nova religião" Índice
|