São Paulo, domingo, 04 de março de 2001

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AFEGANISTÃO
Ministro do grupo extremista diz que vários sítios históricos foram destruídos desde quinta; Unesco envia representante
Taleban se gaba de destruição "fácil" e rápida

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O grupo extremista islâmico Taleban, que controla 90% do Afeganistão, disse ontem que já demoliu grandes coleções de estátuas históricas e que está demolindo "pedaço a pedaço" dois famosos Budas gigantes na cidade de Bamiyan (centro).
Apesar de veementes protestos e apelos internacionais, Qudratullah Jamal, ministro da Informação e Cultura do Taleban, disse que vários "ídolos" de madeira e barro foram destruídos em sítios históricos nas Províncias de Herat, Ghazni, Cabul e Nangarhar desde a quinta-feira.
"Eles foram fáceis de quebrar, e a operação não tomou muito tempo", disse o ministro. O líder máximo do Taleban, Mohammad Omar, ordenou a destruição das estátuas na segunda-feira, baseado em leis islâmicas que proíbem a adoração de ídolos, embora o país não tenha população budista.
Jamal disse que o Taleban estava removendo pedaço por pedaço dos dois Budas gigantes esculpidos em penhascos em Bamiyan.
"Nós não queremos poupar nenhuma estátua. Estamos trabalhando neste momento na destruição das estátuas de Bamiyan, mas não sei quanto exatamente já foi destruído." Os jornalistas não tiveram acesso ao local.
O Taleban, que adota uma visão rígida do islamismo, disse na sexta-feira que morteiros e canhões estavam sendo usados para destruir os Budas gigantes. Com alturas de 53 e 36,5 metros, as duas estátuas são os primeiros exemplos de imagens gigantes de Buda, que depois se espalharam pela Ásia.
O Afeganistão tornou-se majoritariamente muçulmano por volta do século 8º. Mas tem muitas relíquias da era pré-islâmica, quando era passagem de budistas da Índia e da China, que construíram vários locais de peregrinação. Só o Museu de Cabul tem cerca de 6.000 estátuas pré-islâmicas.
A decisão de destruir estátuas ocorre quando o país atravessa grave crise, causada pela guerra civil, seca prolongada, frio e fome em várias regiões. Alguns analistas crêem que ela foi tomada como reação ao isolamento do país. Apenas Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos reconhecem o Taleban como governo do Afeganistão.
A Unesco, órgão da ONU para educação, cultura e ciência, enviou o diplomata francês Pierre Lafrance a Cabul (capital) para tentar impedir a destruição.
A Índia, berço do budismo, chamou a destruição de "uma regressão ao barbarismo medieval" e se ofereceu, assim como museus ocidentais, para guardar as peças.



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