São Paulo, domingo, 04 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INTEGRAÇÃO
Segundo as pesquisas, 58% da população deve votar contra a abertura das negociações para entrada do país no bloco
Suíços devem rejeitar hoje de novo entrada na UE

CLAUDIA ASSEF
DE PARIS

Ao votar hoje no referendo que vai decidir os rumos da adesão da Suíça à União Européia (UE), boa parte dos suíços estará hesitante.
"A idéia de acelerar a entrada do país no bloco europeu deverá encontrar obstáculos por toda parte", avalia o historiador Fraçois-Georges Dreyfus, professor de história da construção da UE na Universidade de Paris-Sorbonne. Segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, 58% dos suíços deverão votar contra a abertura imediata de negociações com Bruxelas e 32% a favor.
Entre os opositores da idéia estão empresários, trabalhadores e o próprio governo suíço. "Eles têm medo de que Bruxelas se meta demais nos assuntos do país, que, na opinião deles, funciona muito bem sem a interferência da Europa", diz Dreyfus.

Pressão juvenil
A pressão para que o referendo fosse realizado partiu de jovens socialistas suíços, a quem a imprensa local passou a chamar de "euroturbos".
Se depender deles, a Suíça começará a negociar sua entrada na UE a partir deste ano e não no início de 2003, como o previsto.
Para eles, a obtenção de um "sim" no referendo de hoje dará a Berna, a capital do país, poderes para começar a interferir nas decisões tomadas pelos 15 países que compõem a UE.
Do lado do governo e dos empresários, que se declaram favoráveis a uma adesão mais lenta da Suíça à UE, o julgamento é de que ainda é cedo para abrir negociações que possam acelerar o processo.
"Eles têm mesmo muito medo de serem obrigados a abrir mão de coisas sagradas para eles, como o sigilo bancário", afirma o professor Dreyfus.
"Além disso, há questões como a perda da soberania do país e a limitação do exercício da democracia direta", diz.
Para o professor, a votação do lado alemão do país será bem diferente da votação do lado francês. Nos cantões de fala alemã, acredita ele, os habitantes tendem a votar no partido populista de direita e temem que uma aproximação com a UE os obrigará a pagar mais impostos.

Francófonos
Já os suíços do lado francófono seriam, para Dreyfus, mais favoráveis à entrada da Suíça na UE.
Recentemente, o país viveu uma prévia do tipo de pressão que poderá sofrer caso se torne membro do bloco europeu. A Comissão Européia dirigiu-se ao governo suíço para avisar que esperava do país uma atenção especial com relação à luta contra fraudes no fisco, e um maior vigor na taxação sobre as contas de poupança.
Na semana passada, uma carta do comissário encarregado pelas Relações Exteriores da União Européia deu a entender que a falta de progresso nessas áreas poderia desacelerar a confirmação de sete acordos econômicos bilaterais assinados em 1999 pela UE e pelo governo suíço.
"Esse tipo de receio, de que a UE poderá intervir demais, principalmente nos assuntos econômicos, deverá fazer com que as pessoas votem "não" no referendo", disse Dreyfus.
Em novembro de 2000, os 15 países membros da UE decidiram que passariam a realizar uma troca de informações sobre a taxação de contas de poupança até 2010 e pediram que a Suíça, apesar de não ser integrante do bloco, fizesse o mesmo.
Porém o país respondeu que o segredo bancário não era algo negociável.
O futuro do franco suíço, moeda que atrai os investidores que não querem colocar todo seu dinheiro em dólar ou libras esterlinas, é outra razão que justifica o desinteresse da população na entrada da Suíça no bloco europeu.
"Eles gostam de ter sua própria moeda, sentem que isso traz independência", diz Dreyfus.



Texto Anterior: Afeganistão: Taleban se gaba de destruição "fácil" e rápida
Próximo Texto: Anistia internacional: Campanhas do mês
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.