São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Intensificação da segurança segue crítica de líder xiita; conselho iraquiano revê saldo de mortos para 271

Coalizão reforça fronteira e detém suspeitos

DA REDAÇÃO

Numa aparente reação às críticas feitas pelo principal líder xiita iraquiano após os atentados de anteontem, em Bagdá e Karbala, os EUA decidiram reforçar a segurança nas fronteiras do Iraque. Autoridades americanas e iraquianas crêem que estrangeiros estejam envolvidos nos ataques.
Ontem o comando americano anunciou a prisão de 15 suspeitos de envolvimento nos atentados em Karbala. Segundo o general Mark Kimmit, vice-chefe de operações do Exército, cinco deles falam farsi, língua falada no Irã -o que Kimmit sugeriu como indício, não comprovado, de que os terroristas seriam estrangeiros.
O comando também revisou o saldo de mortos de pelo menos 170 para 143. Já o Conselho de Governo Iraquiano fez uma alteração radical, elevando o número para 271. Nenhum dos dois órgãos explicou como foi feita sua contagem, e o motivo da discrepância seguia sendo uma incógnita ainda na noite de ontem.
Os atentados atingiram multidões de xiitas num dos dias mais importantes de seu calendário religioso: a Ashura, quando é celebrado o martírio de Hussein, neto do profeta Muhammed. Mais de 400 pessoas foram feridas pelos três homens-bomba que agiram na capital e pelos morteiros, pelas bombas e pelo suicida que explodiram em Karbala, que recebia 2 milhões de peregrinos.
O aiatolá Ali al Sistani, principal clérigo xiita do Iraque, emitiu um comunicado após os ataques no qual criticava os americanos por não proverem a segurança necessária no país que ocupam, como prevêem as leis internacionais.
Em aparente resposta, o diplomata americano Paul Bremer, chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, anunciou o aumento da presença de soldados na fronteira.
"Há hoje 8.000 guardas nas fronteiras, e outros estão a caminho", disse. "Estamos adicionando centenas de veículos e dobrando o efetivo da polícia de fronteira em algumas áreas. Os EUA destinaram US$ 60 milhões ao reforço das fronteiras. São medidas práticas e terão efeito."

Estrangeiros
O chefe da APC disse que há sinais crescentes de que "boa parte desse terrorismo venha de fora do Iraque". Bremer citou o jordaniano Abu Musab al Zarqawi, acusado de ter vínculo com a Al Qaeda (a rede responsável pelo 11 de Setembro), como o principal suspeito de estar por trás dos ataques.
Al Zarqawi foi apontado pelos EUA como o autor de uma carta, apreendida em janeiro, que pedia à Al Qaeda ajuda para fomentar uma guerra civil no Iraque, voltando a maioria xiita contra a minoria sunita.
"O nível de organização e o desejo de causar baixas entre os fiéis inocentes são marcas registradas da rede de Al Zarqawi, e nós temos informações comprovando isso", disse o general John Abizaid, chefe do Comando Central Americano. Mas ele não citou as informações às quais se referiu.
Uma carta assinada pelas brigadas Abu Hafs al Masri, grupo ligado à Al Qaeda, negou o envolvimento da rede nos ataques de anteontem, atribuindo-os aos americanos. A autenticidade do texto não foi comprovada.
O documento, que chama os xiitas de "infiéis" (a Al Qaeda é majoritariamente sunita), foi enviado por e-mail ao jornal árabe "Al Quds al Arabi", sediado em Londres, e repassado à agência de notícias Associated Press.
"Dizemos aos muçulmanos que somos inocentes nesse ato", diz.
A rede comandada por Osama bin Laden, no entanto, não tem como praxe reivindicar ou negar a autoria de atentados.

Ataques evitados
A polícia de Basra anunciou ontem a apreensão de um carro com 250 kg de explosivos em um posto de gasolina da cidade, mas Kimmit negou o episódio. Basra fica no sul do país, principal reduto xiita do Iraque.
Em Kirkuk, no norte, a polícia disse ter encontrado 10 kg de bombas ao longo de uma estrada onde ocorreria um protesto xiita hoje. Também foram presos dois homens com explosivos em Najaf, outra cidade sagrada xiita.


Com agências internacionais

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